A Revue Spirite
de 1864
Allan Kardec
(Parte
22)
Damos prosseguimento
nesta edição ao estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1864. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 26
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Os Espíritos podem,
por meio da mediunidade,
servir utilmente às
especulações e aos
interesses subalternos?
Não. Quando se soube que
os Espíritos podiam
comunicar-se - lembra
Kardec -, um primeiro
pensamento, aliás muito
natural, foi que eles
pudessem servir
utilmente às
especulações de toda
ordem. Não tardou,
porém, a se reconhecer
que, nesse ponto, só se
obtinham mistificações.
Assim, não existe hoje
um só espírita
esclarecido que perca
tempo em perseguir tais
quimeras, pois todos
sabem que Deus não dá
aos homens semelhantes
meios de enriquecimento
e, por esta razão, não
permite aos Espíritos
revelações desse gênero.
(Revue Spirite de 1864,
pág. 317.)
B. Quem pode ser
considerado verdadeiro
defensor do Espiritismo?
Segundo Kardec, entre os
verdadeiros defensores
do Espiritismo deveriam
colocar-se na primeira
linha todos os que
militam pela causa com
coragem, perseverança,
abnegação e
desinteresse, sem
segunda intenção
pessoal; os que buscam o
triunfo da doutrina pela
doutrina, e os que
provam, por seus
exemplos, que a moral
espírita não é palavra
vã.
(Obra citada, pág. 320.)
C. Em que se apoia e se
fundamenta o
Espiritismo?
O Espiritismo tem sua
fonte nos fatos da
natureza, em fatos
positivos, que se
produzem aos nossos
olhos e a cada instante.
É, pois, resultado da
observação, numa
palavra, uma ciência: a
ciência das relações
entre os mundos visível
e invisível. Ele nada
inventou, porque não se
inventa o que está na
natureza. Newton não
inventou a lei da
gravitação; esta lei
existia antes dele,
embora ninguém a
conhecesse. O
Espiritismo vem, por sua
vez, mostrar uma nova
lei, uma nova força da
natureza: a que reside
na ação do Espírito
sobre a matéria, lei tão
universal quanto a da
gravitação e da
eletricidade. Mas não
procedeu por via de
hipóteses, como o
acusam, e não supôs a
existência do mundo
espiritual para explicar
os fenômenos que tinha
sob as vistas. Ele
procedeu pela via da
análise e da observação;
dos fatos remontou à
causa, e o elemento
espiritual se apresentou
como força ativa, que
ele só proclamou depois
de o haver constatado.
(Obra citada, pp. 322 e
323.)
Texto para leitura
258. Um certo médico de
Zittau, de nome
Berthelen, autor de um
opúsculo sobre as
mesas girantes,
organizou uma sociedade
intitulada
“Associação dos
achadores de tesouros”,
cujo objetivo era cavar
o solo das cidades onde
se presumia existissem
tesouros enterrados. Uma
sonâmbula, Sra. Louise
Ebermann, conduzia as
operações da empresa.
(P. 316)
259. Julgando com essa
notícia lançar o
descrédito sobre o
Espiritismo, os jornais
franceses e estrangeiros
se deliciaram com o
fato. O resultado
foi-lhes, porém,
adverso, porquanto a
repercussão do episódio
acabou levando ao
aumento do número dos
adeptos sérios, os
únicos que contam entre
os espíritas. (P. 316)
260. A
razão disso é simples:
aquele que toma contacto
com a doutrina espírita
aprende desde logo, pela
leitura das obras
espíritas, que os
Espíritos não podem
favorecer nenhuma
pesquisa dessa natureza.
E percebe então que o
noticiário é capcioso e
falta com a verdade, o
que, longe de ser um
mal, torna-se um bem
para a própria doutrina.
(P. 317)
261. Quando se soube que
os Espíritos podiam
comunicar-se - lembra
Kardec -, um primeiro
pensamento, aliás muito
natural, foi que eles
pudessem servir
utilmente às
especulações de toda
ordem. Não tardou,
porém, a se reconhecer
que, nesse ponto, só se
obtinham mistificações.
Assim, não existe hoje
um só espírita
esclarecido que perca
tempo em perseguir tais
quimeras, pois todos
sabem que Deus não dá
aos homens semelhantes
meios de enriquecimento
e, por esta razão, não
permite aos Espíritos
revelações desse gênero.
(P. 317)
262. Em Antuérpia,
visitando uma exposição
de pintura, Kardec teve
sua atenção atraída para
um quadro intitulado:
Cena de interior de
camponeses espíritas,
que retratava num
interior de fazenda três
pessoas em costume
flamengo sentadas em
volta de um enorme cepo,
sobre o qual tinham eles
as mãos postas. Se
excetuarmos o quadro
mediúnico exposto em
Constantinopla
(mencionado na
Revue de julho de
1863), era, segundo
Kardec, a primeira vez
que o Espiritismo
figurava tão claramente
confessado nas obras de
arte. “É um começo”,
observa o Codificador.
(P. 318)
263. Falando aos
espíritas de Bruxelas e
Antuérpia, Kardec disse
que entre os verdadeiros
defensores do
Espiritismo deveriam
colocar-se na primeira
linha todos os que
militam pela causa com
coragem, perseverança,
abnegação e
desinteresse, sem
segunda intenção
pessoal, que buscam o
triunfo da doutrina pela
doutrina e que, por seus
exemplos, provam que a
moral espírita não é
palavra vã e se esforçam
por justificar esta
notável afirmação de um
incrédulo: “Com uma
tal doutrina, não se
pode ser espírita sem
ser homem de bem”.
(P. 320)
264. O Espiritismo tem
sido mais entravado
pelos que o compreendem
mal do que pelos que não
o compreendem
absolutamente e, mesmo,
por seus inimigos
declarados. E o curioso
- segundo Kardec - é que
os que o compreendem mal
geralmente têm a
pretensão de
compreendê-lo melhor que
os outros. (P. 321)
265. Para remediar esses
inconvenientes, ou seja,
para prevenir as
consequências da
ignorância e das falsas
interpretações, é
preciso cuidar da
divulgação das ideias
justas, em formar
adeptos esclarecidos,
cujo número crescente
neutralizará a
influência das ideias
erradas. (P. 321)
266. Um fato capital,
que deve ser proclamado
bem alto: o Espiritismo
não é uma concepção
individual, um produto
da imaginação; não é uma
teoria, um sistema
inventado. Tem sua fonte
nos fatos da natureza,
em fatos positivos, que
se produzem aos nossos
olhos e a cada instante.
É, pois, resultado da
observação, numa
palavra, uma ciência: a
ciência das relações
entre os mundos visível
e invisível. (PP. 322 e
323)
267. O Espiritismo nada
inventou, porque não se
inventa o que está na
natureza. Newton não
inventou a lei da
gravitação; esta lei
existia antes dele,
embora ninguém a
conhecesse. Por sua vez,
o Espiritismo vem
mostrar uma nova lei,
uma nova força da
natureza: a que reside
na ação do Espírito
sobre a matéria, lei tão
universal quanto a da
gravitação e da
eletricidade. Mas não
procedeu por via de
hipóteses, como o
acusam, e não supôs a
existência do mundo
espiritual para explicar
os fenômenos que tinha
sob as vistas. (P. 323)
268. O Espiritismo
procedeu pela via da
análise e da observação;
dos fatos remontou à
causa, e o elemento
espiritual se apresentou
como força ativa, que
ele só proclamou depois
de o haver constatado.
(P. 323)
269. A
ação do elemento
espiritual abre, assim,
novos horizontes à
ciência e lhe dá a chave
de uma porção de
problemas
incompreendidos. Mas, se
a descoberta de leis
puramente materiais
produziu no mundo
revoluções materiais, a
do elemento espiritual
nele prepara uma
revolução moral, porque
muda totalmente o curso
das ideias e das crenças
mais arraigadas e mostra
a vida sob um outro
aspecto, matando a
superstição e o
fanatismo e dando ao
homem um objetivo para o
seu trabalho e os seus
esforços. (PP. 323 e
324)(Continua no próximo
número.)