MARIA ENY
ROSSETINI PAIVA
menylins@terra.com.br
De Lins, São
Paulo (Brasil)
Amor – afeto
incondicional
sem doações
limitadoras
“A lei do
amor... deverá
um dia matar o
egoísmo sob
qualquer forma
em que ele se
apresente. Pois,
além do egoísmo
pessoal, há
ainda o egoísmo
de família, de
casta, da
nacionalidade.”
(O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
item 9, Capítulo
XI, terceiro
parágrafo
final.)
– Repentinamente
tudo mudou,
dizia a jovem
cujos olhos
brilhavam de
contentamento.
Todos os meus
parentes
passaram a me
tratar com
consideração.
A colega de
trabalho,
curiosa,
indagou:
– A que se deve
semelhante
compreensão dos
parentes?
– À minha
mudança, minha
reforma íntima.
Conversando com
o guia
espiritual Irmã
Hermione, ela me
fez ver que era
eu a culpada dos
desentendimentos
que existiam em
minha família e
que se eu amasse
meus irmãos, mãe
e pai, eles me
amariam.
– Que bom!
Então, seu pai
alcoolista, sua
mãe que não faz
o serviço, seus
irmãos que usam
seus pertences
sem pedir
autorização, que
vivem implicando
com você mudaram
essa forma de
agir?
– Claro que não!
São Espíritos
imaturos e
infantis que me
cumpre
compreender e
aceitar, uma vez
que não nasci
naquela casa por
acaso.
– Entendo!
Quando você
parou de sofrer
porque eles a
usam, porque não
cumprem suas
obrigações e
deixou de
reclamar, a paz
voltou ao seu
coração e à sua
vida. É isso?
– Veja, aprendi
com a irmã
Hermione que o
amor transforma
e estou vendo
isso, com meus
próprios olhos.
O Espírito
Hermione fez-me
ver que a
revolta não leva
a nada. Tenho
que aceitar as
pessoas e
amá-las como
são. Tocadas
pelo imenso
amor, que esse
Espírito
iluminado me fez
descobrir em
mim, tudo se
transforma.
– Bem, parece-me
que o que se
transformou foi
apenas você.
Você deixou de
reagir, encerrou
as cobranças,
desenvolveu o
carinho e
permite que cada
um viva como
quer.
Giane ouvia a
amiga, com
respeito.
Espírita
convicta,
explicara à
amiga que seu
Espírito vivia
aquela situação
na família
tão desajustada
para aprender a
ser
independente.
Viver livre da
aprovação e do
afeto de pessoas
tão egoístas era
a lição de sua
vida. Esse
o desafio, o
teste desta sua
encarnação.
Tentou
explicar-lhe
que,
frequentemente,
situação difícil
é experiência
sem origem em
faltas passadas.
Muitas vezes nós
as solicitamos
para testar
nosso Espírito.
(1)
Estudasse,
alcançando sua
independência
financeira.
Criasse sua vida
própria, seus
objetivos, suas
amizades.
Orientava: é
difícil aceitar
o desamor, no
entanto, aceite,
é essa a sua
lição de vida.
Viva feliz sem
eles, não os
odeie. Ampare-os
dentro do
possível, mas
não os deixe
abusar de seus
direitos.
Liberte-se e
ame-os. Não
permita que
invadam sua
vida, limite-os.
Ao que levaria
esse “amor
submissão,
aceitação
passiva,
resignação”
diante da
exploração e do
desrespeito?
A resposta
evidente: à
maior exploração
e mais
desrespeito.
Ainda tentou:
– Lembra-se de
como conversamos
que o amor
verdadeiro
auxilia as
pessoas a
crescerem, a
assumirem suas
responsabilidades
e respeitarem a
si e aos outros?
Essa forma de
amar, não os
estará
limitando?
– Mas irmã
Hermione me
mostrou que há
um amor além e
superior a
todos. O amor de
Cristo, que é
toda doação
incondicional ao
outro,
independente do
que ele faça.
Luíza ia
argumentar,
precisava
relembrar a
Lucila quanto
haviam
conversado sobre
amor, como
haviam
concordado que o
amor realmente
era
incondicional,
mas, não, doação
incondicional.
No entanto, seu
olhar passeou
pelo rosto da
amiga e atrás
dele viu
claramente, em
outra dimensão,
sua amiga
espiritual,
Lena.
Tranquilamente,
Lena observou:
– Veja a alegria
com que sua
colega demonstra
as velhas
convicções que
estão arraigadas
na visão cristã
das diferentes
religiões,
revestindo-as da
autoridade do
Espírito
Hermione. Tudo o
que fizermos
será inútil. Ela
está fascinada
pela orientação
contrária ao que
sempre
procuramos
passar, eu e
você...
Luíza,
mentalmente,
argumentou:
– Tudo o que
dissemos,
conversamos e
demonstramos em
muitos casos
práticos, onde
ficou? Por que
ela voltou aos
velhos códigos
morais,
católicos de
submissão e
sacrifício pelos
desequilibrados?
Conversamos que
Jesus
ensinava o
empenho, a
renúncia e o
sacrifício pelo
Reino. Nunca
pregou a
submissão ao
outro em nome do
amor.
– A liberdade é
uma conquista
que exige muita
coragem. Por
enquanto, Lucila
estima o ganho
que obtém com o
afeto
interesseiro. A
sensação de ser
boazinha
traz-lhe prazer
maior do que a
sensação de
liberdade. Não
suporta a
independência e
a desilusão de
quem descobre
que nunca foi
amada. Entenda e
aceite, assim
sofrerá menos.
– Ela, porém,
sofrerá muito...
– No entanto,
foi a escolha
que pôde fazer.
Entenderá quando
o sofrimento, a
colheita de
ingratidão, de
desprezo, de
falso carinho
pesarem muito.
Quando a
solidão, embora
com eles,
tornar-se
insuportável,
ela tentará
novos caminhos.
Espere. Enquanto
isso vá fazendo
suas
observações, sem
muita esperança
de que ela
entenda.
Luíza respirou
fundo. Sorriu. A
amiga continuava
falando,
falando, quase
que hipnotizada
pela ilusão
religiosa a que
se atinha.
Hermione, a
orientadora,
Espírito talvez
bondoso, mas sem
real sabedoria,
destruía um
trabalho de
libertação de
muitos meses.
Aguardou que a
outra terminasse
e simplesmente
considerou:
– Vejo, Lucila,
que você
encontrou novo
caminho.
Gostaria que
você me
mantivesse
informada das
mudanças que
conseguiu com
ele em seu lar.
Dentro de alguns
meses me diga
como se sente
caminhando
assim.
Referência:
(1)
A Gênese.
Cap. XI – item
26 e Cap. V-
item 9.