ROGÉRIO COELHO
rcoelho47@yahoo.com.br
Muriaé, Minas Gerais (Brasil)
A insofismável realidade
espiritual
A concepção
espírita
equivale a uma
reavaliação do
mundo
“O Espírito é
tudo; o corpo é
simples veste
que apodrece.” -
O Livro dos
Espíritos –
questão 196-a.
Ergastulada nos
limitados
círculos da
matéria, a
Humanidade
esteve por
milênios
apartada dos
transcendentais
painéis do
Espírito. Sem
embargo, uma
secreta e
recôndita
intuição
segredava-lhe
aos “ouvidos
espirituais”
o que
hodiernamente
tornou-se uma
realidade
inconteste: o
Mundo Espiritual
existe; de
lá viemos, para
lá iremos...
Agora o homem
não diz mais
ante a tumba:
“Nec plus
ultra”, vez
que o proscênio
espiritual está
plenamente
descortinado. O
materialismo foi
vencido pela
inconsistência
da matéria que o
sustentava.
A Verdade é
sempre Verdade,
mesmo quando
ainda a
desconhecemos. O
Mundo Espiritual
sempre existiu e
sempre deu
mostras de sua
existência com
manifestações de
Espíritos em
todas as épocas
da Humanidade.
Nós é que
demoramos muito
para perceber a
sua realidade,
por estarmos
sufocados num
emaranhado de
crendices,
superstições,
preconceitos e
presunção.
As portas do
Mundo Espiritual
abrem-se até
mesmo para a
Ciência oficial
dos homens. Após
o surgimento da
Física Nuclear,
cientistas como
Albert Einstein,
Arthur Compton e
outros eminentes
físicos puderam
negar em base
científica o
império absoluto
e exclusivista
da matéria. O
materialismo e o
positivismo se
dissolveram sob
a ação do
cadinho
esfogueante da
razão e em lugar
de ambos impõe-se
a realidade da
Ciência Espírita.
É o que podemos
depreender das
iluminadas
instruções de J.
Herculano Pires
(1).
Já o Mestre
Lionês afirmou
(2):
“(...) O
Espiritismo é a
ciência nova que
vem revelar aos
homens, por meio
de provas
irrecusáveis, a
existência e a
natureza do
mundo
espiritual, bem
como as suas
relações com o
mundo corpóreo.
(...) A Ciência
e a Religião são
as duas
alavancas da
inteligência
humana. Aquela
revela as leis
do mundo
material e esta
as do mundo
moral, tendo, no
entanto, ambas o
mesmo princípio:
Deus;
razão porque não
podem
contradizer-se”.
J. Herculano
Pires explica
(3):
“(...) Como ciência do Espírito, e,
portanto, do
elemento
espiritual
constitutivo do
Universo, o
Espiritismo
procede de
maneira
analítica, no
plano fenomênico.
Mas, ao se
elevar às
conclusões
indutivas,
atinge, natural
e fatalmente, o
plano da síntese.
E esse o motivo
porque Richet
considerou
Kardec
excessivamente
crente, ingênuo,
precipitado...
Para o
fisiologista que
era Richet, a
síntese das
verificações
fenomênicas não
poderia jamais
superar o plano
da realidade
fisiológica.
Teria de ser uma
síntese parcial,
uma conclusão
tirada apenas
dos dados
positivos, que
no caso seriam
os dados
materiais da
investigação.
Para o espírita
Kardec, dava-se
exatamente o
contrário: A
síntese tinha de
ser completa,
uma vez que os
dados materiais
revelavam a
presença do
espiritual, a
sua manifestação.
Impõe-se, neste
caso, a
observação de
Descartes, de
que é mais fácil
conhecermos o
nosso Espírito
do que o nosso
corpo. A
realidade
espiritual nos é
mais acessível,
porque é a da
nossa própria
natureza. A
realidade
material é-nos
estranha e quase
inacessível.
Quando o
cientista da
matéria observa
os fenômenos,
procurando
explicações no
plano dos seus
conceitos
habituais, acaba
emaranhando-se
nas dúvidas e
perplexidades
que aturdiram
tantos
investigadores.
Quando, porém,
como no caso de
William Crookes
ou Alfred
Russell Wallace,
o cientista da
matéria não se
esquece da sua
natureza
espiritual, a
realidade
transparece nos
dados materiais
da investigação.
Nosso
conhecimento das
coisas materiais
é extremamente
mutável, em
virtude da
própria natureza
mutável dessas
coisas. Mas o
nosso
conhecimento de
nós mesmos, ou
das coisas
espirituais, é
estável, e
podemos mesmo
considerá-lo
imutável. Esse
conhecimento nos
é dado por
intuição direta,
por uma
percepção que
coincide com a
própria natureza
do percipiente.
Sujeito e objeto
se confundem no
processo da
relação
cognitiva.
Tocamos de novo
o problema que
dividiu os
filósofos
jônicos e
eleatas, na
Grécia clássica:
a realidade
móvel de
Heráclito e a
estável de Zenon.
O que nos mostra,
mais uma vez, a
acuidade
intuitiva dos
gregos, pois os
dois aspectos
universais
continuam a
aturdir-nos.
Certas pessoas
querem negar a
natureza
científica do
Espiritismo, por
considerarem a
‘crença’
espiritual uma
simples
superstição.
Alegam que desde
as eras mais
remotas os
homens
acreditaram em
Espíritos. Mas
não é o fato de
sempre haverem
acreditado o que
importa, e sim o
fato das
próprias
investigações
científicas
modernas
confirmarem essa
crença. Enquanto,
por exemplo, a
concepção
geocêntrica do
Universo, tão
arraigada, teve
de modificar-se,
diante da
evidência
científica, a
concepção
espiritual do
homem, pelo
contrário,
mostra-se
irredutível. A
ciência espírita
só tem motivos
para firmar-se
nos seus
conceitos, e não
para ceder aos
conceitos
mutáveis das
ciências
materiais”.
Conclui J.
Herculano Pires
(4):
“(...) Julgar
o mundo é avaliá-lo.
A concepção
espírita
equivale,
portanto, a uma
reavaliação do
mundo. Diante
dela, os antigos
valores estão
peremptos,
superados.
Também para a
concepção
materialista, os
antigos valores
tinham perecido.
O materialismo
substituíra os
valores
espirituais e
morais pelos
valores
utilitários. Mas
o Espiritismo
reformula os
dois campos e
modifica a
posição de
ambos. Os
valores
espirituais são
reconduzidos ao
primado do
Espírito, mas os
valores morais e
materiais não
são desprezados
ou subestimados
na antiga
Mística. Há um
novo critério
valorativo: A
lei de evolução.
Este critério
substitui, por
um processo de
síntese
dialética, os
dois critérios
que
anteriormente se
opunham: o
salvacionista e
o pragmático. A
salvação não
está mais na
fuga ao
utilitário, mas
no bom uso do
utilitário, em
favor da
evolução.
(...) Deus criou
o mundo, mas
como e por quê,
ainda não o
podemos saber. O
que sabemos, sem
dúvida possível,
é que o mundo
existe e nós
existimos nele.
A Filosofia
Espírita parte
dessa realidade
existencial,
para investigar
as suas
dimensões, que
não se
restringem ao
simples existir,
mas se ampliam
no evoluir, no
vir-a-ser. O que
sabemos é que o
homem, como
todas as coisas,
evolui, e que o
destino do homem
é transcender-se
a si mesmo.
(...) O homem
não amadurece
como o fruto,
mas como
Espírito. Na
proporção em que
a criança
amadurece, ela
deixa de ser
criança, para
tornar-se adulto.
Assim, o homem,
na proporção em
que amadurece,
deixa de ser
homem – essa
criatura humana,
contraditória e
falível, enleada
nas ilusões da
vida física –
para tornar-se
Espírito. A
morte, em vez de
ser a frustração
do
existencialismo
sartreano, ou o
fim da vida, ou
ainda o momento
de mergulhar no
desconhecido, de
toda a tradição
religiosa,
apresenta-se
como o momento
de maturação e
alforria. Morrer,
como o disse
Victor Hugo, não
é morrer, mas
simplesmente
mudar-se”.
E
acrescentaríamos:
mudar-se para a
condição de
“vida abundante”,
conforme
promessa de
Jesus,
registrada no
capítulo dez,
versículo dez do
Evangelho de
João.
Referências:
(1) PIRES, J.
Herculano. O
Espírito e o
Tempo. 3.ed. São
Paulo:EDICEL,
1979, capítulo
II, item 2.
(2) KARDEC,
Allan. O
Evangelho
segundo o
Espiritismo.
121.ed. Rio [de
Janeiro]: FEB,
2003, cap. V,
itens 5 e 8.
(3) PIRES, J.
Herculano. O
Espírito e o
Tempo. 3.ed. São
Paulo:EDICEL,
1979, capítulo
II, item 3.
(4) PIRES, J.
Herculano. O
Espírito e o
Tempo. 3.ed. São
Paulo:EDICEL,
1979, capítulo
III, item 2, §
6º e 10º.