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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 142 - 24 de Janeiro de 2010

AYLTON GUIDO COIMBRA PAIVA
paiva.aylton@terra.com.br
Lins, São Paulo (Brasil)
 

Como ser bom

 
Muitas as histórias e parábolas que são apresentadas em livros sobre temas ou livros de autoajuda, e até pela rede da internet, sobre o assunto: como ser bom.

Nelas são apresentados vários tipos de bondade.

Transcreverei uma delas.

“Uma senhora ia fazer uma viagem de avião e, no caminho da sala de embarque, resolveu comprar uma revista e um pacote de biscoito.

Já na sala, sentou-se numa poltrona para descansar e ler um pouco enquanto o voo não era chamado.

Ao lado dela, sentou-se um homem e, quando ela pegou o primeiro biscoito, ele também pegou um. A senhora sentiu-se ultrajada, mas não disse nada e apenas pensou: ‘Que sujeito abusado e atrevido’.

A cada biscoito que ela pegava o homem também pegava um e a senhora ia ficando tão irada que não conseguia reagir, e seu rosto crispado deixava à mostra toda a sua revolta com aquele homem.

Restava apenas um biscoito e ela pensou: ‘O que esse cara vai fazer agora?’

E então o homem pegou o biscoito e partiu-o no meio deixando a outra metade para ela. Ela não suportando mais aquela situação, fechou a revista com fúria, pegou sua bolsa e dirigiu-se ao embarque.

Já dentro do avião, ela sentou-se na sua poltrona e, para sua surpresa, seu pacote de biscoito estava intacto em sua bolsa. A vergonha e sentimento de culpa vieram à tona no vermelho da sua face e não havia mais como se desculpar.

O homem havia dividido os biscoitos dele sem se sentir revoltado ou indignado enquanto ela bufava de ódio por julgar errada a situação.” (Parábolas Eternas – Legrand – E. Soler.)

A conclusão final é assim apresentada:

“Jamais devemos fazer julgamentos de coisas ou pessoas, pois corremos o risco de julgá-las conforme nossas tendências, sempre próprias e parciais”.

A história é interessante e leva a reflexões.

Será que a conclusão derradeira é a mais adequada como exemplo de comportamento?

É “bonitinha e simpática” a atitude do senhor partilhando seus biscoitos com a irada senhora, sem nada dizer-lhe, como diz o texto, para não julgá-la.

É assim que deveremos agir ante o erro, o equívoco, o desrespeito aos nossos direitos e aos direitos da comunidade?

É muito grave a afirmação de que “jamais devemos fazer julgamento de coisas ou pessoas”. Viver assim, só se for com os “anjos no paraíso”.

Como poderemos viver neste mundo sem observarmos, analisarmos e julgarmos pessoas, coisas e situações?

Obviamente, o que não se deve fazer é a “condenação” de alguém “a priori”, sem base e sem as provas de um alegado erro de conduta.

No caso da história relatada, seria o procedimento normal e adequado: quando o homem percebesse que a mulher estava confundindo os pacotes de biscoito, que ele educadamente dissesse a ela o que estava acontecendo, até mesmo se propondo a dividir com ela o referido pacote.

Não haveria mal algum em alertá-la do equívoco que ela estava cometendo e ela não teria ficado tão indignada e depois tão constrangida por sua conduta equivocada.

Dessa forma, o senhor e a mulher estariam sim fazendo análises e julgando a situação que era anômala, objetivando para ela a melhor solução.

Jesus é o exemplo maior que temos de bondade e ele fazia análises e julgamentos, haja vista as histórias relatadas: as admoestações constantes aos fariseus, pelo fanatismo dos rituais exteriores; a mulher pega em adultério; Zaqueu pela sua usura; o moço rico preso aos bens materiais; os vendilhões do templo; a negação de Pedro; a traição de Judas.

Para ser bom, pois, é preciso discernimento que contemple o respeito aos direitos do outro e a defesa dos próprios direitos.

 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita