Ternura maternal
Carlos Dias Fernandes
As paredes da casa em
vão procuro,
Quero dizer adeus e não
consigo...
Vejo apenas o vulto
amargo e amigo
Da morte que me estende
o manto escuro.
Choro a estirar-me,
trêmulo, inseguro;
O leito ensaia a pedra
do jazigo...
Padeço, clamo e indago a
sós comigo,
Qual pássaro que tomba
contra um muro.
A névoa espessa enreda o
corpo langue.
É o terrível crepúsculo
de sangue
Que me tinge de sombra
os olhos baços;
Mas surge alguém, no
caos que me entontece,
É a minha mãe, que
alonga as mãos em prece,
Doce estrela brilhando
nos meus braços!...
II
Ave que torna, em chaga,
ao brando ninho,
Ouço divina música na
sala,
É a sua voz celeste que
me embala,
Motes do lar que tornam
de mansinho.
Ergo-me agora... O corpo
é o pelourinho
De que me desvencilho
por beijá-la...
“Mãe! Minha Mãe!...” –
suspiro, erguendo a
fala,
A soluçar de júbilo e
carinho.
- “Dorme, filho querido!
Dorme e sonha!...”
Nossa velha canção terna
e risonha
Regressa com beleza
indefinida...
Tomo-lhe os braços em
que me acrisolo
E durmo novamente no seu
colo
Para acordar no berço de
outra vida.
Carlos Dias Fernandes
nasceu na Paraíba em 20
de setembro de 1875 e
faleceu no Rio de
Janeiro em 9 de dezembro
de 1942. Foi jornalista,
romancista, poeta,
crítico e autor
dramático. Os sonetos
acima integram o livro
Antologia dos
Imortais, obra
psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.