A Revue Spirite
de 1864
Allan Kardec
(Parte
19)
Damos prosseguimento
nesta edição ao estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1864. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 26
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Dar à luz uma criança
deformada pode ser
considerado uma
expiação?
Sim. A mãe e o pai que
dão à luz seres
desgraçados como os da
camponesa de Lutter –
referida no item 220 do
texto publicado na
edição anterior –
são criaturas
submetidas, de igual
modo, a uma expiação,
porque não existe uma
única infração das leis
de Deus que, cedo ou
tarde, não tenha suas
funestas consequências,
nesta vida ou na
seguinte. Foi exatamente
isso que informou um
Espírito protetor em
mensagem dada à
Sociedade Espírita de
Paris em 29-7-1864.
(Revue Spirite de 1864,
pp. 283 e 284.)
B. A faculdade chamada
de dupla vista é o mesmo
que visão espiritual?
Sim. Kardec diz que a
faculdade da dupla vista
seria mais exatamente
chamada de visão
espiritual, sexto
sentido ou sentido
espiritual, que, como os
demais sentidos, pode
ser mais ou menos obtuso
ou sutil.
(Obra citada, pág. 295.)
C. As pessoas dotadas de
visão espiritual são
médiuns?
Sim e não, conforme as
circunstâncias. A
mediunidade consiste na
intervenção dos
Espíritos; o que se faz
por si mesmo não é um
ato mediúnico.
(Obra citada, pp. 296 a
298.)
Texto para leitura
222. O Espiritismo vem
rasgar esse mistério,
provando que essas almas
deserdadas desde o berço
já viveram antes e
apenas expiam, em corpos
disformes, suas faltas
passadas. (P. 283)
223. A
mãe e o pai que dão à
luz seres desgraçados
como os da camponesa de
Lutter são criaturas
submetidas, de igual
modo, a uma expiação,
porque não existe uma
única infração das leis
de Deus que, cedo ou
tarde, não tenha suas
funestas consequências,
nesta vida ou na
seguinte. (P. 283)
224. Foi exatamente isso
que informou um Espírito
protetor em mensagem
dada à Sociedade
Espírita de Paris em
29-7-1864: “Não creais
que essa mulher (...)
seja vítima do acaso ou
de uma cega fatalidade.
Não: o que lhe acontece
tem sua razão de ser,
ficai bem convencidos”.
“Ela é castigada no seu
orgulho; desprezou os
fracos e os enfermos;
foi dura para com os
seres infelizes, dos
quais desviava os olhos
com desgosto, em vez de
os abarcar com um olhar
de comiseração;
envaideceu-se da beleza
física de seus filhos, à
custa de mães menos
favorecidas; mostrava-os
com orgulho, porque a
seus olhos a beleza do
corpo valia mais que a
da alma; assim, neles
desenvolveu vícios, que
lhes retardaram o
avanço, em vez de
desenvolver as
qualidades do coração.”
(P. 284)
225. Mais um suicídio
foi indevidamente
atribuído pela imprensa
às ideias espíritas.
Filho de um médico, o
suicida contava apenas
dezenove anos quando
desferiu um tiro na
boca. Na semana seguinte
à divulgação da notícia
pelo Siècle, o
Sr. d’Ambel informou
pelas páginas do jornal
Avenir que o
Espiritismo era
completamente estranho
ao ato do rapaz, que,
por haver fracassado em
várias tentativas nos
exames de bacharelato e
temendo ser reprovado
mais uma vez,
suicidou-se em seguida a
uma viva discussão com
seu pai. Na verdade, diz
o Sr. d’Ambel, o moço
não conhecia a doutrina
espírita, que, com
certeza, o teria detido
na rampa fatal, caso a
estudasse. (PP. 284 e
285)
226. Na seção de livros,
a Revue noticia o
relançamento da obra
A Pluralidade dos Mundos
Habitados, revista e
ampliada pelo Sr.
Camille Flammarion, que
tratou da questão da
existência de vida em
outros mundos do ponto
de vista da astronomia,
da física e da filosofia
natural. Sem qualquer
referência ao
Espiritismo, a obra
constitui, ainda assim,
documento valioso por
confirmar a tese
esposada pela doutrina
espírita acerca do
assunto. (P. 286)
227. Encerrando o número
de setembro, Kardec
anuncia o surgimento em
Bordeaux de mais um
periódico espírita: A
Voz de Além-Túmulo,
a quarta publicação
espírita surgida na
mesma cidade, que
contava em sua direção
com o confrade Aug. Bez.
(P. 286)
228. O número de outubro
de 1864 começa com um
artigo a respeito dos
espelhos mágicos,
nome dado a objetos de
reflexos geralmente
brilhantes, como o gelo,
placas metálicas,
garrafas e vidros, nos
quais certas pessoas
veem imagens que lhes
possibilitam responder a
perguntas que lhes são
dirigidas. (P. 289)
229. O fenômeno não é
extremamente raro e pôde
ser observado por Kardec
no cantão de Berne, na
Suíça, onde um camponês
de 64 anos, muito
religioso e com formação
protestante, gozava da
faculdade de descobrir
fontes e de ver num copo
as respostas às
perguntas que lhe
faziam. (PP. 289 e 290)
230. Eis alguns
curiosidades a respeito
do caso: I) O sensitivo
se recusava a responder
às perguntas que
visassem à cupidez ou à
realização de algum
desígnio mau. II) O
mesmo procedimento
adotava se as perguntas
fossem fúteis ou de pura
curiosidade. III) O copo
por ele utilizado era um
copo comum para água,
mas estava sempre vazio:
em nenhuma hipótese ele
o usava para outra
coisa. IV) Quando lhe
faziam alguma pergunta,
ele concentrava a
atenção e a vontade no
assunto proposto,
olhando no fundo do
copo, onde se formavam
de imediato as imagens
das pessoas, que ele
descrevia, física e
moralmente, como o faria
um sonâmbulo lúcido.
(PP. 290 a 292)
231. Depois de relatar
alguns fatos ocorridos
com o sensitivo, Kardec
atesta que ele era
dotado de uma faculdade
especial e, realmente,
via. O exame atento do
fenômeno - diz o
Codificador - demonstra
uma completa analogia
entre sua faculdade e o
fenômeno designado sob o
nome de segunda
vista, dupla vista
ou sonambulismo
desperto. Ela tem,
pois, o seu princípio na
propriedade radiante do
fluido perispiritual,
que permite à alma
perceber, em certos
casos, coisas a
distância. (P. 294)
232. O copo constituía,
no caso, um simples
acessório, porque tal
faculdade é inerente ao
indivíduo e não ao
objeto. Essa é a razão
por que nem todos veem
nos chamados espelhos
mágicos, visto que,
para isto, não basta a
visão corporal; é
preciso ser dotado da
dupla vista, que
seria mais exatamente
chamada visão
espiritual - o sexto
sentido ou sentido
espiritual, de que tanto
se falou e que, como os
demais sentidos, pode
ser mais ou menos obtuso
ou sutil. (P. 295)
233. Criticando a
expressão espelhos
mágicos, que ele
propõe seja substituída
por espelhos
espirituais, Kardec
encerra o artigo
reafirmando que a visão
espiritual é um dos
atributos do Espírito e
constitui uma das
percepções do sentido
espiritual, que se
expande sempre que uma
causa exterior entorpece
os sentidos corpóreos.
As pessoas dotadas de
visão espiritual são
médiuns? Sim e não,
conforme as
circunstâncias. A
mediunidade consiste na
intervenção dos
Espíritos; o que se faz
por si mesmo não é um
ato mediúnico. (PP. 296
a 298)
(Continua no próximo
número.)