VALCI SILVA
valcipsi@terra.com.br
Tupã, SP
(Brasil)
Viver sem drogas
A palavra
”droga” em sua
origem
etimológica
significa “mentira,
embuste”, ou
seja, aquele
que usa drogas
mente a si mesmo,
pois se engana
crendo se
libertar de
situações ou
problemas.
Caro leitor,
como a droga
chega até
alguém? Vejamos
o seguinte
relato de uma
jovem de 14
anos. “Eu
vivia até a
alguns meses
atrás em outra
cidade do estado
de São Paulo,
quando minha mãe
(é filha de pais
separados)
resolveu se
mudar para Tupã
em razão de
problemas na
ordem familiar
local, com
nossos
parentes... Em
aqui chegando,
minha mãe não
conseguiu
trabalho...
Necessitando ir
trabalhar em
outra região,
deixando-nos, a
mim e a um irmão
de 11 anos, sob
os cuidados de
uma família
amiga...
Passamos a nos
ver somente uma
vez por mês, e
nos comunicarmos
por telefone,
todas as
semanas. Após
esses
acontecimentos,
passei a ficar
muito triste,
com ideias muito
estranhas de
solidão e morte.
Eu não me sinto
à vontade para
conversar com a
família que
cuida de nós.
Por algumas
vezes eu já me
embebedei com
cerveja e vinho
em fins de
semanas, e tenho
tido vontade de
experimentar
coisas
diferentes.”
Neste momento do
seu relato lhe
perguntamos do
que é que ela
pensa em
experimentar de
diferente, sendo
a sua resposta:
“eu queria
experimentar
‘drogas mais
fortes’ que me
fizessem
esquecer essa
minha vida ruim
e triste”.
Bem, querido
leitor, esta
narrativa basta
para que
possamos
analisar aquilo
que denominamos
uma “porta de
entrada para as
drogas”.
Em primeiro
lugar analisemos
o “momento
existencial”
desta jovem. Ela
passa por
transformações e
mudanças que lhe
pedem
adaptações,
quais sejam,
mudou-se de
cidade; o pai
está ausente
devido à
separação
conjugal; ela
está morando com
uma “família de
amigos“ (mas que
na verdade lhe
são estranhos
como
familiares);
passou a ter um
grau de
responsabilidade
muito grande,
pois necessita
cuidar da casa e
do irmão mais
novo, que não
lhe obedece,
responsabilidades
estas que não
possuía até bem
pouco tempo
atrás. Não
bastasse tais
fatos, se
encontra em um
momento muito
importante e
difícil de sua
vida: sua
adolescência.
Neste ponto
podemos
questionar o que
é a
adolescência?
Resumidamente
poderíamos dizer
que ser
adolescente
significa: estar
em um período da
existência onde
a carga de
tendências, dos
instintos,
gostos, desejos,
ideais,
sentimentos,
vícios e
virtudes que o
ser carrega
consigo lhe
ocasionará
profundas
transformações
crescentes da
personalidade,
com mudanças
bruscas de
comportamentos e
atitudes em seu
caráter. Nestes
momentos sua
personalidade
revela uma
expansão das
emoções,
instabilidade
emocional (ora
alegre, ora
triste, ora
entusiasmado,
ora
desalentado),
períodos de
revolta,
introspecção,
meditação,
exaltação, um
imenso vigor
físico e
vitalidade das
forças físicas e
psíquicas, muito
idealismo, e
nesta fase
inicia-se o
despertar da
sexualidade,
provocando uma
alteração brusca
na maneira de
ver e conduzir a
própria vida.
Veja, querido
leitor, o
momento
existencial
desta jovem de
nossa história
(verdadeira),
que vive o seu
mais importante
e delicado
momento, o que é
normal em todo
jovem
adolescente, mas
que neste caso
não conta com o
apoio e a
presença da mãe,
figura
importante nas
relações
familiares e,
com a ausência
do pai, que
poderia estar
exercendo o
papel peculiar
de um pai.
Como se encontra
em estado de
angústia e
insegurança, com
toda a sua
realidade do
momento, está
procurando uma
solução para sua
vida e, não se
deparando com
soluções
razoáveis, nem
com a presença
dos pais,
buscou, através
do ato de
embebedar-se,
“saídas” para
seu sofrimento
atual. Esse
vazio produzido
há que ser
preenchido de
algum modo. Como
não dispõe ainda
de maturidade,
apela para “o
combustível”
denominado
“droga”, com o
fim de mitigar
as ansiedades e
angústias,
geradas pelas
frustrações
afetivas e
familiares, além
da peculiaridade
da adolescência
que vivencia.
Essa é, caro (a)
leitor(a), “uma
porta de
entrada” para as
drogas na vida
dos jovens.
No dizer de
Kardec, a “a
educação é o
conjunto de
hábitos
adquiridos”,
e Santo
Agostinho
fala-nos sobre a
missão dos pais:
“a tarefa é
difícil, mas não
impossível; não
exige o saber do
mundo; o
ignorante como o
sábio pode
cumpri-la e o
Espiritismo veio
facilitá-la,
dando a conhecer
a causa das
imperfeições do
coração humano”.
Perguntamos:
Como esta jovem
suportará sua
vida, sem a
presença de um
lar estruturado,
com um mínimo de
amor e
equilíbrio?
“A luta contra a
droga deve estar
baseada numa
concepção
ideológica que
respeite a
VIDA sobre
todas as coisas.
A VIDA,
assim, com
maiúscula e
grifada, num
conceito que
abranja não só
os seres humanos
como também a
natureza em
geral e o meio
ambiente. Como é
importante uma
família e, acima
de tudo,
organizada!”.
Valci Silva, de
Tupã (SP), é
psicólogo
especialista em
dependência
química.