Venho da escura
região dos
mortos-vivos, à
maneira de
muitos
vivos-mortos que
se agitam na
Terra.
O
Espiritismo foi
minha grande
oportunidade.
Fui médium.
Doutrinei.
Contribuí para
que irmãos
sofredores e
transviados
recebessem uma
luz para o
caminho. Recolhi
as instruções
dos mestres da
sabedoria e
tentei
acomodar-me com
as verdades que
são hoje o vosso
mais alto
patrimônio
espiritual. Fui
consolado e
consolei.
Doentes,
enfraquecidos,
desesperados,
tristes,
fracassados,
desanimados,
derrotados da
sorte, muitas
vezes se reuniam
junto de nós e
junto de mim...
Através da
oração,
colaborei para
que se lhes
efetivasse o
reerguimento.
Mas, no círculo
de minhas
atividades, a
dúvida era como
que um nevoeiro
a entontecer-me
o espírito e,
pouco a pouco,
deixei-me
enredar nas
malhas de velhos
inimigos a me
acenarem do
pretérito — do
pretérito que
guarda sobre o
nosso presente
uma atuação
demasiado
poderosa para
que lhe possamos
entender, de
pronto, a
evidência... E
esses
adversários
sutilmente me
impuseram à
lembrança o
passado que se
desenovelou,
dentro de mim,
fustigando-me os
germes de
boa-vontade e
fé, assim como a
ventania forte
castiga a erva
tenra.
Enquanto a vida
foi árdua, sob
provações
aflitivas, o
trabalho era meu
refúgio. No
entanto, à
medida que o
tempo funcionava
como calmante
celeste sobre as
minhas feridas,
adoçando-me as
penas, o repouso
conquistado
como que se
infiltrou em
minha vida por
venenoso
anestésico,
através do qual
as forças
perturbadoras me
alcançaram o
mundo íntimo. E,
desse modo, a
ideia da
autodestruição
avassalou-me o
pensamento.
Relutei muito,
até que, em dado
instante, minha
fraqueza
transformou-se
em derrota.
Dizer o que foi
o suicídio para
um aprendiz da
fé que
abraçamos, ou
relacionar o
tormento de um
Espírito
consciente da
própria
responsabilidade,
é tarefa que
escapa aos meus
recursos.
Sei somente que,
desprezando o
meu corpo de
carne, senti-me
sozinho e
desventurado.
Perambulei nas
sombras de mim
mesmo, qual se
estivera
amarrado a
madeiro de fogo,
lambido pelas
chamas do
remorso. Após
muito tempo de
agoniada
contrição,
percebi que o
alívio celeste
me visitava.
Senti-me mais
sereno, mais
lúcido...
Desde então,
porém, estou na
condição daquele
rico da parábola
evangélica,
porque muitos
dos encarnados e
desencarnados
que recebiam
junto de mim as
migalhas que nos
sobravam à mesa
surgem agora,
ante a minha
visão,
vitoriosos e
felizes,
enquanto me
sinto queimar na
labareda
invisível do
arrependimento,
ouvindo a
própria
consciência a
execrar-me,
gritando:
—
Resigna-te ao
sofrimento
expiatório!
Quando te
regalavas no
banquete da luz,
os lázaros da
sombra, hoje
triunfantes,
apenas
conheceram
amarguras e
lágrimas!...
Imponho-me,
assim, o dever
de clamar a
todos os
companheiros
quanto aos
impositivos do
serviço
constante. A
ação infatigável
no bem é
semelhante à luz
do Sol, a
refletir-se no
espelho de nossa
mente e a
projetar-se de
nós sobre a
estrada alheia.
Contudo, no
descanso além
do necessário,
nossa vida
interior passa a
retratar as
imagens obscuras
de nossas
existências
passadas, de
que se
aproveitam
antigos
desafetos,
arruinando-nos
os propósitos de
regeneração.
Comunicando-me
convosco,
associo-me às
vossas preces.
Sou o vosso
Irmão Lima,
companheiro de
jornada, médium
que, por vários
anos, guardou
nas mãos o
archote da
verdade, sem
saber iluminar a
si próprio.
Creio que um
mendigo ulcerado
e faminto à
vossa porta não
vos inspiraria
maior compaixão.
Cortei o fio de
minha
responsabilidade...
Amigos generosos
estendem-me aqui
os braços, no
entanto, vejo-me
na posição do
sentenciado que
condena a si
mesmo, porquanto
a minha
consciência não
consegue
perdoar-se.
Sinto-me
intimado ao
retorno... A
experiência
carnal
compele-me à
volta. Antes,
porém, da
provação
necessária,
visito, quanto
possível, os
ambientes
familiares de
nossa fé,
buscando
mostrar aos
irmãos
espiritistas que
a nossa mesa de
fraternidade e
oração simboliza
o altar do amor
universal de
Jesus-Cristo.
Temos conosco
aquele cenáculo
simples, em que
o Senhor se
reuniu aos
companheiros de
sublime
apostolado...
De todas as
religiões, o
Espiritismo é a
mais bela, por
facultar-nos a
prece pura e
livre, em torno
desse lenho
sagrado, como
sacerdotes de
nós mesmos, à
procura da
inspiração
divina que
jamais é negada
aos corações
humildes, que
aceitam a dor e
a luta por
elementos
básicos da
própria
redenção.
Estou suplicando
ao Senhor me
conceda,
oportunamente, a
graça de
reencarnar-me
num bordel. Isso
por haver
desdenhado o lar
que era meu
templo...
Indispensável
que eu sofra,
para redimir-me,
diante de mim
mesmo. Não
mereço agora o
sorriso e os
braços abertos
de nossos
benfeitores,
perante o libelo
de meu próprio
juízo.
Cabia-me
aproveitar o
tesouro da
amizade,
enquanto o dia
era claro e
quando o corpo
carnal — enxada
divina — estava
jungido à minha
existência como
instrumento
capaz de
operar-me a
renovação.
Ah! meus amigos,
que as minhas
lágrimas a todos
sirvam de
exemplo!... Sou
o trabalhador
que abandonou o
campo antes da
hora justa... O
tormento da
deserção dói
muito mais que o
martírio da
derrota.
Devo
regressar...
Reentrarei pela
porta da
angústia. Serei
enjeitado,
porque
enjeitei.. Serei
desprezado, por
haver desprezado
sem
consideração...
E, mais tarde,
encadear-me-ei,
de novo, aos
velhos
adversários.
Sem a forja da
tentação, não
chegaremos ao
reajuste.
Rogo, pois, a
Deus para que o
trabalho não se
afaste de
minhas mãos e
para que a
aflição não me
abandone...
Que a carência
de tudo seja
socorro
espiritual em
meu benefício e,
se for
necessário, que
a lepra me cubra
e proteja para
que eu possa
finalmente
vencer.
Não me olvideis
nas vibrações de
amizade e que
Jesus nos
abençoe. (Lima)
Mensagem
psicofônica
transmitida por
intermédio de
Francisco
Cândido Xavier
na noite de 12
de agosto de
1954 por antigo
companheiro de
lides espíritas
de Belo
Horizonte. Pai
de família
exemplar,
desfrutava
excelente
posição social
e, por muitos
anos, exerceu os
dons mediúnicos.
Em 1949, como
que minado por
invencível
esgotamento,
suicidou-se sem
razões
plausíveis. A
mensagem foi
extraída do cap.
23 do livro
Instruções
Psicofônicas,
de Francisco
Cândido Xavier. |