WEB

BUSCA NO SITE

Edição Atual
Capa desta edição
Edições Anteriores
Adicionar
aos Favoritos
Defina como sua Página Inicial
Biblioteca Virtual
 
Biografias
 
Filmes
Livros Espíritas em Português Libros Espíritas en Español  Spiritist Books in English    
Mensagens na voz
de Chico Xavier
Programação da
TV Espírita on-line
Rádio Espírita
On-line
Jornal
O Imortal
Estudos
Espíritas
Vocabulário
Espírita
Efemérides
do Espiritismo
Esperanto
sem mestre
Divaldo Franco
Site oficial
Raul Teixeira
Site oficial
Conselho
Espírita
Internacional
Federação
Espírita
Brasileira
Federação
Espírita
do Paraná
Associação de
Magistrados
Espíritas
Associação
Médico-Espírita
do Brasil
Associação de
Psicólogos
Espíritas
Cruzada dos
Militares
Espíritas
Outros
Links de sites
Espíritas
Esclareça
suas dúvidas
Quem somos
Fale Conosco
 
 
Entrevista Espanhol Inglês    
Ano 3 - N° 147 - 28 de Fevereiro de 2010

KATIA FABIANA FERNANDES
kffernandes@hotmail.com
Londres, Inglaterra (Reino Unido)
 

Manuel Portasio: 

“O Espiritismo é a minha fortaleza inquebrantável” 

O estudioso e palestrante espírita paulista, que mora desde 2005 em Londres, fala sobre o movimento espírita inglês e
 outras questões doutrinárias

 

Na edição desta semana temos a alegria de apresentar a entrevista com o caro confrade Manuel de Oliveira Portasio Filho (foto). Trabalhador incansável na seara espírita, Manuel é também sinônimo de simpatia e dedicação, o que é reconhecido por aqueles que o conhecem. Dono de uma voz mansa e de uma capacidade incrível de repassar os ensinamentos espíritas, é trabalhador do Solidarity Spiritist Group, de Londres, onde vive há cinco anos. Nesta entrevista ele nos fala, entre outros assuntos, sobre suas preferências literárias, sobre seu ponto de vista sobre questões relevantes da Doutrina Espírita  e  declara seu amor pela

obra Paulo e Estêvão.   
 

O Consolador: Onde você nasceu?  

Em São Paulo, Capital, ao tempo em que ainda era a “São Paulo da garoa”, nos idos de agosto de 1951. 


O Consolador: Onde reside atualmente?
 

No Norte de Londres, a capital do Reino Unido.  

O Consolador: Que fato o levou a mudar-se para Londres? 

Estive em Londres de janeiro a fevereiro de 2004, para algumas palestras. Vim, vi e gostei... Fiz amigos, senti que havia um lindo campo de trabalho. Apaixonei-me pela cidade e voltei para ficar, em março de 2005. 

O Consolador: Qual é sua formação escolar? 

Sou advogado, formado pela Universidade de São Paulo, e atuei durante 30 anos como profissional liberal, a maior parte desse tempo na área do Direito de Família. 

O Consolador: Que cargos você já exerceu no Movimento Espírita?

Comecei minhas atividades espíritas na Federação Espírita do Estado de São Paulo (Feesp), onde concluí o curso de Expositor no ano de 1988. Em 1989, já comecei a expor na Área de Ensino da própria Feesp. Desde então, atuei em todas as áreas da Feesp e em várias funções, mas primordialmente na Área de Ensino, onde fui Diretor de Cursos e Expositor.  Nos últimos 12 anos, até vir para Londres, fui expositor do curso de Filosofia Espírita e atuei na Área de Assistência Espiritual, onde era passista. Além disso, fiz palestras em vários Centros Espíritas da Capital, em algumas cidades do Interior do Estado e em alguns Estados do Brasil. 

O Consolador: Atualmente, qual é sua atividade? 

Atualmente sou um modesto trabalhador do Solidarity Spiritist Group, onde ocupo a função de Assistente do Depto. de Ensino, expositor, palestrante e passista. Além disso, tenho feito palestras nos outros Grupos Espíritas de Londres. 

O Consolador: Quando você teve seu primeiro contato com o Espiritismo? 

Meu primeiro contato com o Espiritismo deu-se ao tempo em que fazia o curso de Direito no Largo de São Francisco, no Centro de São Paulo. Quando saía do curso para um escritório de advocacia que ficava exatamente atrás do prédio da faculdade, passava em frente a uma banquinha de livros usados que estava colocada junto à parede lateral do edifício da grande academia de direito e, sempre interessado por livros, parava para examinar o que havia ali para venda. Então, me deparava com obras de Allan Kardec na sua prateleira mais alta e ficava encantado com aquele nome impresso em dourado na capa dos livros. 

O Consolador: Houve algum fato ou circunstância especial que haja propiciado esse contato? 

No caso que referi, penso que foi uma simples coincidência, mas que me ligou ao nome de Allan Kardec, desde o primeiro momento. Depois, em 1975, conheci uma advogada que era espírita de berço e comentava sobre coisas que lia nos livros espíritas. Em 1982, numa excursão a Foz do Iguaçu, conheci uma senhora que trabalhava num centro espírita no Rio de Janeiro e me enviou os primeiros livros espíritas para minha leitura, entre eles, O Livro dos Espíritos, pelo qual senti amor à primeira vista. Em 1987, entrei nos cursos da Feesp e, em 1989, comecei a minha tarefa na seara do Mestre, muito timidamente, diga-se de passagem. 

O Consolador: Qual foi a reação de sua família?  

Minha família somente tomou conhecimento de minha adesão definitiva ao Espiritismo quando passei a trabalhar na Feesp. Minha mãe ficou surpresa, e perguntou-me quanto me pagavam para dar aulas naquela casa. E mais surpresa ficou quando eu disse que era um trabalho voluntário, gratuito. Ela hoje, porém, apoia totalmente o meu trabalho.  

O Consolador: Dos três aspectos do Espiritismo - ciência, filosofia e religião - qual o que mais o atrai? 

Gosto da Doutrina Espírita como um todo indissociável, mas tenho uma ligeira inclinação para o aspecto filosófico, pois ele penetra todas as áreas do conhecimento humano. 

O Consolador: Que autores espíritas mais lhe agradam?  

Para mim, Kardec está em primeiríssimo lugar. Depois dele, gosto muito de Léon Denis, Herculano Pires e Hermínio Miranda. Dos autores de obras mediúnicas, destaco, sem sombra de dúvida, Chico Xavier, mas também aprecio muito Yvonne Pereira e Divaldo Franco. 

O Consolador: Que livros espíritas que tenha lido você considera indispensáveis ao confrade iniciante?  

O Livro dos Espíritos e O Evangelho segundo o Espiritismo, antes de quaisquer outros; O que é o Espiritismo, O problema do ser, do destino e da dor (a depender do nível cultural do iniciante) e Paulo e Estêvão

O Consolador: Há algum livro espírita em especial que você considera, digamos, o seu preferido? Por quê? 

Paulo e Estêvão, por toda a exemplificação de que ele é portador, mormente a partir do despertar de Saulo, às portas de Damasco. É uma história tocante, dotada de ensinamentos profundos e encorajadores, para os momentos mais críticos da nossa existência.  

O Consolador: Como trabalhador atuante e dedicado a proferir palestras e dar cursos, qual é sua apreciação sobre a importância do estudo da Doutrina? 

O próprio Espírito da Verdade, no cap. VI de O Evangelho segundo o Espiritismo, encareceu a sua necessidade, ao dizer: “Espíritas: amai-vos, eis o primeiro ensinamento; e instruí-vos, eis o segundo”. O estudo é essencial; sem ele, jamais seremos verdadeiros espíritas, nem nos transformaremos no “homem novo” preconizado por Jesus. 

O Consolador: As divergências doutrinárias em nosso meio reduzem-se a poucos assuntos. Um deles diz respeito ao chamado Espiritismo laico. Para você, o Espiritismo é uma religião?     

Não é uma religião, no sentido comum da palavra, desde que inteiramente desprovido de rituais, sacramentos, casta sacerdotal e suas hierarquias, cerimônias e privilégios... O próprio Kardec, na Revista Espírita de 1868, mês de dezembro, afirmou que o Espiritismo é uma religião, sem sombra de dúvida, e complementou: “no sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto...”. Isso significa que o Espiritismo é uma religião no sentido interior, sem as práticas exteriores das religiões tradicionais. Prevalece nele mais o sentimento de religiosidade, atributo do espírito, do que o sentido formal de religião. 

O Consolador: Certa vez, em uma de suas palestras, você disse que muitas pessoas ainda vão ao centro espírita como se fossem à missa no domingo de manhã. Você pode explicar melhor o que disse? 

É verdade, porque muitos de nós ainda trazemos hábitos muito fortes, ligados às nossas práticas religiosas do passado, com todo o seu dogmatismo, e para adentrar a Doutrina Espírita, que é puramente racional e nos estimula a repensar os nossos comportamentos atávicos, alguns ainda precisam passar pelo processo de desvinculação gradual, que é um tanto complexo. 

O Consolador: Outro tema em que a prática espírita às vezes diverge está relacionado com os chamados passes padronizados, propostos na obra de Edgard Armond. Embora saibamos que o mais comum seja a imposição de mãos, tal como recomenda Herculano Pires, qual a sua opinião e como é o passe aplicado na casa espírita em que você trabalha?  

De fato, o próprio Herculano Pires era contra o passe padronizado. Afirma ele que o passe espírita é simplesmente a imposição de mãos, como o fazia Jesus. Com todo o respeito, penso que a padronização se aplica aos componentes de um trabalho de assistência espiritual e não às casas espíritas, que a rigor não estão sujeitas aos ditames de um órgão regulador. Num grupo de trabalho, todos devem aplicar o passe de uma mesma forma, para que nenhum tarefeiro se diferencie do outro, nem seja o preferido, ou preterido, dos assistidos da casa espírita em que milita.

Aqui em Londres, nos grupos que já visitei, o passe aplicado é a imposição de mãos, inclusive no Solidarity Spiritist Group, casa onde trabalho. Devido às limitações de espaço e de tempo, as casas espíritas londrinas trabalham todas de forma semelhante. Se amanhã, ou depois, as coisas se modificarem e for preciso criar outros tipos de passes, penso que o espírito de padronização deve sempre nortear a formação dos novos grupos. No frigir dos ovos, é a direção da casa espírita que deve orientar os seus trabalhadores.  

O Consolador: Como você vê a discussão em torno do aborto e o papel do Movimento Espírita quanto a esse assunto?   

Penso que a tarefa do Espiritismo está dirigida à consciência daqueles que buscam a Doutrina, nas casas espíritas e em seus cursos. Fora desse âmbito, representantes do Espiritismo têm sido chamados a opinar numa questão ou noutra, a expor um ou outro tema, inclusive esse a que você se refere, pelo respeito que a Doutrina Espírita alcançou, graças aos exemplos edificantes de Chico Xavier e outros. Com isso, os espíritas têm atuado em várias frentes ultimamente e acho que isso já é um grande avanço. Ademais, têm surgido canais de televisão e emissoras de rádio espíritas que atingem um grande público fora do meio espírita, onde a questão tem sido tratada mais abertamente. Além disso, livros e artigos de jornais têm exposto o ensinamento doutrinário a respeito desse tema e até nos meios políticos tem havido a atuação de entidades espíritas, levando a posição doutrinária sobre essa temática. Então penso que isso já está de muito bom tamanho.

Aqui no Reino Unido, já está difícil regularizar as casas espíritas, devido ao rigor das leis que regem a questão. Imagine então pensar na atuação dos espíritas junto às autoridades governamentais para debater esse assunto... Ademais, trata-se de uma sociedade extremamente liberal, mormente no caso do aborto, na qual o próprio sistema de saúde favorece a prática, fornecendo medicamentos para que a mulher pratique o ato por si mesma, em sua própria casa, correndo por conta e risco dela, exclusivamente, todas as consequências advindas dessa prática condenável. 

O Consolador: Você tem contato com o movimento espírita brasileiro? Considera-o atuante, ou falta nele algo que favoreça uma melhor divulgação da doutrina? 

Considero o movimento espírita brasileiro como o mais atuante em todo o planeta. Ele tem penetrado nas mais variadas camadas da sociedade brasileira, principalmente nas mais cultas, nas universidades e nos órgãos de classe dos mais diversos profissionais liberais, e ali tem feito escola. Acho que nada falta, absolutamente, no sentido da mais ampla divulgação doutrinária e os meios de comunicação de massa têm ajudado muito nesse movimento de atuação social intensa.

O Consolador: Quando e como se originou o movimento espírita na Inglaterra?

 

Pelo que sei, após a desencarnação de Sir Arthur Conan Doyle, no ano de 1930, o Espiritismo ficou esquecido aqui no Reino Unido. Mas, já ao tempo de Kardec e mesmo após a sua desencarnação, apareceram aqui grandes médiuns e pesquisadores que ficaram conhecidos por lidarem com o fenômeno espírita. No final da década de 1980 - há mais ou menos vinte, portanto - o Espiritismo ressurgiu aqui, graças ao pioneirismo da Sra. Janet Duncan e ao seu grande amor pela Doutrina. Na década de 1990, foi a vez de os brasileiros e portugueses aqui residentes criarem novos grupos, que continuam se multiplicando nos dias de hoje. Penso que o momento ainda é de preparação do terreno para o futuro e estudo da Doutrina em mais larga escala, como nunca antes. Atualmente, existem somente em Londres cerca de 8 grupos espíritas atuantes e alguns ainda em fase de formação. 

O Consolador: Como é a aceitação dos ingleses em relação à Doutrina? 

Sinto que a aceitação da Doutrina nos dias de hoje, mormente entre as pessoas jovens, é muito grande. A cada semana vemos surgir novos frequentadores no Solidarity, e alguns já vêm com vontade de colaborar na casa, estudar e participar fraternalmente de tudo. 

O Consolador: Como você vê o nível de criminalidade e violência que parece aumentar em todo o mundo, e como nós, espíritas, podemos cooperar para que essa situação seja revertida? 

Penso sempre que Deus está no comando de tudo, através de suas leis e desígnios sábios e abrangentes. A criminalidade de hoje é a consequência de nossas ações no passado. Para os envolvidos com ela, há sempre uma razão para que seja assim. São as nossas tendências, por um lado, contra as nossas dívidas cármicas, por outro, a transformação do mundo, que será, porém, consequência da transformação moral de cada um de nós. Ao Espiritismo cabe conscientizar cada um sobre seus deveres e responsabilidades, através da prática dos ensinos de Jesus. Sem isso, continuaremos a vivenciar a situação calamitosa de hoje por mais um longo tempo.  

O Consolador: A preparação do advento do mundo de regeneração em nosso planeta já deu, como sabemos, seus primeiros passos. Daqui a quantos anos você acredita que a Terra deixará de ser um mundo de expiação e de provas, passando plenamente à condição de mundo de regeneração, em que, segundo Santo Agostinho, a palavra amor estará escrita em todas as frontes e uma equidade perfeita regulará as relações sociais? 

Pelo que sabemos, a espiritualidade não trabalha com limitações de tempo, de modo que não se pode precisar o número de anos em que isso ocorrerá. Só para o homem o tempo é importante, mas não para o Espírito. Kardec já dizia que o processo de transformação do mundo já havia começado no século anterior ao do advento do Espiritismo. Portanto, a fase de transição de um estado a outro já está no seu terceiro século de duração. Quanto tempo mais isso demandará, depende de cada um de nós, do nosso esforço para nos melhorarmos efetivamente.

O Consolador: Em face dos problemas que a sociedade terrena está enfrentando, qual deve ser a prioridade máxima dos que dirigem atualmente o movimento espírita no mundo? 

Para eles, os que dirigem, e também para todos nós, sem exceção, a prioridade deve ser: esforçar-se cada qual ainda mais por sua própria melhoria; estudar mais a doutrina e agir mais no sentido apontado por Jesus Cristo; destacar-se na defesa da pureza doutrinária e aplicar os princípios doutrinários em todas as suas atividades. 

O Consolador: O que o Espiritismo significa para você? E qual a importância que ele tem em sua vida? 

O Espiritismo é, para mim, principalmente vivência. É bem verdade que ainda somos muito imperfeitos, mas devemos sempre fazer o melhor ao nosso alcance, em todas as situações em que estivermos empenhados. O Espiritismo é motivo de grande felicidade para mim.  Ele deu sentido à minha vida e ainda me possibilitou trabalhar mais perto do Cristo, assim como conquistar muitos amigos. Sei que, se tenho saúde, é para nunca me ausentar do trabalho na casa espírita, a não ser em casos de força maior; alegria, para incutir nos meus irmãos de caminhada o amor pelo estudo da doutrina; e confiança no futuro, pela certeza quanto à continuidade do nosso desenvolvimento em outros planos. Devo muito disso ao Espiritismo, que é o meu verdadeiro sustento e a minha fortaleza inquebrantável.

 


Voltar à página anterior


O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita