Etiqueta
social
Quatro pessoas se
encontram: um casal e
dois amigos. Mas somente
um destes conhece o
casal. Seguem-se, então,
as apresentações, feitas
por aquele que conhece a
todos. Contudo, por um
descuido, o amigo comum
apresenta apenas um
amigo ao outro,
ignorando a presença da
mulher, que registra a
indelicadeza, sem nada
dizer. Fatos como esse,
infelizmente, acontecem
a toda hora. E, na
maioria das vezes, geram
insatisfação, quando não
uma leve mágoa nos que
foram desprezados.
O homem é um ser social
por natureza, asseverou
Aristóteles. Relatos de
casos de seres humanos
que conviveram desde
tenra idade
exclusivamente com
animais (como lobos, por
exemplo) demonstram que,
depois de encontrados e
levados para o seio
social humano, não
conseguiram se adaptar e
não sobreviveram por
muito tempo. A vida em
sociedade é que torna o
homem humano. Se ficar
isolado entre animais
nos primeiros anos de
vida, pouco diferirá
destes no que se refere
a hábitos e
habilidades.
No entanto, em
sociedade, o homem
encontra muita
dificuldade em manter
relações duradouras.
Estas, via de regra,
desandam, pela simples
falta de compreensão,
tolerância e bom trato.
A inserção em um grupo
social exige a busca de
uma convivência
harmoniosa, que muitas
vezes é prejudicada por
ações “bobas”, como não
ouvir os outros
calmamente e com
atenção, interromper a
fala do outro como se já
tivesse entendido onde
ele quer “chegar”,
pretender impor ideias,
falar e/ou agir com
agressividade. A
história das relações
entre homens, porém,
também comprova que as
coisas podem ser
diferentes: as pessoas
tendem a se aperfeiçoar,
em especial quando
buscam compreender mais
os outros e a si
próprias.
Nesse sentido, a
etiqueta social tem
muito a acrescentar em
nossas relações. Há um
conjunto de regras de
boas maneiras, tanto na
vida social, como na
profissional, que serve
para nortear os
relacionamentos
interpessoais e melhorar
nossa conduta. Afinal,
quem não se sente melhor
ouvindo “por favor”,
“muito obrigado!” e
“desculpe-me”?
Entenda-se vida social
como aquela que acontece
a todo o momento, sempre
que estamos nos
relacionando com outras
pessoas, e não
exclusivamente a
relacionada a eventos
formais e cerimônias.
Contrariamente ao que
muitos podem pensar,
esses verdadeiros
códigos comportamentais
quase sempre têm como
tônica a simplicidade, a
amabilidade, a
naturalidade, o bom
senso e, sobretudo, o
respeito àqueles com
quem convivemos. Por
isso, uma coisa é certa:
nunca a etiqueta social
foi tão necessária como
agora, quando quase
todos os códigos parecem
ter entrado em crise. É
como se as pessoas
estivessem se esquecendo
de ser gentis,
atenciosas, respeitosas.
O padrão comportamental
moral da maioria da
nossa sociedade dá
evidentes sinais de
declínio. As novelas
televisivas, por
exemplo, que
arregimentam um público
tão grande, cada vez
mais têm investido nas
fórmulas “triângulo
amoroso com traição e
requintes de maldade”,
“golpes financeiros” e
“maldades paralelas”,
relegando a justiça, a
benemerência, o
entendimento e o
verdadeiro amor apenas
para os últimos
capítulos. Questionadas
a esse respeito, as
redes de TV se defendem
alegando que põem no ar
o que o público mais
gosta de ver. É o
cachorro correndo atrás
do rabo, ou seja, se
gostam de ver maldades e
não aprendem o bem, mais
vão gostar de ver
maldades. Depois, os
telejornais mostram a
consequência disso: a
agressividade grassando
pelo mundo.
Buscando as origens da
etiqueta social, podemos
encontrar na Biblioteca
de Nova Iorque um papiro
egípcio de 2.500 a.C,
que é o primeiro
documento a falar de
normas de conduta.
Trata-se de um completo
manual de boas maneiras
e é considerado por
alguns historiadores a
semente de muitas regras
de etiqueta que
floresceram mais tarde
no Ocidente. “Boas
maneiras” foram também
objeto da filosofia
grega. Platão orientava
seus parentes a
ensinarem aos filhos o
respeito aos idosos.
Muitos dos nossos
hábitos à mesa tiveram
origem num passado bem
distante e nos foram
apresentados por autores
ilustres. O gênio
criador e artístico
Leonardo da Vinci
inventou o guardanapo.
Tendo trabalhado como
mestre de banquete e de
cozinha, Da Vinci
resolveu colocar um pano
individual para cada
convidado visando
resolver o problema da
imundície que ficava nas
bordas das toalhas de
mesa. Da Vinci elaborou
também um catálogo de
boas maneiras à mesa,
que continha dicas que
hoje nos causam espanto,
como não cuspir e não
tirar a comida do prato
do vizinho, entre
outras.
Na corte de Luiz XIV,
rei da França, eram
distribuídas “etiquetas”
aos nobres que
adentrassem o
recém-construído Palácio
de Versailles, com
instruções sobre como
deveriam se portar. Mas
a preocupação com os
rigores do cerimonial
talvez tenha atingido o
auge no século XIX,
durante a Belle
Époque, na qual a
burguesia dava festas e
bailes exuberantes. O
mais impressionante
dessa época era o rigor
das exigências,
traduzido em
intolerância para com os
que não observassem
estritamente as regras
cerimoniais.
Felizmente, os dias
atuais são marcados por
normas mais flexíveis, o
que não representa
prejuízo para o convívio
social agradável. Este,
afinal de contas, é o
objetivo da etiqueta
social: em vez de servir
como instrumento de
discriminação a serviço
da elite, os bons
hábitos e costumes devem
possibilitar que a vida
em sociedade seja mais
harmônica.
Cada povo, cada cultura,
cada época tem seus
valores éticos, e os
comportamentos são a
expressão desses
valores. Assim, como
espíritas-cristãos,
temos uma ética baseada
na moral evangélica que
nos ensina que somos
todos irmãos e devemos
nos tratar como tais,
fazendo uns aos outros
exatamente o que
gostaríamos que fizessem
conosco (“Amar ao
próximo como a nós
mesmos”). Esse é o maior
mandamento, sobre o qual
deve se assentar toda a
nossa conduta na
sociedade.
As pessoas mais
encantadoras são aquelas
que parecem príncipes
entre os príncipes e
pobres entre os pobres.
Jamais seremos
verdadeiramente polidos
se não conseguirmos ser
naturais junto aos
outros. Assim viveu
Jesus, nosso Modelo e
Guia. Apesar da elevada
condição moral em
relação ao seu meio,
sempre viveu de acordo
com a sociedade na qual
nasceu, nunca se
apartando dela. Inovou
na apresentação de uma
nova noção de Deus,
trazendo um Deus-Pai, um
Deus justo, amoroso e
misericordioso. Mas suas
sábias palavras eram
simples e amáveis. Nunca
falava em tom solene.
Parafraseando uma peça
publicitária que vi, um
dia desses: “Que a
simplicidade seja a
nossa maior
sofisticação”.
Para terminar a nossa
conversa sobre conduta,
indico os livros
Conduta Espírita, de
André Luiz, psicografado
por Waldo Vieira;
Vida Feliz, de
Joanna de Ângelis, por
meio da psicografia de
Divaldo Pereira Franco;
além, é claro, de O
Evangelho segundo o
Espiritismo, de
Allan Kardec.