MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
10)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Como o médico do
futuro deverá agir para
sanar as desarmonias do
espírito?
Reportando-se aos
esforços de Freud, que
assinalou a presença das
chagas dolorosas do ser
humano, mas não lhes
estendeu eficiente
bálsamo curativo, o
ministro Clarêncio
explicou que o médico do
porvir, para sanar as
desarmonias do
espírito, precisará
mobilizar o remédio
salutar da compreensão e
do amor, retirando-o do
próprio coração. “Sem
mão que ajude, a
palavra erudita morre
no ar."
(Entre a Terra e o Céu,
cap. XIII, pp. 83 a 85.)
B. O corpo espiritual
modifica-se por força da
lembrança do passado?
Sim. Leonardo Pires, ao
recordar o passado, teve
seu rosto alterado e
fez-se mais jovem.
Clarêncio explicitou o
fenômeno: "Não nos
esqueçamos de que temos
diante de nós o veículo
espiritual, por
excelência vibrátil. O
corpo da alma
modifica-se,
profundamente, segundo o
tipo de emoção que lhe
flui do âmago. Isso,
aliás, não é novidade.
Na própria Terra, a
máscara física altera-se
na alegria ou no
sofrimento, na simpatia
ou na aversão. Em nosso
plano, semelhantes
transformações são mais
rápidas e exteriorizam
aspectos íntimos do ser,
com facilidade e
segurança, porque as
moléculas do perispírito
giram em mais alto
padrão vibratório, com
movimentos mais
intensivos que as
moléculas do corpo
carnal. A consciência,
por fulcro anímico,
expressa-se, desse
modo, na matéria sutil
com poderes plásticos
mais avançados".
(Obra citada, cap. XIII,
pp. 83 a 85.)
C. Antonina tivera
ligação com Leonardo no
passado?
Sim. Antonina fora Lola
Ibarruri, a quem
Leonardo estivera
vinculado por laços de
imenso amor. A mulher
irresponsável de ontem
era hoje mãe amorosa e
digna, que, em face dos
delitos do passado,
atravessava então
aflitivos obstáculos
para viver.
(Obra citada, cap. XIII
e XIV, pp. 85 a 87.)
Texto
para leitura
36. Leonardo
reencontra Lola
- A observação de
Clarêncio fez Hilário
lembrar os esforços de
Freud, ao que Clarêncio
informou: "Freud
vislumbrou a verdade,
mas toda verdade sem
amor é como luz estéril
e fria. Não bastará
conhecer e interpretar.
É indispensável sublimar
e servir. O grande
cientista observou
aspectos de nossa luta
espiritual na senda
evolutiva e catalogou
os problemas da alma,
ainda encarcerada nas
teias da vida inferior.
Assinalou a presença das
chagas dolorosas do ser
humano, mas não lhes
estendeu eficiente
bálsamo curativo. Fez
muito, mas não o
bastante. O médico do
porvir, para sanar as
desarmonias do
espírito, precisará
mobilizar o remédio
salutar da compreensão e
do amor, retirando-o do
próprio coração. Sem mão
que ajude, a palavra
erudita morre no ar".
Acariciando a cabeça do
ancião, o Ministro
pediu-lhe recordasse o
passado, onde adquirira
o remorso que tanto o
martirizava.
"Retrocedamos ao ponto
inicial de teu
sofrimento!... Recorda!
Recorda!...", induziu
Clarêncio. Leonardo
Pires acordou de olhos
transtornados; seu rosto
alterara-se de maneira
sensível; fizera-se
mais jovem. Clarêncio
explicitou o fenômeno:
"Não nos esqueçamos de
que temos diante de nós
o veículo espiritual,
por excelência vibrátil.
O corpo da alma
modifica-se,
profundamente, segundo o
tipo de emoção que lhe
flui do âmago. Isso,
aliás, não é novidade.
Na própria Terra, a
máscara física altera-se
na alegria ou no
sofrimento, na simpatia
ou na aversão. Em nosso
plano, semelhantes
transformações são mais
rápidas e exteriorizam
aspectos íntimos do ser,
com facilidade e
segurança, porque as
moléculas do perispírito
giram em mais alto
padrão vibratório, com
movimentos mais
intensivos que as
moléculas do corpo
carnal. A consciência,
por fulcro anímico,
expressa-se, desse
modo, na matéria sutil
com poderes plásticos
mais avançados".
Leonardo ergueu-se e
parecia animado de
estranha energia, a
clamar: "Lola! Lola!
estás aqui? Sinto-te a
presença... Onde te
ocultas? Ouve-me!
ouve-me!" Foi então que
Antonina, saindo do
quarto, avançou ao
encontro do avô,
estampando súbita
alteração facial. A
mulher fizera-se mais
bela, todavia menos
serena e menos
espiritualizada. Em voz
baixa, o Ministro
elucidou: "Nossa irmã
exige tão somente leve
auxílio magnético para
lembrar-se. Basta-lhe a
emotividade anormal do
reencontro para cair na
posição vibratória do
passado, de vez que
ainda não se encontra
quitada com a Lei".
(Cap. XIII, págs. 83 a
85)
37. Lola roga
perdão a Leonardo
- Aterrada, Antonina
rojou-se de joelhos aos
pés do ancião que se
rejuvenescera e gritou
seu nome. Leonardo,
irradiando ódio e
padecimento
intraduzíveis no olhar,
disse: "Enfim!...
Enfim!..." e prorrompeu
em pranto convulso.
Antonina era Lola
Ibarruri, a quem
Leonardo estava
vinculado por laços de
imenso amor. A mulher
irresponsável de ontem
era hoje mãe amorosa e
digna, que, em face dos
delitos do passado,
atravessava então
aflitivos obstáculos
para viver. Modificada,
Antonina implorou a
Leonardo: "Compadece-te
de mim! compadece-te!"
Leonardo então indagou:
"Lola, donde vens?", mas
a mulher não desejava
lembrar o passado.
Seguiu-se então um
diálogo comovente, em
que Leonardo aludiu à
sua culpa,
informando-lhe que o
remorso é qual monstro
invisível que alimenta
as labaredas da
culpa... Disse-lhe,
assim, que por ela, pelo
amor que nutria por ela,
havia matado,
enredando-se no crime.
"Amei-te e perdi-me",
afirmou Leonardo.
"Trazias nos olhos a
traição disfarçada...
Oh! Lola, por quê, por
quê?..." Ante o doloroso
acento com que ele dizia
essas palavras,
Antonina suplicou-lhe
perdão: "Leonardo,
perdoa-me!... Sofri
muito... Enlouqueceste,
é verdade! Mas, a
perturbação que me
atacou era mais
lastimável, mais
amargosa!... Sabes o que
seja o caminho da mulher
aviltada, entre o
arrependimento e a
aflição? Meditaste,
algum dia, no martírio
do coração feminino,
relegado à penúria e ao
abandono? Refletiste,
alguma vez, na desilusão
e na fome da meretriz
desprezada e doente?"
(Cap. XIII, pág. 85;
cap. XIV, págs. 86 e
87)
38. O caso Lola
Ibarruri -
Diante de Leonardo que
confessava,
arrependido, ter matado
por sua causa, Lola
resumiu os próprios
erros: "Naquele tempo –
alegou a infeliz –, fiz
pior. Exterminei minha
alma... Esposa, troquei
o altar doméstico pelo
mentiroso tablado do
gozo fácil; mãe,
envileci o mandato que
Deus me concedera,
crestando todas as
flores de minha
felicidade!..." Leonardo
replicou: "Pudeste, no
entanto, realizar o
reerguimento que ainda
não consegui... Foste,
em suma, feliz!..."
"Feliz? – bradou
Antonina,
semidesesperada –
acusas-me de infiel,
quando, como tantos
outros, te cansaste de
mim, procurando outras
novidades e outros
rumos!... Vi-me sozinha,
enferma, aniquilada...
Debalde busquei afogar
no vinho do prazer a
horrível impressão do
abismo em que me
precipitara, porque,
quando o desencanto e a
enfermidade me relegaram
à margem da vida,
acordou-se-me a
consciência,
inculpando-me,
desapiedada... A morte
recolheu-me na vala da
miséria, como um carro
de higiene pública
reclama o lixo da
sarjeta... Estarás
habilitado a
compreender-me o
sofrimento em toda a
extensão?!..."
Antonina contou então
que por muitos anos
vagueou aflita, como ave
sem ninho, refugiada no
espinheiro de dor, e
chegou a esmolar
proteção junto daqueles
que lhe haviam sido
afetos da juventude.
Ninguém se recordava
dela... Nesse ponto, a
mulher tinha a fronte
pálida e seu olhar
adquirira a assustadiça
expressão dos enfermos
que a febre torna
dementados. Passados
alguns instantes, ela
exibiu no rosto a
surpresa de quem se
banha num relâmpago de
luz, e continuou: "Não
me cabia recolher uma
gratidão que eu não
semeara... Até que um
dia, senti que me
chamavas com pensamentos
de carinho e de paz...
Rememoravas alguns
traços elogiáveis de
nossa vida, recompondo
na lembrança as festas
que organizávamos em
favor dos combatentes
mutilados... As tuas
divagações, arrancando
ao pretérito as raras
reminiscências felizes
que poderíamos
identificar, caíram
sobre mim como bálsamo
refrigerante... Chorei
aliviada e adormeci em
tua casa, no aconchego
da família que tiveste
a ventura de
constituir..." (Cap.
XIV, págs. 87 e 88)
39. Mecanismo da
regressão de memória
- Antonina interrompeu a
narrativa, possuída de
insuperáveis
impedimentos íntimos, e
Clarêncio a auxiliou
magneticamente na
recuperação das próprias
forças. Leonardo, por
sua vez, informou-a de
que, desde que seu
Espírito fora ocupado
por "ele" (aludindo a
Esteves, sua
vítima), não mais
conseguiu coordenar as
ideias. "Sim, certamente
sou culpado...", afirmou
o infeliz. "Tens
razão... Podias ter
recebido meu concurso...
Não me cabia pensar em
ti como se fosses tão
somente mulher..." Mais
calma, Antonina
renovou-lhe o pedido de
perdão. Sofrera muito,
aprendera duramente.
Procurava sinceramente
olvidar as ofensas que
recebera, da mesma forma
que desejava fossem
esquecidas as ofensas
que praticara contra os
outros... "Não me
reconduzas, pois, ao
passado!...", rogou a
mulher renovada.
"Compadece-te de
mim!..." Coisa curiosa!
Ambos, sob o controle de
Clarêncio, detinham-se
na posição vibratória em
que haviam caído. Por
que não se recordavam do
parentesco que os
reunia? O Ministro
esclareceu:
"Encontram-se ambos
imobilizados em certo
momento do pretérito,
num encontro provocado
por influência
magnética. Em tais
recursos utilizados por
nosso plano, no
tratamento salutar das
moléstias da alma,
determinados centros da
memória se reavivam, ao
passo que outros
empalidecem. As
sensações do presente
dão lugar às sensações
do passado, para efeito
de reajustamento perante
o futuro. O fenômeno,
porém, é momentâneo. A
breves minutos,
regressarão à
consciência normal,
melhorados para a boa
luta". A assistência
prestada por Clarêncio
não permitia à jovem
senhora avançar na faixa
de lembranças. Ao apelo
de Antonina, Leonardo
arrefecera o ímpeto
inicial de
desesperação. Ele
passou então a fitá-la
quase que piedosamente,
mas, longe de albergar
qualquer sentimento
positivo de ordem
superior, arrancou do
próprio íntimo nova onda
de cólera, que lhe
tingiu a máscara
fisionômica. E, cerrando
os punhos, bradou,
desvairado: "Sim, sim,
entendo-te... Foste
suficientemente
infeliz... Mas, por que
trago comigo o fantasma
"dele"? Ter-se-á
convertido num demônio
intangível para
arrasar-me a
existência? Estaremos
no inferno, sem saber,
agarrados um ao outro?
Viverei dentro dele,
quanto ele vive dentro
de mim? Por que me não
permite o verdadeiro
repouso? se procuro
dormir, desperta-me,
cruel; se tento olvidar,
agiganta-se-me no
pensamento!..." Leonardo
ergueu para o teto os
punhos retesos, ensaiou
alguns passos e,
desequilibrado, bradou:
"Esteves, homem ou
diabo, onde estiveres,
em mim ou fora de mim,
corporifica-te e
vem!... Estou pronto!
acertemos a
diferença!... Vítima ou
carrasco, aparece! que
meu pensamento te
encontre e te traga!...
Que as forças do nosso
destino nos reúnam,
enfim, corpo a
corpo!..." (Cap. XIV,
págs. 88 a 90)
(Continua no próximo
número.)