MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
13)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Quem era Lina Flores,
pivô do suicídio de
Júlio?
Lina Flores era
descendente de uma das
famílias de Mato Grosso
aprisionadas pelos
paraguaios, na invasão
de dezembro de 1864.
Esteves a conheceu em
casa de respeitável
família que a adotara
por filha. Em janeiro de
1869, com apoio do
Marquês de Caxias,
aproveitando um momento
de trégua, eles se
casaram.
(Entre a Terra e o Céu,
cap. XVII, pp. 106 a
108.)
B. Que motivo levou
Júlio ao suicídio?
Depois de haver traído
Esteves, que era seu
esposo, passando então a
viver com Júlio, Lina
igualmente traiu a
confiança deste que, de
volta a casa,
encontrou-a certo dia
nos braços de Armando.
"Menos forte que eu
mesmo – informou Esteves
–, Júlio esqueceu-se do
revés com que me
dilacerara, semanas
antes, e, cego de
absorvente afeição,
ingeriu grande dose de
corrosivo... Socorrido a
tempo, na caserna,
conseguiu sobreviver,
mas, incapaz de suportar
os males corpóreos
decorrentes da
intoxicação, depois de
alguns dias embebedou-se
deliberadamente e
arrojou-se às águas do
Paraguai,
aniquilando-se,
enfim..."
(Obra citada, cap. XVII,
pp. 109 e 110.)
C. Que ligação havia
entre Esteves, Júlio e
Armando?
Eles eram amigos
inseparáveis na caserna.
Pouco tempo depois do
casamento de Esteves e
Lina, os dois amigos
foram pela primeira vez
em visita ao lar de
Esteves. Colocados à
frente de Lina, ambos se
sentiram, porém,
incompreensivelmente
ligados àquela jovem
bela e simples, cuja
presença exerceu sobre
os dois intraduzível
atração. Júlio foi
tomado por surda paixão,
enquanto Armando, em
respeito a Esteves,
tentou retrair-se. Júlio
insinuou-se junto à
recém-casada, cobrindo-a
de gentilezas, e Lina
acabou envolvendo-se nas
atenções do rapaz,
fazendo-lhe concessões.
"Recordo-me do dia em
que Esteves me procurou,
desolado, comentando o
golpe que recebera...",
relatou Amaro.
(Obra citada, cap.
XVIII, pp. 111 e 112.)
Texto
para leitura
48. O caso Esteves
- Clarêncio, ajudando
Mário Silva a firmar-se
de novo sobre os pés,
perguntou-lhe: "Por que
razão te afeiçoaste à
cantora, com tamanho
desvario? Por que não
atendeste aos avisos da
consciência, que,
decerto, te rogava não
despertasses o ódio
naquele que te
aniquilaria o corpo
físico?" Apresentando a
expressão de um louco,
Mário desferiu uma
gargalhada e, com a
ajuda do Ministro, que
lhe afagava a cabeça
para reavivar-lhe a
memória, relatou que
saíra de Assunção com o
espírito
irremediavelmente
desiludido, ao ser
traído e desprezado por
Lina Flores, sua amiga e
esposa, sua esperança e
razão de ser. Lina, que
era descendente de uma
das famílias de Mato
Grosso aprisionadas
pelo inimigo, na invasão
de dezembro de 1864,
fora conhecida por ele
em casa de respeitável
família que a adotara
por filha. O período de
namoro fora um sonho...
"Ah! quando lhe fitava
os olhos claros e doces,
sentia-me transportado a
céus imensos...",
relembrou o enfermeiro,
cujo nome, na época, era
Esteves. Em janeiro de
1869, com apoio do
Marquês de Caxias,
aproveitando um momento
de trégua, eles se
casaram. Viviam então
tranquilos, como duas
aves entrelaçadas no
mesmo ninho, até que a
apresentou a seus
companheiros Armando e
Júlio. Lina e eles se
fizeram íntimos em pouco
tempo. Toda folga eles a
passavam em sua casa,
como verdadeiros amigos,
unidos por sincera
confiança. Um dia,
porém, de retorno a
casa, Esteves encontrou
Lina e Júlio abraçados
um ao outro, como se o
tálamo conjugal lhes
pertencesse. Não
querendo acreditar no
que via, interpelou a
mulher amada, mas Lina
atirou-lhe no rosto o
mais frio desprezo,
afirmando rudemente que
não podia amá-lo, senão
como irmã que se
compadecesse de um
companheiro
necessitado. O
casamento fora feito
simplesmente para fugir
às humilhações que
experimentava numa terra
estrangeira...
Envergonhado, Esteves
saiu de Assunção, mas
era então uma pessoa
diferente. A segurança
do caráter que
cultivara, brioso, fora
abalada nos alicerces.
Viciou-se, confiou-se
ao álcool e ao jogo. De
militar responsável,
desceu à condição de
aventureiro infeliz. Foi
nesse estado que
encontrou Lola e
Leonardo, não hesitando
em exterminar-lhes a
felicidade. (Cap. XVII,
págs. 106 a 108)
49. Armando surge
em cena - O
Ministro, aproveitando
uma pausa feita por
Mário Silva, indagou-lhe
se nunca mais havia
recebido notícias de
Lina. Exibindo
sarcástico sorriso,
Mário informou que três
meses depois de sua
saída do lar, Lina
igualmente traíra a
confiança de Júlio, que,
de volta a casa,
encontrou-a certo dia
nos braços de Armando.
"Menos forte que eu
mesmo" – informou o
enfermeiro, – Júlio
esqueceu-se do revés
com que me dilacerara,
semanas antes, e, cego
de absorvente afeição,
ingeriu grande dose de
corrosivo... Socorrido a
tempo, na caserna,
conseguiu sobreviver,
mas, incapaz de suportar
os males corpóreos
decorrentes da
intoxicação, depois de
alguns dias
embebedou-se
deliberadamente e
arrojou-se às águas do
Paraguai,
aniquilando-se,
enfim..." Nada mais
soubera acerca de Lina e
Armando... "Sou um poço
de fel. Não posso
modificar-me... Haverá
paz sem justiça e
haverá justiça sem
vingança?", indagou
aquele que fora Esteves.
Clarêncio, com sua voz
calma, considerou,
generoso: "É necessário
esquecer o mal, meu
amigo. Sem aquela
atitude de perdão,
recomendada pelo Cristo,
seremos viajores
perdidos no cipoal das
trevas de nós mesmos.
Sem amor no coração, não
teremos olhos para a
luz". Nesse ponto, Amaro
mostrou-se singularmente
renovado; seu veículo
espiritual parecia
haver regredido no
tempo; revelava-se mais
leve e mais ágil e sua
face impressionava pelos
traços juvenis. Quando o
viu de rosto
metamorfoseado, Mário
bradou entre o ódio e a
angústia: "Armando!
Armando!... Pois és tu?
O Amaro que hoje detesto
é o mesmo Armando de
ontem? onde me encontro?
enlouqueci,
porventura?!..." Não
fora preciso, explicou
Clarêncio, grande
esforço para que Amaro
regredisse no tempo. O
sofrimento reparador
conferiu-lhe à mente e à
sensibilidade recursos
novos. Amaro (o mesmo
Armando à época da
guerra do Paraguai)
procurava estender
braços amigos ao
adversário, mas este
recuou, de repente,
gritando em desespero:
"Não, não! não te
acerques de mim! não me
provoques, não me
provoques!..." O
Ministro interpôs-se e
pediu-lhes calma;
depois, dirigindo-se ao
enfermeiro, disse que
agora era indispensável
que Amaro falasse,
porque a justiça, em
qualquer solução, deve
apreciar todas as partes
interessadas. Mário
então calou-se,
preparando-se para ouvir
o relato de seu antigo
companheiro Armando.
(Cap. XVII, págs. 109 e
110)
50. O relato de
Amaro - Amaro,
cujo semblante era agora
de um jovem, contou que
a madrugada do Ano Novo
de 1869 ficou marcada
para sempre em sua
memória. Vindo de Santo
Antônio, eles deveriam
atacar a capital,
Assunção, mas a
expectativa era
angustiosa. Ele, Esteves
e Júlio eram amigos
inseparáveis na caserna.
Na incerteza do que iria
suceder, Esteves
pediu-lhes, na hipótese
de morrer em combate,
notificar sua morte à
jovem Lina Flores, que
conhecera, dias antes,
em Villeta,
reportando-se com
entusiasmo ao amor que
os ligava e aos seus
projetos futuros. A
capital paraguaia
estava, porém, fatigada
e desprevenida e em
breve todos puderam
comemorar, risonhos, a
vitória. Semanas depois,
Esteves comunicou-lhes o
consórcio com Lina. Na
verdade, ninguém podia
casar-se em campanha,
mas o enlace efetuou-se
às ocultas, sob a bênção
de um sacerdote e com a
tolerância dos
dirigentes da ocupação,
de vez que a noiva era
uma pobre menina
brasileira, desde muito
aprisionada. Em
fevereiro do mesmo ano,
ele e Júlio foram pela
primeira vez em visita
ao lar de Esteves.
Colocados à frente de
Lina, ambos se sentiram,
porém,
incompreensivelmente
ligados àquela jovem
bela e simples, cuja
presença exerceu sobre
os dois intraduzível
atração. Júlio foi
tomado por surda paixão,
enquanto ele, em
respeito a Esteves,
tentou retrair-se. Júlio
insinuou-se junto à
recém-casada, cobrindo-a
de gentilezas, e Lina
acabou envolvendo-se nas
atenções do rapaz,
fazendo-lhe concessões.
"Recordo-me do dia em
que Esteves me procurou,
desolado, comentando o
golpe que recebera...",
relatou Amaro. "Chorou
debruçado nos meus
ombros. Desejava
desaparecer,
aniquilar-se... Fiz-lhe
observar, porém, a
inoportunidade de
qualquer violência..."
(Cap. XVIII, págs. 111 e
112) (Continua no próximo
número.)