AYLTON GUIDO
COIMBRA PAIVA
paiva.aylton@terra.com.br
Lins, São Paulo
(Brasil)
Como ser bom
Muitas as
histórias e
parábolas que
são apresentadas
em livros sobre
temas ou livros
de autoajuda, e
até pela rede da
internet, sobre
o assunto:
como ser bom.
Nelas são
apresentados
vários tipos de
bondade.
Transcreverei
uma delas.
“Uma senhora ia
fazer uma viagem
de avião e, no
caminho da sala
de embarque,
resolveu comprar
uma revista e um
pacote de
biscoito.
Já na sala,
sentou-se numa
poltrona para
descansar e ler
um pouco
enquanto o voo
não era chamado.
Ao lado dela,
sentou-se um
homem e, quando
ela pegou o
primeiro
biscoito, ele
também pegou um.
A senhora
sentiu-se
ultrajada, mas
não disse nada e
apenas pensou:
‘Que sujeito
abusado e
atrevido’.
A cada biscoito
que ela pegava o
homem também
pegava um e a
senhora ia
ficando tão
irada que não
conseguia
reagir, e seu
rosto crispado
deixava à mostra
toda a sua
revolta com
aquele homem.
Restava apenas
um biscoito e
ela pensou: ‘O
que esse cara
vai fazer
agora?’
E então o homem
pegou o biscoito
e partiu-o no
meio deixando a
outra metade
para ela. Ela
não suportando
mais aquela
situação, fechou
a revista com
fúria, pegou sua
bolsa e
dirigiu-se ao
embarque.
Já dentro do
avião, ela
sentou-se na sua
poltrona e, para
sua surpresa,
seu pacote de
biscoito estava
intacto em sua
bolsa. A
vergonha e
sentimento de
culpa vieram à
tona no vermelho
da sua face e
não havia mais
como se
desculpar.
O homem havia
dividido os
biscoitos dele
sem se sentir
revoltado ou
indignado
enquanto ela
bufava de ódio
por julgar
errada a
situação.”
(Parábolas
Eternas –
Legrand – E.
Soler.)
A conclusão
final é assim
apresentada:
“Jamais devemos
fazer
julgamentos de
coisas ou
pessoas, pois
corremos o risco
de julgá-las
conforme nossas
tendências,
sempre próprias
e parciais”.
A história é
interessante e
leva a
reflexões.
Será que a
conclusão
derradeira é a
mais adequada
como exemplo de
comportamento?
É “bonitinha e
simpática” a
atitude do
senhor
partilhando seus
biscoitos com a
irada senhora,
sem nada
dizer-lhe, como
diz o texto,
para não
julgá-la.
É assim que
deveremos agir
ante o erro, o
equívoco, o
desrespeito aos
nossos direitos
e aos direitos
da comunidade?
É muito grave a
afirmação de que
“jamais devemos
fazer julgamento
de coisas ou
pessoas”. Viver
assim, só se for
com os “anjos no
paraíso”.
Como poderemos
viver neste
mundo sem
observarmos,
analisarmos e
julgarmos
pessoas, coisas
e situações?
Obviamente, o
que não se deve
fazer é a
“condenação” de
alguém “a
priori”, sem
base e sem as
provas de um
alegado erro de
conduta.
No caso da
história
relatada, seria
o procedimento
normal e
adequado: quando
o homem
percebesse que a
mulher estava
confundindo os
pacotes de
biscoito, que
ele educadamente
dissesse a ela o
que estava
acontecendo, até
mesmo se
propondo a
dividir com ela
o referido
pacote.
Não haveria mal
algum em
alertá-la do
equívoco que ela
estava cometendo
e ela não teria
ficado tão
indignada e
depois tão
constrangida por
sua conduta
equivocada.
Dessa forma, o
senhor e a
mulher estariam
sim fazendo
análises e
julgando a
situação que era
anômala,
objetivando para
ela a melhor
solução.
Jesus é o
exemplo maior
que temos de
bondade e ele
fazia análises e
julgamentos,
haja vista as
histórias
relatadas: as
admoestações
constantes aos
fariseus, pelo
fanatismo dos
rituais
exteriores; a
mulher pega em
adultério;
Zaqueu pela sua
usura; o moço
rico preso aos
bens materiais;
os vendilhões do
templo; a
negação de
Pedro; a traição
de Judas.
Para ser bom,
pois, é preciso
discernimento
que contemple o
respeito aos
direitos do
outro e a defesa
dos próprios
direitos.