ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Falar ou não
falar
Eis uma questão
muito delicada.
Como agir diante
de
circunstâncias,
fatos, posturas
que denotem
conduta
inadequada?
Quando devemos e
como fazermos
para chamar a
atenção de
alguém por
comportamentos
que comprometem
a segurança e
paz de outras
criaturas, por
exemplo? Ou de
alguém que se
rebela diante
dos critérios de
funcionamento de
uma reunião ou
instituição?
Há que se
considerar que
cada caso é um
caso por si só.
Há agravantes,
atenuantes,
características
próprias e
peculiaridades a
cada situação
que nunca
permitem
estabelecer-se
uma receita
pronta que
resolva todas as
ocorrências. Por
isso recorramos
à Doutrina
Espírita.
O capítulo X de O
Evangelho
segundo o
Espiritismo traz
importante
contribuição ao
estudo do tema.
Kardec o
intitulou Bem-Aventurados
Aqueles que são
Misericordiosos,
inserindo
instruções dos
Espíritos sobre
o perdão, a
indulgência,
reconciliação
com os
adversários e
suas próprias
análises,
inclusive também
sobre o ensino
de Jesus do Não
Julgueis.
Para análise e
reflexão geral,
porém,
transcrevemos
abaixo as
instruções do
Espírito São
Luiz pertinentes
à delicada
questão e
constantes do
final do
referido
capítulo (os
grifos são
nossos):
“(...) É
permitido
repreender os
outros, notar as
imperfeições de
outrem, divulgar
o mal de
outrem?
19. Ninguém
sendo perfeito,
seguir-se-á que
ninguém tem o
direito de
repreender o seu
próximo?
Certamente que não
é essa a
conclusão a
tirar-se,
porquanto cada
um de vós deve
trabalhar pelo
progresso de
todos e,
sobretudo,
daqueles cuja
tutela vos foi
confiada. Mas,
por isso mesmo, deveis fazê-lo
com moderação,
para um fim útil, e,
não, como as
mais das vezes,
pelo prazer de
denegrir. Neste
último caso, a
repreensão é uma
maldade; no
primeiro, é um
dever que a
caridade manda
seja cumprido
com todo o
cuidado
possível. Ao
demais, a
censura que
alguém faça a
outrem deve ao
mesmo tempo
dirigi-la a si
próprio,
procurando saber
se não a terá
merecido. — S.
Luís. (Paris,
1860.)
20. Será
repreensível
notarem-se as
imperfeições dos
outros, quando
daí nenhum
proveito possa
resultar para
eles, uma vez
que não sejam
divulgadas? Tudo
depende da
intenção.
Decerto, a
ninguém é defeso
ver o mal,
quando ele
existe. Fora
mesmo
inconveniente
ver em toda a
parte só o bem.
Semelhante
ilusão
prejudicaria o
progresso. O
erro está no
fazer-se que a
observação
redunde em
detrimento do
próximo,
desacreditando-o,
sem necessidade,
na opinião
geral. Igualmente
repreensível
seria fazê-lo
alguém apenas
para dar
expansão a um
sentimento de
malevolência e à
satisfação de
apanhar os
outros em falta.
Dá-se
inteiramente o
contrário
quando,
estendendo sobre
o mal um véu,
para que o
público não o
veja, aquele que
note os defeitos
do próximo o
faça em seu
proveito
pessoal, isto é,
para se
exercitar em
evitar o que
reprova nos
outros. Essa
observação, em
suma, não é
proveitosa ao
moralista? Como
pintaria ele os
defeitos
humanos, se não
estudasse os
modelos? — S.
Luís. (Paris,
1860.)
21. Haverá casos
em que convenha
se desvende o
mal de outrem? É
muito delicada
esta questão e,
para resolvê-la,
necessário se
torna apelar
para a caridade
bem
compreendida. Se
as imperfeições
de uma pessoa só
a ela
prejudicam,
nenhuma
utilidade haverá
nunca em
divulgá-la. Se,
porém, podem
acarretar
prejuízo a
terceiros,
deve-se atender
de preferência
ao interesse do
maior número. Segundo
as
circunstâncias,
desmascarar a
hipocrisia e a
mentira pode
constituir um
dever, pois mais
vale caia um
homem, do que
virem muitos a
ser suas
vítimas. Em tal
caso, deve-se
pesar a soma das
vantagens e dos
inconvenientes. —
São Luís.
(Paris, 1860.).”
Eis o grande
desafio:
perceber
realmente essa
observação final
da instrução
superior. Daí a
própria
instrução acima
transcrita
destacar: É
muito delicada
esta questão e,
para resolvê-la,
necessário se
torna apelar
para a caridade
bem
compreendida. A
caridade bem
compreendida
engloba,
conforme a
entendia Jesus o
perdão das
ofensas, a
benevolência
para com todos e
a indulgência
para com as
faltas alheias,
conforme ensino
da questão 886
de O Livro
dos Espíritos,
onde Kardec
acrescenta como
comentário
pessoal: “(...)
amar ao próximo
é fazer-lhe todo
o bem que está
ao nosso alcance
e que
gostaríamos nos
fosse feito a
nós mesmos.
(...)”.
Por outro lado,
o tema também é
abordado na
questão 903 de O
Livro dos
Espíritos:
“903. Incorre
em culpa o
homem, por
estudar os
defeitos
alheios?
Incorrerá em
grande culpa, se
o fizer para os
criticar e
divulgar, porque
será faltar com
a caridade. Se o
fizer, para
tirar daí
proveito, para
evitá-los, tal
estudo poderá
ser-lhe de
alguma
utilidade.
Importa, porém,
não esquecer que
a indulgência
para com os
defeitos de
outrem é uma das
virtudes
contidas na
caridade. Antes
de censurardes
as imperfeições
dos outros, vede
se de vós não
poderão dizer o
mesmo. Tratai,
pois, de possuir
as qualidades
opostas aos
defeitos que
criticais no
vosso
semelhante. Esse
o meio de vos
tornardes
superiores a
ele. Se lhe
censurais o ser
avaro, sede
generosos; se o
ser orgulhoso,
sede humildes e
modestos; se o
ser áspero, sede
brandos; se o
proceder com
pequenez, sede
grandes em todas
as vossas ações.
Numa palavra,
fazei por
maneira que se
não vos possam
aplicar estas
palavras de
Jesus: Vê o
argueiro no olho
do seu vizinho e
não vê a trave
no seu próprio”.
Portanto, haverá
casos e casos,
mas sempre a
caridade deverá
pautar nossas
ações, ainda que
para advertir,
afastar ou
orientar alguém.
Muitas vezes nos
depararemos com
pessoas e
situações que
trarão prejuízos
a muitos e o
dever da
caridade impõe
nossa ação de Falar ao
invés de Não
falar. Porém,
sem interferir
no
livre-arbítrio
das criaturas.
E, ao mesmo
tempo, usando da
indulgência,
como ensinam os
Bons Espíritos.
Eis o desafio a
nos ensinar...