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Estudando as obras de Kardec
Ano 3 - N° 150 - 21 de Março de 2010

ASTOLFO O. DE OLIVEIRA FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná (Brasil)
 

A Revue Spirite de 1865

Allan Kardec 

(Parte 13)

Damos prosseguimento ao estudo da Revue Spirite correspondente ao ano de 1865. O texto condensado do volume citado será aqui apresentado em 20 partes, com base na tradução de Júlio Abreu Filho publicada pela EDICEL.

Questões preliminares

A. Pode um Espírito prever quem vencerá uma corrida de cavalos?

O fato é possível, mas, ao comentar tal assunto, Kardec disse que fatos dessa natureza não são os que melhor servem à causa do Espiritismo, primeiro porque são muito raros; segundo, porque falseariam o seu espírito, fazendo crer que a mediunidade é um meio de adivinhação.  O Espiritismo não tem esse propósito. Os Espíritos vêm para nos tornar melhores e não para nos revelar ou nos indicar os meios de ganhar dinheiro na certa e sem correr perigo. Todos os que, de desígnio premeditado, julgaram encontrar no Espiritismo um novo elemento de especulação, equivocaram-se: as mistificações ridículas e, por vezes, a ruína, em vez da fortuna, têm sido o fruto de seu engano. (Revue Spirite de 1865, pp. 197 a 199.) 

B. Que meios mais eficazes há para a propagação da crença no Espiritismo?

Segundo Kardec, os meios mais eficazes são as consolações que ele proporciona, o bem que faz, a coragem que nos dá nas horas de aflições. Aos que querem servir utilmente à causa e fazer uma propaganda verdadeiramente frutífera, recomenda Kardec: “Mostrai que o Espiritismo vos tornou melhores. Fazei que, em vos vendo transformados, cada um possa dizer: ‘Eis os milagres desta crença; é, pois, uma coisa boa’. A verdadeira propaganda de uma doutrina essencialmente moral se faz tocando o coração e não visando a bolsa”. (Obra citada, pág. 200.) 

C. De que derivam os sonhos?

O sonho, o sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro, a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo princípio: a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria. É evidente – reconhece Kardec – que o Espiritismo não dá conta precisa de todas as variedades que os sonhos apresentam, mas nos oferece o princípio deles, o que já é muito, porquanto os que podemos explicar nos põem na via dos outros. (Obra citada, pp. 202 a 204.) 

Texto para leitura 

143. Uma curiosa carta atribuída ao Espírito de Dante, publicada no jornal Charivari, de Florença, recebeu de Kardec um comentário seco. Segundo o Codificador, não se deveria ver na carta “mais que um simples produto da imaginação apropriado à circunstância”, a menos que Dante tenha vindo ditá-la sem que o autor o soubesse. De fato; a carta não possui qualquer conteúdo que justificasse sua publicação. (Págs. 186 e 187.)

144. O número de julho começa examinando um fato relatado em 4 de junho pelo Grand Journal, de Paris, segundo o qual o pianista N. G. Bach, bisneto do grande João Sebastião Bach (1685-1750), sonhou com uma pessoa que, aparecendo-lhe durante o sono, lhe disse: “A espineta que possuis me pertenceu. Muitas vezes me serviu para distrair meu senhor, o rei Henrique III”. (N.R.: Espineta é um instrumento de cordas percutíveis e teclado, com mecânica e técnica iguais às do cravo.)  (Págs. 189 e 190.)

145. Segundo a aparição, o rei Henrique III, quando moço, havia composto uma ária em homenagem a uma mulher que encontrara numa caçada e pela qual se apaixonara. Era com referida espineta que o seu possuidor executava a ária referida. (Pág. 190.)

146. O fato mais extraordinário ocorreu, porém, na manhã seguinte quando, ao despertar, o Sr. Bach encontrou sobre a cama uma página de música, coberta com uma escrita muito fina e notas microscópicas: era a peça musical que Bach ouvira durante o sono. (Págs. 190 e 191.)

147. Albéric Second, o autor da reportagem, acrescentou ao relato a informação de que, segundo o jornal da Estoile, o rei Henrique III tivera, efetivamente, uma grande paixão por Marie de Clèves, marquesa de Isles, morta ainda jovem em 15 de outubro de 1574. Por essa ocasião, um músico italiano, chamado Baltazarini, mudou-se para a França e tornou-se um dos favoritos do rei. Teria a espineta pertencido a ele? (Pág. 191.)

148. Kardec comenta os fatos e esclarece que a página musical só veio às mãos do Sr. Bach três semanas depois, quando o mesmo Espírito lhe apareceu segunda vez. Baltazarini fora efetivamente o possuidor da espineta e o responsável pelos fatos relatados pelo jornal parisiense, como esclareceu pessoalmente, por intermédio do médium Sr. Morin, em reunião realizada a 9 de junho na Sociedade Espírita de Paris.  (Págs. 192 a 194.)

149. Em sua comunicação, Baltazarini informou que o papel de música ele o tirara de uma peça vizinha ao quarto do Sr. Bach, mas a música fora grafada no papel pelo próprio Bach, em Espírito, o qual se serviu de seu corpo como meio de transmissão. A letra da canção fora realmente composta pelo rei Henrique III, que fora amigo íntimo do Sr. Bach. (Págs. 194 a 197.)

150. Um Espírito pode prever quem vencerá uma corrida de cavalos? Essa questão foi focalizada numa reportagem publicada também no Grand Journal, de 4 de junho de 1865. Segundo o jornal, uma médium, tendo evocado o Espírito de um dos mais célebres desportistas da França, obteve pelas batidas o nome do vencedor: o cavalo Gontran. Kardec comenta o caso e diz que fatos dessa natureza não são os que melhor servem à causa do Espiritismo. Primeiro, porque são muito raros; segundo, porque falseariam o seu espírito, fazendo crer que a mediunidade é um meio de adivinhação.  (Págs. 197 e 198.)

151. O Espiritismo não tem esse propósito. Os Espíritos vêm para nos tornar melhores e não para nos revelar ou nos indicar os meios de ganhar dinheiro na certa e sem correr perigo. Todos os que, de desígnio premeditado, julgaram encontrar no Espiritismo um novo elemento de especulação, equivocaram-se: as mistificações ridículas e, por vezes, a ruína, em vez da fortuna, têm sido o fruto de seu engano.  (Pág. 199.)

152. Para propagar a crença no Espiritismo há meios mais eficazes e mais morais: as consolações que ele proporciona, o bem que faz, a coragem que dá nas aflições. Diremos, assim, aos que querem servir utilmente à causa e fazer uma propaganda verdadeiramente frutífera: Mostrai que o Espiritismo vos tornou melhores. Fazei que, em vos vendo transformados, cada um possa dizer: “Eis os milagres desta crença; é, pois, uma coisa boa”. A verdadeira propaganda de uma doutrina essencialmente moral se faz tocando o coração e não visando a bolsa. (Pág. 200.)

153. Reportando-se à previsão relativa à corrida de cavalos, observa Kardec que os fatos de previsão desse gênero são muito raros e podem ser considerados excepcionais. Aliás, as predições para dia certo, ou com um caráter de precisão muito grande, devem ser sempre tomadas com suspeitas. Diferentemente se dá com as previsões que os Espíritos fazem acerca dos grandes acontecimentos futuros, as quais têm sua utilidade, para nos manter alertas e nos induzir a marchar no bom caminho. (Págs. 200 e 201.)

154. Falando sobre os sonhos, Kardec diz que é verdadeiramente estranho que um fenômeno tão vulgar tenha sido objeto de tanta indiferença de parte da Ciência e que ainda hoje se esteja a perguntar a sua causa. O sonho, o sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro, a penetração do pensamento – afirma o Codificador – não passam de variantes e graus de um mesmo princípio: a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria. (Pág. 202.)

155. É evidente – reconhece Kardec – que o Espiritismo não dá conta precisa de todas as variedades que os sonhos apresentam, mas nos oferece o princípio deles, o que já é muito, porquanto os que podemos explicar nos põem na via dos outros. Segundo as explicações dadas por um dos melhores médiuns da Sociedade Espírita de Paris, em estado de sonambulismo, os sonhos podem-se dividir em três categorias:

1a – os sonhos provocados pela ação da matéria e dos sentidos sobre o Espírito, ou seja, aqueles em que o organismo representa um papel preponderante pela mais íntima união entre o corpo e a alma: a pessoa se lembra claramente do que ocorreu e conserva disso uma impressão durável.

2a – os sonhos chamados mistos, isto é, que participam ao mesmo tempo da matéria e do Espírito: o desprendimento é aí mais completo e a pessoa se lembra dos fatos ao despertar, para os esquecer quase que instantaneamente, a menos que uma particularidade venha despertar a lembrança. 

3a – os sonhos etéreos ou puramente espirituais, isto é, produzidos apenas pelo Espírito, que está desprendido da matéria tanto quanto o pode estar no estado de encarnação: a pessoa não se recorda, ou tem somente uma vaga lembrança de que sonhou e nenhuma circunstância pode trazer à memória os incidentes do sono. (Págs. 202 a 204.)  (Continua no próximo número.)


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita