MARCELO TEIXEIRA
maltemtx@uol.com.br
Petrópolis, RJ
(Brasil)
As novas
formações
familiares
Há cerca de 20
anos, ocorreu
numa casa
espírita
fluminense o
seguinte
episódio: um
expositor fazia
uma palestra
sobre família.
Em dado momento,
ele disse que se
há só a mãe e o
filho, não é uma
família. Faltava
um elemento: o
pai. Por isso,
mãe e filho não
bastavam para
formar uma
família. No
momento em que
ele dizia isso,
uma moça, mãe
solteira que ia
a um centro
espírita pela
primeira vez,
entrava para
assistir à
palestra e ficou
em pé, olhando
para ele,
extremamente
incomodada com o
que ouvira. E
com toda razão.
Afinal, ela e o
filho, se não
eram uma
família, seriam
o que, então?
Semanas depois,
num treinamento
interno, esse e
todos os outros
expositores
foram
devidamente
orientados a não
fazer esse tipo
de comentário.
Afinal, a
ausência da
figura paterna
não desqualifica
uma família. O
tempo passou, e
pesquisas
recentes
traduzem em
dados o que
todos já sabem:
o perfil da
família mudou.
O educador e
expositor
espírita Álvaro
Chrispino, em um
seminário
intitulado “O
Espírita do
século 21”,
chama atenção,
entre outros
tópicos, para a
necessidade de o
espírita estar
cada vez mais
preparado para
receber famílias
comandadas por
mães solteiras e
pais solteiros,
crianças criadas
por avós, casais
homossexuais que
levam uma vida
digna e
resolveram
adotar uma
criança...
Durante muito
tempo, nos
acostumamos a
crer que família
são pai, mãe,
filhos e demais
parentes. Quando
muitos casais
começaram a se
separar e outras
tantas pessoas
(mulheres e
homens) optaram
por ter filhos
sozinhas,
pensou-se: – Meu
Deus, a família
acabou! Ledo
engano. O
conceito de
família é que
está se
ampliando.
A “Revista O
Globo”, de 12 de
outubro de 2008,
traz, em
reportagem de
capa, a história
do médico Sérgio
D’Agostini, um
bem-sucedido
homem solteiro
de 43 anos,
morador da Zona
Sul carioca.
Sérgio adotou um
menino
recém-nascido,
filho de uma
moradora de rua,
portador de
várias doenças
herdadas dos
pais. Em três
tempos, pôs a
vida do garoto
em dia, mas pôs
a sua de cabeça
para baixo e
descobriu a
saudável rotina
de ser pai
solteiro. A
reportagem cita,
ainda, que já
havia 80 homens
solteiros na
fila da adoção.
Homens que têm
todo o direito
de serem
chamados de
família quando
estiverem
cuidando de seus
filhos
adotivos.
A pergunta 775,
de O Livro
dos Espíritos,
de Allan Kardec,
diz: “Qual
seria, para a
sociedade, o
resultado do
relaxamento dos
laços de
família?”.
Resposta: “Um
agravamento do
egoísmo.” Veja
bem, laços de
família. Há mais
de uma forma de
dar esse laço
firme. E achar
que só existe um
tipo de família
(pai, mãe e
filhos) e torcer
o nariz para
quem não se
enquadra nesse
padrão é
contribuir para
o agravamento do
egoísmo.
Casamentos entre
homem e mulher
com nascimento
de filhos sempre
haverá. E
fazemos votos
que sejam
casamentos
felizes. Mas o
andar da
carruagem humana
está mostrando
que há outros
modelos de
família. E se
há, é porque
pessoas que não
se enquadram
naquilo que se
convencionou
como padrão
querem ser
solidárias, dar
amor, conduzir
uma criança pela
vida...
Como fazemos
parte da grande
família humana,
ajudemos para
que essas novas
formações
familiares sejam
bem acolhidas na
casa espírita.
Marcelo Teixeira
é expositor
espírita, dirigente
do departamento
de divulgação da
União Municipal
Espírita de
Petrópolis (Umep),
jornalista e
publicitário.