MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO
BRAGA
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito
Federal (Brasil)
A
Montanha
No ano recém-findo, o
grande compositor
Roberto Carlos, o “Rei”,
completou 50 anos de
carreira, evento
comemorado com uma
caravana de shows pelo
país inteiro. Roberto,
uma unanimidade
nacional, atravessou
décadas e embalou
gerações, com estilos e
temáticas diversas e com
uma bela produção de
orientação religiosa.
Chico Xavier, o “nosso
Chico”, era um fã de
Roberto Carlos. Conforme
publicado na Revista
Fatos e Fotos de 1973,
em um Show Beneficente
em São Paulo, promovido
pela Comunhão Espírita
Cristã de Uberaba, o
público foi brindado com
um abraço do “Mineiro do
Século” e o “Rei” em
pleno palco. Roberto
nunca escondeu sua
ternura por Chico e
Chico a sua admiração
por Roberto. Em uma
entrevista a que assisti
muito tempo atrás,
lembro-me de perguntarem
a Chico que música ele
mais gostava do
repertório de Roberto
Carlos e ele disse sem
pestanejar: “A
montanha”.
A Montanha realmente é
uma música de uma
vibração singular, que
fala ao coração. Uma
obra-prima que alia
linguagem simples e
profundidade nos
conceitos. Vamos
refletir um pouco sobre
alguns trechos dessa
música, que como não
poderia deixar de ser, é
da dupla Roberto e
Erasmo, em uma breve
homenagem aos 50 anos de
carreira do Rei, mas
também em lembrança ao
nosso saudoso Chico, que
não escolheu essa música
por acaso.
“Eu vou seguir uma luz
lá no alto, eu vou ouvir
Uma voz que me chama, eu
vou subir
A montanha e ficar bem
mais perto de Deus e
rezar.
Eu vou gritar para o
mundo me ouvir e
acompanhar
Toda minha escalada e
ajudar
A mostrar como é o meu
grito de amor e de fé.”
Nesse trecho, a letra da
música nos convida a,
por meio de uma
metáfora, comparar a
nossa vida com a tarefa
de escalar uma montanha
e que quanto mais
caminhamos na senda
evolutiva, mais nos
aproximamos de Deus. Não
o Deus que está no céu
fisicamente e fica mais
próximo à medida que
subimos e, sim, a
aproximação da ideia de
Deus que fazemos ao
longo da nossa caminhada
como Espíritos imortais.
Interessante que o grito
de agradecimento se dá
durante toda a caminhada
e não objetiva os
“ouvidos de Deus” e sim
o mundo, para “me ouvir
e acompanhar”, na busca
de amor e fé. É fazer da
caminhada um ato de
alegria e agradecimento,
convidando a todos a
seguir na estrada do
Cristo.
“Eu vou pedir que as
estrelas não parem de
brilhar
E as crianças não deixem
de sorrir
E que os homens jamais
se esqueçam de
agradecer.”
A música fala de pedidos
que não objetivam as
questões pessoais e sim
de pleitos de bênçãos
voltadas a todos. Ela
pede que os homens
jamais se esqueçam de
agradecer, para que
todos possam sentir
aquela presença infinita
de Deus, nos momentos de
glória e nos momentos de
dor, pois estes fazem
parte do nosso processo
de caminhada rumo a
Deus, até o cume da
montanha.
“Por mais que eu sofra,
Obrigado Senhor, mesmo
que eu chore,
Obrigado Senhor por eu
saber
Que tudo isso me mostra
o caminho que leva a
Você.
Mais uma vez (...)
”
Nesse ponto, refletimos
que o agradecimento não
se restringe apenas aos
momentos em que as
bênçãos se materializam,
e sim também aos
momentos de dificuldade,
e essa compreensão
deriva do entendimento
de Deus como Pai
amantíssimo e que a
prova mostra o caminho
do progresso. A
repetição da expressão
“mais uma vez” na
música lembra-nos que
agradecer deve ser um
hábito, repetido
incessantemente. Um
hábito ativo, convidando
o mundo à caminhada.
Essa música é uma joia
do cancioneiro nacional
popular e traz em sua
letra uma profunda
sabedoria e uma visão da
divindade muito
interessante,
materializando o Deus
Bom e Justo apregoado
por Jesus e defendido na
Doutrina Espírita. A
música também revê o
conceito de
agradecimento, não como
uma retribuição ao Deus
impiedoso e provedor e
sim como uma canção de
pertencimento à obra do
pai, levando a todos
essa mensagem.
Posto isso, só nos resta
agradecer a Deus por
essa música, por Roberto
Carlos, por Chico Xavier
e por tantas outras
bênçãos que povoam a
vida dos brasileiros.