A despedida da
fundadora do
Hospital do Fogo
Selvagem
D. Aparecida
Conceição
Ferreira
desencarnou no
dia 22 de
dezembro, pela
manhã, aos 95
anos de idade
Nosso país
perdeu no dia 22
de dezembro de
2009 uma
batalhadora, uma
mulher valorosa
que por mais de cinquenta anos
cuidou dos
doentes e também
das crianças –
D.
Aparecida
Conceição
Ferreira
(foto), mais
conhecida como
dona Cida, do
Lar da Caridade
- Hospital do
Fogo Selvagem,
antigo Hospital
do Pênfigo, de
Uberaba-MG.
D. Cida deu
mostras reais de
ser um Espírito
abnegado. Chico
Xavier
disse-lhe, certa
vez, que ela
estava
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tentando
resgatar seus
débitos havia
muito tempo, mas
sem sucesso, até
que, desta vez,
conseguiu seu
objetivo ao
reencarnar
negra, pobre e
cheia de filhos
doentes para
cuidar.
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Os insultos, o
preconceito e os
descasos que ela
recebeu foram
inúmeros. Mas
ela sabia o
porquê, visto
que em suas
conversas dizia
que Chico Xavier
havia lhe
contado que ela
vivera no tempo
das fogueiras
acesas pela
Inquisição, e
aquelas pessoas
também. Um dia
ela lhe
perguntou:
“Chico, o que eu
era?” Ele
respondeu:
“Você, minha
irmã, era a
mandante”.
Quem já visitou
o Hospital do
Fogo Selvagem e
pôde ouvir suas
histórias, sabe
como foi difícil
erguer essa
importante obra,
que ela devia
sobretudo ao
povo de São
Paulo, como
gostava de
enfatizar: “Não
fosse o povo de
São Paulo e
outras cidades
também, mas
principalmente o
povo de São
Paulo, não teria
chegado onde
cheguei”.
Como o trabalho
com os enfermos
começou
Especializada no
tratamento de
doença
contagiosa, D.
Aparecida
abandonou, em 8
de outubro de
1958, seu
trabalho num dos
hospitais da
cidade para
acompanhar doze
vítimas de
pênfigo
foliáceo, o fogo
selvagem. Com os
corpos cobertos
de bolhas,
muitas delas
transformadas em
crostas, elas
receberam alta
do hospital sem
qualquer
perspectiva de
cura. A direção
considerou o
tratamento longo
e caro demais.
A enfermeira,
inconformada,
pediu demissão e
saiu pelas ruas
da cidade
em busca de
abrigo para as
vítimas da
doença
inexplicável.
Febris, algumas
com os pés
descalços, elas
deixaram um
rastro de sangue
pelas calçadas e
terminaram a
via-crúcis sem
ter onde ficar.
As pessoas
apenas olhavam
para o grupo e
aceleravam os
passos, sem
conseguir
disfarçar o
nojo.
D.
Aparecida levou,
então, as doze
pessoas para a
própria casa. Na
época, a doença
era considerada
contagiosa. Os
vizinhos ficaram
apavorados. A
família também.
Seu marido e os
filhos deram o
ultimato:
“Ou nós ou
eles”. Ela lhes
respondeu:
“Vocês já estão
todos grandes e
criados, eles
não têm ninguém;
eu fico com
eles”. Eles
saíram então da
casa, mas depois
voltaram,
compreenderam a
importância de
sua tarefa e
passaram a
ajudá-la.
Os doentes
ficaram na casa
dela quatro
dias, até que
alguém,
comovido, alugou
um barracão a
duas quadras de
distância. A
temporada no
novo endereço
durou o mesmo
período. Quatro
dias depois, a
prefeitura cedeu
um pavilhão no
Asilo São
Vicente de Paulo
para os
enfermos. Eles
poderiam ficar
ali durante dez
dias até
conseguirem novo
abrigo. Os dez
dias se
prolongaram por
dez anos e,
desde a primeira
noite, Aparecida
passou a morar
com as vítimas
do fogo
selvagem.
O trabalho e o
número de
doentes logo se
ampliaram
Em 1959, o
número de
doentes já tinha
quadruplicado.
Em 1960, 187
doentes se
amontoavam na
enfermaria de
Aparecida. Em
1961, o número
subiu para 363.
O pavilhão
do São Vicente
de Paulo ficou
pequeno demais.
A enfermeira pôs
na cabeça uma
ideia fixa: iria
construir um
hospital. Um
conhecido lhe
ofereceu um
terreno por 300
mil. Aparecida
nem pensou duas
vezes. Saiu às
ruas, com seus
doentes, para
pedir ajuda.
Muita gente se
apressava em
lavar e
desinfetar o
chão por onde
eles passavam e,
mesmo diante
deles,
esfregavam com
álcool as grades
tocadas pelas
vítimas do fogo
selvagem.
Apesar da
resistência
geral, ela
conseguiu juntar
o dinheiro.
Comprou o
terreno, abriu
uma cisterna,
cortou árvores e
lançou a pedra
fundamental.
Estava pronta
para começar a
obra. Contudo,
ela tinha caído
numa armadilha e
comprara os
lotes da pessoa
errada. Os
proprietários
eram outros e
estavam
dispostos a
processá-la por
invasão de
propriedade
alheia. E, ainda
pior: ela não
tinha um
documento para
provar o
pagamento do
terreno. Voltou
à estaca zero.
Decidiu, então,
pedir socorro a
Chico Xavier.
Bem relacionado,
ele a encaminhou
a um corretor de
imóveis, que
negociou a
compra com os
proprietários de
verdade. Tudo
sairia por 260
mil cruzeiros.
Em 1964,
Aparecida foi à
capital de São
Paulo para pedir
donativos. Com
doentes ao
redor, ela
começou a
abordar os
transeuntes
embaixo do
viaduto
do Chá.
Resultado: foi
presa por
mendigar em nome
de entidade
fictícia. Ficou
atrás das grades
oito dias até
provar sua
honestidade, com
atestados e
cartas da
Prefeitura,
Câmara de
Vereadores, juiz
e delegado de
Uberaba.
Ela levantou,
por fim, o
prédio, mas
seria vítima de
acusações
constantes, como
a de que se
enriquecia com o
dinheiro
arrecadado. A
cada nova sala,
os boatos se
multiplicavam.
Um dia,
Aparecida pensou
em parar. Ouviu
de Chico, já
acostumado com a
desconfiança
geral, uma
contra-ordem
firme:
–
Se desistir, vão
dizer que roubou
o suficiente.
A conversão de
D. Aparecida ao
Espiritismo
Aparecida, que
não era
espírita, acabou
se aproximando
do Espiritismo.
Numa noite, foi
a um centro
espírita em São
Paulo e sentiu
vontade de sair
de fininho.
Ninguém a
conhecia, mas o
presidente da
sessão chamou
até a mesa a
dirigente do
hospital do fogo
selvagem. Queria
que ela
aplicasse um
passe na
presidente do
centro, vítima
de uma paralisia
repentina, que a
impedia de
andar. Aparecida
nem se moveu.
Nunca tinha dado
passe em
ninguém. O
sujeito devia
estar
mal-informado.
No fim da
sessão, ele
repetiu o
convite. Era o
próprio mentor
espiritual do
centro quem
pedia a ajuda de
Aparecida. Ela
tomou coragem e
se apresentou.
Em seguida,
subiu três
lances de escada
para se
encontrar com a
doente. Todos se
concentraram em
torno da cama.
Aparecida sentiu
algo estranho
nas mãos, no
corpo, na
cabeça. Sentiu
medo. Mesmo
assim, com suas
rezas, realizou
um milagre.
A doente se
levantou no dia
seguinte e se
tornou não só
amiga de
Aparecida como
sua companheira
em várias
campanhas de
assistência aos
doentes do fogo
selvagem. A
ex-enfermeira
mudou. Começou a
aplicar passes
curadores em
seus doentes,
com resultados
surpreendentes.
O Hospital do
Pênfigo
tornou-se mais
tarde o Lar da
Caridade e, além
de vítimas do
fogo selvagem,
passou a atender
os desamparados
em geral, e D.
Aparecida se
transformou em
mais uma
companheira
dileta de Chico
Xavier, baseando
seu tratamento
em valores
fundamentais
para o saudoso
médium: os
doentes deveriam
trabalhar e
estudar, com
disciplina, para
terem melhoras.
A internação
ocorreu poucos
dias antes da
desencarnação
Segundo a
supervisora do
Lar da Caridade,
Sayonara Regina
Abreu, D.
Aparecida havia
sido internada
no Hospital São
José fazia pouco
mais de quatro
dias, com fortes
indícios de
pneumonia. "Ela
já sofria de
problemas no
coração que, de
um tempo para
cá, se tornaram
mais frequentes
que o normal."
Logo que recebeu
a notícia de seu
falecimento,
Divaldo Franco
disse:
"Recebida com
júbilos por
verdadeira
multidão
capitaneada pelo
apóstolo Chico
Xavier, mais uma
estrela retorna
ao zimbório
espiritual para
iluminar a noite
das almas
errantes e
sofredoras na
Terra".
O velório foi
realizado no Lar
da Caridade -
Hospital do Fogo
Selvagem e o
sepultamento
ocorreu por
volta das 11
horas da manhã
do dia
23/12/2009.