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Joias da poesia contemporânea
Ano 3 - N° 136 – 6 de Dezembro de 2009
 

 

Ternura maternal

Carlos Dias Fernandes

 

As paredes da casa em vão procuro,

Quero dizer adeus e não consigo...

Vejo apenas o vulto amargo e amigo

Da morte que me estende o manto escuro.

 

Choro a estirar-me, trêmulo, inseguro;

O leito ensaia a pedra do jazigo...

Padeço, clamo e indago a sós comigo,

Qual pássaro que tomba contra um muro.

 

A névoa espessa enreda o corpo langue.

É o terrível crepúsculo de sangue

Que me tinge de sombra os olhos baços;

 

Mas surge alguém, no caos que me entontece,

É a minha mãe, que alonga as mãos em prece,

Doce estrela brilhando nos meus braços!...

 

II

 

Ave que torna, em chaga, ao brando ninho,

Ouço divina música na sala,

É a sua voz celeste que me embala,

Motes do lar que tornam de mansinho.

 

Ergo-me agora... O corpo é o pelourinho

De que me desvencilho por beijá-la...

“Mãe! Minha Mãe!...” – suspiro, erguendo a fala,

A soluçar de júbilo e carinho.

 

- “Dorme, filho querido! Dorme e sonha!...”

Nossa velha canção terna e risonha

Regressa com beleza indefinida...

 

Tomo-lhe os braços em que me acrisolo

E durmo novamente no seu colo

Para acordar no berço de outra vida.

 

 

Carlos Dias Fernandes nasceu na Paraíba em 20 de setembro de 1875 e faleceu no Rio de Janeiro em 9 de dezembro de 1942. Foi jornalista, romancista, poeta, crítico e autor dramático. Os sonetos acima integram o livro Antologia dos Imortais, obra psicografada pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira.



 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita