ADILSON LORENTE
adilsonlorente@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Um ET fala sobre
o amor
Já que
estamos
no final do ano
(*),
aproximando-nos
do aniversário
do Cristo e da
renovação
natural que
procuramos mais
intensamente à
medida que o Ano
Novo
se
aproxima,
gostaria de
refletir um
pouco sobre a
questão
fundamental do
Evangelho, o
amor.
Recentemente,
encontrei um
Extraterrestre
à sombra de uma
árvore lá no
parque,
observando nossa
sofreguidão aqui
na Terra.
Questionei o
ilustre
visitante sobre
a dificuldade do
ser humano para
amar. Com seu
jeito de ET
mineiro, ele
esclareceu:
- Lá de onde
vim, para amar o
outro precisamos
primeiro
aprender a amar
a nós mesmos. Só
podemos dar
aquilo que
temos. Se não
desenvolvemos
nem amor por nós
mesmos, o
próximo
certamente
ficará a ver
navios ou naves
espaciais.
Embora a
resposta me
parecesse
correta, resolvi
provocar o ET.
Já que estávamos
na sombra, sem
fazer nada,
atulhei:
- E vocês que
vêm de fora
acham que nós,
aqui na Terra,
não nos amamos?
Ele olhou para
uma gorda
senhora, que
caminhava com
dificuldade,
suando em bica
debaixo do sol
ardido pelo
efeito estufa
(juro que não
era ninguém do
nosso grupo), e
devolveu a
pergunta:
- Você acha que
aqueles quarenta
quilos a mais
com que ela
desafia a lei da
gravidade são de
amor ou de
desamor?
Já ia responder
que eram quilos
de banha mesmo,
mas fiz um
esforço para não
perder o ilustre
interlocutor.
Difícil não ser
grosso quando
ouvimos o que
incomoda.
Percebendo que
eu estava
prestes a perder
o controle de
minha paciência
franzina, ele
olhou para o
outro lado e
emendou:
- Veja a
expressão
daquele senhor,
com sua cabeça
cheia de
pensamentos de
insegurança e de
desânimo, você
acha que ele
está usando a
inteligência que
Deus lhe deu a
favor ou contra
si mesmo?
Meio sem saída,
de olho no
umbigo, pensei:
- Caramba! Assim
não sobra um.
Coisa ruim e
bobagem são o
que mais se
pensa aqui na
Terra.
Percebendo meu
constrangimento,
ele maneirou.
Então,
procurando
inspiração no
cinismo de
nossos
políticos, fiz
de conta que
estava no
palanque:
- Não é verdade
que todo mundo
aqui adora
imaginar uma
desgraça...
Quando éramos
jovens,
adorávamos ver
filmes de
terror. Hoje,
com mais
experiência, nós
já elaboramos as
cenas em nossa
mente, sob
inspiração do
noticiário.
Assim, o filme
nem precisa ser
lançado em
Hollywood, nem
gastamos na
locadora ou no
camelô.
Produzimos o
drama em nossa
cabeça. O
primeiro bom-dia
que recebemos é
a senha para
dispararmos a
fita, contando
todas as
desgraças
acontecidas e as
que estão por
acontecer. Não é
maldade, já que
nós somos bons
demais. É só
para prevenir e
evitar...,
entende?
Desfraldando
orgulhosamente
minha cara de
pau diante do
incômodo ET, que
só via os nossos
defeitos,
respirei fundo e
resolvi dar-lhe
uma lição.
- Caro senhor
espacial, saiba
que nosso belo
planeta não é só
desgraceira.
Participo de um
grupo de Tai
Chi, onde as
pessoas vivem em
paz e
amorosamente, a
maior parte do
tempo. Nenhuma
das senhoras é
muito adiposa,
todas fazem
exercícios e
vivem de bem com
a vida.
Diante da minha
revelação, seus
olhinhos
brilharam e sua
boca de sapo
coaxou:
- Também conheço
esse grupo de
Tai Chi!
- Conhece?
Puxa! - pensei
comigo - Agora
estou em maus
lençóis. Bem que
minha mãe dizia:
“mentira tem
pernas curtas,
inchadas e
cheias de
varizes...”
Com certo ar de
superioridade e
repleto de
ironia, o ET
cortou suave:
- Então lá na
sua turma de Tai
Chi ninguém
gasta boa parte
do tempo com
reclamações,
críticas, coisas
negativas, sem
grande
importância para
suas vidas?
Respirei fundo,
estufei o peito
e com toda a
cara de pau que
forjei em anos
de jornalismo,
arrematei:
- Puxa, você
realmente
conhece nossa
turma. É tudo
assim. Daquelas
cabecinhas só
saem coisas
boas. E aquelas
boquinhas só
espargem bênçãos
pelo planeta.
São a luz da
Terra, em tempos
de falta de
energia e
escuridão...
Eu não sabia,
mas logo
descobri que o
ET também havia
sido jornalista
no seu planeta
de origem. E com
aquela cara
desenxabida, que
poderia ser
percebida lá dos
anéis de
Saturno,
alfinetou:
- Que bom, né?...
Melhor que a sua
turma de Tai Chi,
só peru de
Natal, bem
temperado,
recheado de
nozes e cozido
em forno de
lenha...
- Pois é –
continuei -,
elas se entregam
amorosamente ao
convívio com
todos os seres
humanos. Sem
nenhuma
restrição que
indique receio
de que os outros
vão abusar delas
ou trazer
qualquer tipo de
problema.
Minhas amigas
são pura
confiança na
vida.
Fazendo-se
convicto,
completou:
- Nem de longe,
no planeta de
onde eu vim, os
relacionamentos
chegam a ser tão
bons assim… Lá
as pessoas às
vezes percebem o
amor como algo
que ameaça a
integridade, a
liberdade ou a
independência
delas. Não
chegam a se
entregar.
Não percebem que
os problemas dos
relacionamentos
que as deixaram
amargas por
muito tempo
decorreram não
do amor, mas da
falta dele.
Não percebem que
quem ama de
verdade não se
constrange nem
se sente vítima
do amor.
Se o amor
reclama
condições
realmente
importantes para
existir, elas
são respeito e
consideração.
Olhando para
mim, agora
carinhosamente,
foi mais fundo:
- Repare que,
quando temos
consideração por
alguém, nossas
atitudes com
essa pessoa são
repletas de
dignidade e de
elegância.
Confiantes em
nossa alma e na
alma dela, pela
observação de
seus gestos, de
sua expressão,
sabemos o que a
magoa.
Respeitamos seu
espaço, sua
maneira de ser e
conseguimos
conviver com ela
aceitando seu
jeito de ser,
sem qualquer
constrangimento.
O amor é
destruído apenas
quando deixa de
haver respeito e
consideração
numa relação.
Entre o amor que
sentimos e o
respeito, o
respeito é mais
importante, pois
ele sustenta o
amor e, quando
não existe, o
destrói.
Não se trata
apenas de
respeito pelo
outro, mas
também por nós
mesmos. Quem não
se respeita, não
expressa amor
verdadeiro.
O fracasso e as
dificuldades nos
relacionamentos
indicam apenas
que as pessoas
estão aprendendo
a amar. São
essas
experiências que
as tornam mais
capazes. Apesar
disso, muitos
guardam apenas
mágoas,
ressentimentos e
rancor dos
parceiros que
escolheram para
realizar esse
aprendizado, o
que impede novas
experiências,
que poderiam ser
bem-sucedidas.
Assim, se fecham
para parentes,
vizinhos, novos
amigos e novos
amores. Passam a
ver os
relacionamentos
como riscos à
sua integridade,
à sua liberdade
e à sua
privacidade.
Passam a viver
num estado de
desamor,
tornando
permanente o
sofrimento que
marcou o fim da
relação.
O amor não
existe para
solucionar
problemas
pessoais,
financeiros ou
mesmo de
solidão. Não
existe também
para melhorar o
status de
solteiros,
viúvos ou
separados. Essas
crenças
equivocadas
nascem do
orgulho e da
vaidade.
Para sermos
amorosos, não
precisamos
fingir afetos,
utilizar ardis
para convencer
aquele que
julgamos amar e
muito menos
dominá-lo com
nossas opiniões.
Esses
procedimentos
são apenas vírus
que contaminam e
adoecem nosso
amor.
O amor precisa
ser vivido com a
alma e não com a
cabeça. A
felicidade é
consequência
apenas de nossa
verdade
interior,
íntegra e
generosamente
compartilhada
com o nosso
próximo.
Também não
precisamos
sofrer ou
enfrentar
grandes
dificuldades
para merecermos
o amor. O
sofrimento e as
dificuldades
revelam apenas
as dificuldades
que temos para
nos entregar ao
amor.
Se estivermos em
harmonia e
atentos,
enxergaremos, no
caminho da vida,
infinitas
possibilidades
de amar e ser
feliz. Esse é o
destino que Deus
nos reservou.
Jesus Cristo,
mestre cujo
aniversário
comemoramos
neste final de
ano, nos mostrou
que é a falta de
amor que nos
conduz ao
sofrimento, à
miséria afetiva
e material. O
amor não produz
sofrimento nem
miséria, e pode
nos livrar
dessas
condições.
Assim como
Jesus, nós somos
centelhas
divinas, criadas
para seguir o
caminho, a
verdade e a vida
criada por Deus,
para que nos
aproximemos cada
vez mais da sua
infinita
bondade.
Não vivemos para
ter um futuro
feliz, mas para
ter um presente
feliz e cada vez
mais harmonioso,
aprendendo amar
cotidianamente.
Sabendo que
deixaríamos de
aproveitar
algumas dessas
oportunidades,
Deus nos deu a
eternidade para
trilharmos esse
caminho.
E já que temos
de ficar com nós
mesmos o tempo
todo, é bom que
aprendamos a ser
boa companhia.
Mais amorosos e
agradáveis.
Capazes de
conviver com a
solidão e de
senti-la como
oportunidade de
ser feliz
consigo mesmo.
Comecemos
aprendendo a
ouvir os
sentimentos
expressos por
nossa alma.
Falemos o que
realmente
pensamos, quando
algo não nos
agrada, jamais
dizendo sim
quando queremos
dizer não.
Tenhamos coragem
de fazer o que
gostamos e de
experimentar o
novo,
acreditando na
possibilidade de
ser feliz.
Se deixarmos de
ser vítimas,
assumindo
integral
responsabilidade
pelo que nos
incomoda,
poderemos
modificar o que
não gostamos. E
não vamos ser
indulgentes,
arranjando
desculpa para o
que não
fizermos.
Preguiça é
preguiça,
acomodação é
acomodação e boa
vontade resolve
praticamente
todos os
problemas.
Paremos também
de querer ser
certinhos ou
perfeitos e
aprendamos a rir
de nossos erros
e imperfeições,
aceitando, com
toda a gratidão,
a humanidade
aperfeiçoável
que Deus nos
deu. De erro em
erro aprendemos
a acertar e nos
damos
oportunidade de
novas
experiências,
sem medo de
cometer erros
novos, que são
justamente os
mais
interessantes
para a nossa
evolução.
O que gostamos
de ser e de
fazer deve
ser sempre mais
importante
do que ser e
fazer o que
outros
gostariam. Quem
gosta de nós
deve nos aceitar
como somos,
desde que não
sejamos
ranzinzas, que
os respeitemos e
lhes tenhamos
consideração.
Afinal, é só
isso que o amor
exige.
Finalmente,
posso concluir
manifestando meu
mais sincero
respeito e
consideração por
todos que me
ensinam a amar a
cada
oportunidade de
convivência.
Que o Cristo
amoroso que
orienta nossas
vidas se
mantenha sempre
vivo em nossos
corações, todos
os Anos Novos.
Graça plena aos
homens e
mulheres de boa
vontade, sejam
eles terrestres
ou
extraterrestres
- como o que nos
inspirou essa
conversa de fim
de ano.
(*) Nota:
Este texto foi
escrito antes do
Natal de 2009.