–
Devemos entender como de
responsabilidade do
Movimento Espírita a
construção e manutenção
de hospitais, creches,
asilos?
Raul Teixeira: Não;
de nenhum modo o
Movimento Espírita tem
responsabilidade na
construção de obras de
assistência social.
Todos os espíritas,
cidadãos e cidadãs,
devem ter sempre em
mente que o que fazemos
é um esforço que nos
interessa não somente
porque vamos amparar
alguém, em termos
materiais, mas também
porque conseguimos pôr
no campo prático muitos
dos elementos teóricos
que aprendemos no
Espiritismo. Nenhum
espírita deve ser
ingênuo ao ponto de
admitir que seja nossa
responsabilidade
construir obras de
pedra. Pelos impostos
que toda a sociedade
paga aos cofres dos
governantes, é da alçada
dos poderes constituídos
e não da nossa a
construção das obras
sociais de que necessite
a sociedade.
Importante, contudo, é
percebermos que, apesar
da consciência que
devemos ter de tudo
isso, não nos cabe ver
alguém padecendo ao
nosso redor sem que
tomemos alguma
providência socorrista,
uma vez que na nossa rua
ou no nosso bairro o
governo muitas vezes
somos nós mesmos, os que
nos achamos mais
próximos dos
necessitados. Alimentar
os que têm fome, vestir
os desnudos, visitar os
enfermos e os
presidiários são
ensinamentos que
aprendemos de Jesus.
O
que não deveremos é
criar obras materiais e
gastarmos todo o tempo e
preocupações com elas --
a neurótica agonia por
realizar atividades que
nos garantam dinheiro:
os almoços, os chás, os
lanches, os bazares
intermináveis costumam
retirar senhoras e
cavalheiros dos grupos
de estudos, por
pretextarem que estão
muito ocupados e
cansados na busca de
recursos materiais --
deixando de lado o tempo
que pertenceria aos
estudos espíritas, ao
nosso aprimoramento como
pessoas, nosso auxílio
ao crescimento de outros
companheiros, imaginando
que a caridade, como a
entendia Jesus, dispensa
o nosso esforço pelo
aformoseamento
espiritual próprio. Nada
que nos retire do dever
de aprender para crescer
deve nos ocupar,
primordialmente, os
pensamentos.
Quem
se sentir inclinado a
realizar atividades
assistenciais junto ao
próximo, poderá
apresentar-se como
responsável voluntário
em alguma obra social,
em sua cidade, que trate
de crianças, de idosos,
de internos penais, de
aidéticos ou de outros
enfermos etc. Se, porém,
o nosso ideal
institucional nos remete
à criação e manutenção
de alguma obra desses
tipos, é por entendermos
que daremos a devida
conta de tudo. Não nos
caberá viver reclamando
da sorte, da indiferença
do mundo ou da
insensibilidade dos
governantes. Tomemos do
arado, conforme permitam
nossas possibilidades, e
avancemos contentes,
estudiosos, reflexivos e
fiéis servidores da Vida
Imortal.
Extraído de entrevista
publicada no jornal O
Imortal de março de
2009.