A Revue Spirite
de 1864
Allan Kardec
(Parte
23)
Damos prosseguimento
nesta edição ao estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1864. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 26
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Que papel Kardec teve
na codificação do
Espiritismo?
Falando aos espíritas da
Bélgica, Kardec disse
que seu papel não foi o
de inventor, nem o de
criador do Espiritismo.
“Vi, observei, estudei
os fatos com cuidado e
perseverança;
coordenei-os e lhes
deduzi as consequências:
eis toda a parte que me
cabe”, arrematou o
Codificador do
Espiritismo.
(Revue Spirite de 1864,
pág. 325.)
B. Qual é o principal
efeito do
arrependimento?
Segundo Kardec, o
Espírito culpado não
compreende realmente a
gravidade de seus erros
senão quando se
arrepende. O
arrependimento traz-lhe
então o pesar e o
remorso, sentimento
doloroso que, no
entanto, é a transição
do mal para o bem, da
doença moral para a
saúde moral. O caso
Jaques Latour comprovou
essa assertiva.
(Obra citada, p. 333.)
C. Que proveito podemos
tirar das
existências passadas se
não lembramos o que
fomos nem o que fizemos?
Essa questão - diz
Kardec - está
completamente resolvida.
De fato, se o mal que
praticamos estiver
apagado e nenhum traço
dele reste, sua
lembrança será inútil.
Se dele ainda restar
algum vestígio, por não
nos havermos corrigido
completamente, podemos
conhecê-lo por nossas
tendências atuais. Basta
então saber o que somos,
sem que seja necessário
saber o que fomos.
(Obra citada, pág. 334.)
Texto para leitura
270. Demonstrando o
Espiritismo, não por
hipótese, mas por fatos,
a existência do mundo
invisível e o futuro que
nos aguarda, ele dá ao
homem a força moral, a
coragem e a resignação,
porque todos passam a
saber que não trabalham
apenas pelo presente,
mas pelo futuro. O homem
tem, assim, uma base
sólida para o
estabelecimento da ordem
moral na Terra, em que a
solidariedade e a
fraternidade deixam de
ser palavras vãs. E,
imbuído dessas ideias,
ele tende a conformar a
elas suas leis e suas
instituições sociais.
(P. 324)
271. Se os detratores do
Espiritismo – dizemos
dos que militam pelo
progresso social, pela
emancipação dos povos,
pela liberdade e reforma
dos abusos – conhecessem
as verdadeiras
tendências do
Espiritismo, em vez de o
atacar, veriam nele a
mais poderosa alavanca
para chegar-se à
destruição dos abusos
que combatem. (P. 325)
272. Tal é, em
resumo, o ponto de vista
sob o qual se deve
encarar o Espiritismo -
disse Kardec -,
concluindo sua alocução
dirigida aos espíritas
da Bélgica, a quem
reiterou que seu papel
não foi o de inventor,
nem o de criador. “Vi,
observei, estudei os
fatos com cuidado e
perseverança;
coordenei-os e lhes
deduzi as consequências:
eis toda a parte que me
cabe”, arrematou o
Codificador do
Espiritismo. (P. 325)
273. Num interessante
artigo biográfico sobre
Méry, publicado pelo
Journal Littéraire
de 25-9-1864,
Pierre Dangeau
afirma que Méry
acreditava firmemente
ter vivido várias vezes
na Terra e se lembrava
das menores
circunstâncias de suas
existências precedentes.
Kardec aproveita o
ensejo para mostrar que
a lei das vidas
sucessivas não é um fato
circunstancial e
isolado, mas abarca a
todas as pessoas e que,
conforme Méry atestava
em suas lembranças, nada
do que adquirimos em
inteligência, em saber e
em moralidade fica
perdido. (PP. 326 a 328)
274. Kardec reitera
ainda, em seu
comentário, os motivos
que, segundo os
Espíritos, dão causa ao
esquecimento de nossas
existências passadas e
afirma que, à medida que
o indivíduo se depura,
os laços materiais são
menos tenazes e o véu
que obscurece o passado
é menos opaco. Desse
modo, a faculdade da
lembrança retrospectiva
segue também o
desenvolvimento do
Espírito. (P. 329)
275. A
Revue traz novas
comunicações de Jaques
Latour. Numa delas, o
Espírito diz que, se os
culpados da Terra
pudessem vê-lo, ficariam
apavorados com as
consequências de seus
crimes. “Que
responsabilidade - diz
Latour - assumem os que
recusam a instrução às
classes pobres da
sociedade! Julgam que
com a polícia e os
guardas podem prevenir
os crimes. Como estão
errados!” (PP. 330 a
332)
276. Latour disse ainda,
arrependido, que se ele
tivesse sido bem guiado
na vida, não teria feito
todo o mal que fizera.
Como seus instintos não
haviam sido reprimidos,
a eles obedeceu, pois
não conhecia freios. “Se
todos os homens -
afirmou Latour -
pensassem bastante em
Deus, ou, pelo menos, se
todos os homens nele
acreditassem,
semelhantes coisas não
mais seriam praticadas.”
(P. 333)
277. Comentando as
diversas comunicações de
Latour, Kardec destaca o
valor do arrependimento
para aquele que erra,
porquanto o Espírito não
compreende realmente a
gravidade de seus erros
senão quando se
arrepende. O
arrependimento traz o
pesar, o remorso,
sentimento doloroso que
é, todavia, a transição
do mal para o bem, da
doença moral para a
saúde moral. O caso
Jaques Latour comprova
essa assertiva. (P. 333)
278. Há, no entanto,
pessoas que perguntam
que proveito pode ser
tirado das existências
passadas, se a gente não
se lembra do que foi nem
do que fez. Essa questão
- diz o Codificador -
está completamente
resolvida. De fato, se o
mal que praticamos
estiver apagado e nenhum
traço dele reste, sua
lembrança será inútil.
Se dele ainda restar
algum vestígio, por não
nos havermos corrigido
completamente, podemos
conhecê-lo por nossas
tendências atuais. Basta
então saber o que somos,
sem que seja necessário
saber o que fomos. (P.
334)
279. Durante a vida,
quando se sabe da
reprovação que acompanha
o culpado, deve-se
agradecer a Deus por
haver lançado um véu
sobre o nosso passado.
Se Latour tivesse sido
condenado há muito tempo
e, assim, resgatado seus
débitos, seus
antecedentes criminais
em nada o ajudariam ante
a sociedade. Conquanto
arrependido, quem o
teria admitido na
intimidade? Ora, os
sentimentos que
manifesta como Espírito
arrependido nos dão a
esperança de que, na
próxima existência
terrena, será um homem
honesto e considerado, e
o véu lançado sobre o
passado lhe abrirá a
porta da reabilitação.
(P. 334)
280. A
Revue divulga
três comunicações
obtidas pela sra.
Delanne em que o
comunicante, o Espírito
de Pierre Legay, se
exprime exatamente como
fazia em vida,
imaginando que ainda
estivesse entre os
encarnados.
Curiosamente, os
Espíritos de Pierre
Legay e do Sr. Colbert,
morto há trinta anos, se
viam e conversavam como
se estivessem no corpo
físico, sem se darem
conta de sua situação.
(PP. 336 a 341)
281. Kardec informa que
os que se acham em
situação idêntica à de
Pierre Legay parecem
mais numerosos do que se
pensa, e não uma
exceção. Temos, assim,
em redor de nós
Espíritos que têm
consciência da vida
espiritual e uma porção
de outros que vivem, por
assim dizer, uma vida
semimaterial,
julgando-se ainda neste
mundo. (PP. 340 e 341)
(Continua no próximo
número.)