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Crônicas e Artigos
Ano 3 - N° 147 - 28 de Fevereiro de 2010

EDUARDO BATISTA DE OLIVEIRA
ebatistadeoliveira@ig.com.br

Juiz de Fora, Minas Gerais (Brasil)


O criador de Sherlock Holmes


A recém-lançada produção cinematográfica Sherlock Holmes nos dá uma excelente oportunidade para divulgarmos, para quem não a conhece, por meio de um pequeno apanhado biográfico, a vida do importante espírita que foi o seu criador, Sir Arthur Conan Doyle. E o fazemos, tomando por base o trabalho elaborado por Indalício Hildegárdio Mendes (mineiro de Leopoldina) para a revista Reformador, da qual foi o Redator-Chefe. 

Conan Doyle nasceu em 1859, na Escócia. Sua família, conquanto guardasse certos privilégios de nobreza, não era abastada, tanto que ele enfrentou dificuldades para formar-se em Medicina. Seus pais eram católicos severos. Mary Doyle, sua mãe, deu de si o melhor que pôde para plasmar no filho, “ídolo do seu coração”, sua pureza de caráter, franqueza e respeito ao ser humano. Sua máxima era: “Sem temor diante dos fortes e humilde diante dos fracos”. 

Com nove anos, Arthur foi enviado para um colégio de padres jesuítas, um ambiente rigorosamente católico. Ali, sustentava opiniões, mesmo que isso lhe custasse punições, não se abatendo diante dos castigos e olhando de frente aqueles que o puniam. Nessa época, já admirava o escritor inglês Thomas Macaulay, que se dizia agnóstico, quando um dia ouviu um padre irlandês afirmar em público que todo aquele que não era católico iria para o inferno. Esse pormenor aparentemente insignificante marcaria o início de sua futura atitude de abandonar a religião tradicional da família. Conan Doyle não concordava com a afirmação feita pelo padre, pois isso conferia um privilégio aos católicos. Lembrou-se, então, de sua mãe, que dizia: “Jamais acredites no castigo eterno”. Embora católica, não se amoldara a conceitos sectários e irracionais. 

Enquanto estudava medicina, começou a escrever pequenos contos. Sua primeira obra foi publicada antes que ele completasse 20 anos. Concluída a universidade, passou a trabalhar como médico, mas, na ocasião, fez uma queixa à mãe: “O que ganho é menos do que poderia ganhar com a minha pena”. Em 1883, Conan Doyle vibrou de satisfação. Finalmente, teve um texto publicado na rigorosa e exigente Cornhill Magazine. Dois anos depois, completou o curso de doutorado e casou-se pela primeira vez. 

No ano de 1887, travou seu primeiro contato com o Espiritismo. Estava, então, inteiramente preocupado com um novo e delicado assunto: o psiquismo. Havendo renunciado ao Catolicismo, era um materialista mais de superfície, tanto que escreveu que haveria de existir um Criador que tivesse concebido o mundo como um imenso maquinismo. Ao visitar um de seus doentes, o General Drayson, um astrônomo e matemático notável, este lhe falou de alguma coisa chamada “Espiritismo”. Disse a Doyle de suas conversações com um irmão já desencarnado. Doyle, prudente, ouvia, mas nada dizia. Desde então, interessou-se em investigar a possibilidade da existência além da morte. 

Junto com seu amigo Ball, um arquiteto, resolveu iniciar sessões mediúnicas com um médium experimentado. Fazia relatórios pormenorizados das reuniões. Não era do tipo que se deixa convencer sem a obtenção de provas consistentes. E ainda não havia chegado a uma conclusão. 

Muita coisa acontecera depois daquela primeira sessão espírita. Seu êxito literário era crescente. A famosa personagem de seus romances policiais, Sherlock Holmes, havia granjeado tanta popularidade, que Doyle, desejando maior atenção do público para as suas novelas históricas, resolveu matá-lo. Logo após, cedendo ao clamor de milhares de leitores no Reino Unido, na Europa e nos Estados Unidos, viu-se forçado a “ressuscitar” o célebre detetive. 

Em 1901, confessa para amigos que está estudando cuidadosamente as investigações do notável físico William Crookes, de Oliver Lodge e de Frederic Myers acerca da realidade dos fenômenos espíritas. 

Em 1902, considerando os serviços prestados na guerra, as autoridades cogitaram conceder-lhe o título nobiliárquico de Sir. Fiel a seus rígidos princípios, Doyle esclareceu que, se havia sido útil, cumprira apenas o seu dever. “Todo o meu trabalho em favor do Estado se macularia se eu aceitasse uma dessas ‘recompensas’”, afirmou. Contudo, apesar de sua enérgica resistência, acabou acatando a argumentação materna de que a recusa do título significaria uma descortesia com o rei. 

Durante trinta anos, aproximadamente, Doyle buscou uma prova objetiva das comunicações dos Espíritos. Finalmente, conseguiu encontrá-la, numa mensagem de Malcolm Leckie que o impressionou profundamente, uma vez que mencionava fatos de caráter pessoal, somente do conhecimento dele e de Lily Loder-Symonds, sua amiga, que havia perdido três irmãos na guerra, além de um amigo, Leckie. Comentou Doyle: “As mensagens estavam cheias de pormenores militares que a moça ignorava”. 

A partir de 1917, Doyle passou a proferir conferências espíritas, expondo e analisando os fenômenos psíquicos. Nunca mais deixou essa importante atividade de divulgação do Espiritismo-Religião.  

Em 1918, publicou a obra A Nova Revelação, na qual escreveu o seguinte: “O toque do telefone é coisa em si mesma pueril, mas pode-se dar que seja a chamada para uma comunicação de vital interesse. Afigurou-se-me que todos esses fenômenos eram toques de telefones que, sem significação em si mesmos, bradavam aos homens: ‘Levantai-vos! Alerta! Atendei! Estes sinais são para vós outros! Eles vos previnem da mensagem que Deus vos quer enviar!’ O que tem valor real é a mensagem, não os sinais”. Em sua obra, Doyle manifesta convicção na explicação espírita para as manifestações paranormais estudadas a esmo durante o século XIX. “A revelação – afirma ele – anula a ideia de um inferno grotesco e de um céu fantástico, por conceber uma elevação progressiva na escala da vida, sem mudanças monstruosas que num instante nos transformem em anjos ou demônios”. 

Sua convicção foi além. Para receber o título de Par (Peer) do Reino Unido da Grã-Bretanha, que é a maior distinção a que um homem pode aspirar no Império Britânico, foi-lhe imposta a condição de renunciar às suas crenças espíritas. Confrontando a todos, e ao sectarismo vigente, permaneceu fiel à fé que abraçara e que manteve até seus últimos dias na Terra. Compreensivo, não se revoltou contra aqueles que o criticaram e o atacaram por causa disso. Achava que eles ainda não haviam sido alcançados pela revelação que lhe iluminara o espírito, nem haviam feito as pesquisas e as experiências a que ele se dedicara exaustivamente. Disse à esposa: “Toda minha vida veio culminar no Espiritismo. É o mais grandioso fato que existe no mundo”. 

Certa feita, na Austrália, Doyle teve de suportar venenosas considerações de um reverendo a respeito do Espiritismo. Entre muitas sandices lançadas contra a “nova revelação”, o reverendo acusava o Espiritismo de ser obra do demônio e os espíritas de terem firmado um pacto com este. Encarando a questão, Doyle escreveu: “O melhor exemplo é o do Cristo, que, quando os fariseus lhe fizeram essa imputação, respondeu-lhes: Conhecê-los-eis pelos seus frutos. Não posso compreender a mentalidade de quem pensa que é coisa do demônio o querer provar a existência da vida além-túmulo, para poder assim refutar os materialistas. Se isso é obra do demônio, então parece que ele se reformou”. 

Muita gente pergunta se Doyle era médium. Pelo menos, médium intuitivo, podemos afirmar que sim. Ele mesmo, respondendo a seus leitores, que lhe pediam mais contos de Sherlock Holmes, dizia: “Só posso escrever o que me chega do Além”. 

De 1925 a 1930, foi Presidente Honorário da International Spiritualist Federation, além de Presidente da Aliança Espírita de Londres e Presidente do Colégio Britânico de Ciência Espírita. Dentre suas obras, destacam-se dois volumes de A História do Espiritismo. 

Em 7 de julho de 1930, partia da Terra um dos Espíritos mais nobres e valorosos que a Humanidade tem conhecido.  

 


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 Revista Semanal de Divulgação Espírita