A Revue Spirite
de 1865
Allan Kardec
(Parte
13)
Damos prosseguimento ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1865. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 20
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Pode um Espírito
prever quem vencerá uma
corrida de cavalos?
O fato é possível, mas,
ao comentar tal assunto,
Kardec disse que fatos
dessa natureza não são
os que melhor servem à
causa do Espiritismo,
primeiro porque são
muito raros; segundo,
porque falseariam o seu
espírito, fazendo crer
que a mediunidade é um
meio de adivinhação. O
Espiritismo não tem esse
propósito. Os Espíritos
vêm para nos tornar
melhores e não para nos
revelar ou nos indicar
os meios de ganhar
dinheiro na certa
e sem correr perigo.
Todos os que, de
desígnio premeditado,
julgaram encontrar no
Espiritismo um novo
elemento de especulação,
equivocaram-se: as
mistificações ridículas
e, por vezes, a ruína,
em vez da fortuna, têm
sido o fruto de seu
engano.
(Revue Spirite de 1865,
pp. 197 a 199.)
B. Que meios mais
eficazes há para a
propagação da crença no
Espiritismo?
Segundo Kardec, os meios
mais eficazes são as
consolações que ele
proporciona, o bem que
faz, a coragem que nos
dá nas horas de
aflições. Aos que querem
servir utilmente à causa
e fazer uma propaganda
verdadeiramente
frutífera, recomenda
Kardec: “Mostrai que o
Espiritismo vos tornou
melhores. Fazei que, em
vos vendo transformados,
cada um possa dizer:
‘Eis os milagres desta
crença; é, pois, uma
coisa boa’. A verdadeira
propaganda de uma
doutrina essencialmente
moral se faz tocando o
coração e não visando a
bolsa”.
(Obra citada, pág. 200.)
C. De que derivam os
sonhos?
O sonho, o sonambulismo,
o êxtase, a dupla vista,
o pressentimento, a
intuição do futuro, a
penetração do pensamento
não passam de variantes
e graus de um mesmo
princípio: a emancipação
da alma, mais ou menos
desprendida da matéria.
É evidente – reconhece
Kardec – que o
Espiritismo não dá conta
precisa de todas as
variedades que os sonhos
apresentam, mas nos
oferece o princípio
deles, o que já é muito,
porquanto os que podemos
explicar nos põem na via
dos outros.
(Obra citada, pp. 202 a
204.)
Texto para leitura
143. Uma curiosa carta
atribuída ao Espírito de
Dante, publicada no
jornal Charivari,
de Florença, recebeu de
Kardec um comentário
seco. Segundo o
Codificador, não se
deveria ver na carta
“mais que um simples
produto da imaginação
apropriado à
circunstância”, a menos
que Dante tenha vindo
ditá-la sem que o autor
o soubesse. De fato; a
carta não possui
qualquer conteúdo que
justificasse sua
publicação. (Págs.
186 e 187.)
144. O número de julho
começa examinando um
fato relatado em 4 de
junho pelo Grand
Journal, de Paris,
segundo o qual o
pianista N. G. Bach,
bisneto do grande João
Sebastião Bach
(1685-1750), sonhou com
uma pessoa que,
aparecendo-lhe durante o
sono, lhe disse: “A
espineta que possuis me
pertenceu. Muitas vezes
me serviu para distrair
meu senhor, o rei
Henrique III”.
(N.R.: Espineta é um
instrumento de cordas
percutíveis e teclado,
com mecânica e técnica
iguais às do cravo.)
(Págs. 189 e 190.)
145. Segundo a aparição,
o rei Henrique III,
quando moço, havia
composto uma ária em
homenagem a uma mulher
que encontrara numa
caçada e pela qual se
apaixonara. Era com
referida espineta que o
seu possuidor executava
a ária referida.
(Pág. 190.)
146. O fato mais
extraordinário ocorreu,
porém, na manhã seguinte
quando, ao despertar, o
Sr. Bach encontrou sobre
a cama uma página de
música, coberta com uma
escrita muito fina e
notas microscópicas: era
a peça musical que Bach
ouvira durante o sono.
(Págs. 190 e 191.)
147. Albéric Second, o
autor da reportagem,
acrescentou ao relato a
informação de que,
segundo o jornal da
Estoile, o rei
Henrique III tivera,
efetivamente, uma grande
paixão por Marie de
Clèves, marquesa de
Isles, morta ainda jovem
em 15 de outubro de
1574. Por essa ocasião,
um músico italiano,
chamado Baltazarini,
mudou-se para a França e
tornou-se um dos
favoritos do rei. Teria
a espineta pertencido a
ele? (Pág. 191.)
148. Kardec comenta os
fatos e esclarece que a
página musical só veio
às mãos do Sr. Bach três
semanas depois, quando o
mesmo Espírito lhe
apareceu segunda vez.
Baltazarini fora
efetivamente o possuidor
da espineta e o
responsável pelos fatos
relatados pelo jornal
parisiense, como
esclareceu pessoalmente,
por intermédio do médium
Sr. Morin, em reunião
realizada a 9 de junho
na Sociedade Espírita de
Paris. (Págs. 192 a
194.)
149. Em sua comunicação,
Baltazarini informou que
o papel de música ele o
tirara de uma peça
vizinha ao quarto do Sr.
Bach, mas a música fora
grafada no papel pelo
próprio Bach, em
Espírito, o qual se
serviu de seu corpo como
meio de transmissão. A
letra da canção fora
realmente composta pelo
rei Henrique III, que
fora amigo íntimo do Sr.
Bach. (Págs. 194 a
197.)
150. Um Espírito pode
prever quem vencerá uma
corrida de cavalos? Essa
questão foi focalizada
numa reportagem
publicada também no
Grand Journal, de 4
de junho de 1865.
Segundo o jornal, uma
médium, tendo evocado o
Espírito de um dos mais
célebres desportistas da
França, obteve pelas
batidas o nome do
vencedor: o cavalo
Gontran. Kardec
comenta o caso e diz que
fatos dessa natureza não
são os que melhor servem
à causa do Espiritismo.
Primeiro, porque são
muito raros; segundo,
porque falseariam o seu
espírito, fazendo crer
que a mediunidade é um
meio de adivinhação.
(Págs. 197 e 198.)
151. O Espiritismo não
tem esse propósito. Os
Espíritos vêm para nos
tornar melhores e não
para nos revelar ou nos
indicar os meios de
ganhar dinheiro na
certa e sem correr
perigo. Todos os que, de
desígnio premeditado,
julgaram encontrar no
Espiritismo um novo
elemento de especulação,
equivocaram-se: as
mistificações ridículas
e, por vezes, a ruína,
em vez da fortuna, têm
sido o fruto de seu
engano. (Pág. 199.)
152. Para propagar a
crença no Espiritismo há
meios mais eficazes e
mais morais: as
consolações que ele
proporciona, o bem que
faz, a coragem que dá
nas aflições. Diremos,
assim, aos que querem
servir utilmente à causa
e fazer uma propaganda
verdadeiramente
frutífera: Mostrai que o
Espiritismo vos tornou
melhores. Fazei que, em
vos vendo transformados,
cada um possa dizer:
“Eis os milagres desta
crença; é, pois, uma
coisa boa”. A verdadeira
propaganda de uma
doutrina essencialmente
moral se faz tocando o
coração e não visando a
bolsa. (Pág. 200.)
153. Reportando-se à
previsão relativa à
corrida de cavalos,
observa Kardec que os
fatos de previsão desse
gênero são muito raros e
podem ser considerados
excepcionais. Aliás, as
predições para dia
certo, ou com um caráter
de precisão muito
grande, devem ser sempre
tomadas com suspeitas.
Diferentemente se dá com
as previsões que os
Espíritos fazem acerca
dos grandes
acontecimentos futuros,
as quais têm sua
utilidade, para nos
manter alertas e nos
induzir a marchar no bom
caminho. (Págs. 200 e
201.)
154. Falando sobre os
sonhos, Kardec diz que é
verdadeiramente estranho
que um fenômeno tão
vulgar tenha sido objeto
de tanta indiferença de
parte da Ciência e que
ainda hoje se esteja a
perguntar a sua causa. O
sonho, o sonambulismo, o
êxtase, a dupla vista, o
pressentimento, a
intuição do futuro, a
penetração do pensamento
– afirma o Codificador –
não passam de variantes
e graus de um mesmo
princípio: a emancipação
da alma, mais ou menos
desprendida da matéria.
(Pág. 202.)
155. É evidente –
reconhece Kardec – que o
Espiritismo não dá conta
precisa de todas as
variedades que os sonhos
apresentam, mas nos
oferece o princípio
deles, o que já é muito,
porquanto os que podemos
explicar nos põem na via
dos outros. Segundo as
explicações dadas por um
dos melhores médiuns da
Sociedade Espírita de
Paris, em estado de
sonambulismo, os sonhos
podem-se dividir em três
categorias:
1a – os
sonhos provocados pela
ação da matéria e dos
sentidos sobre o
Espírito, ou seja,
aqueles em que o
organismo representa um
papel preponderante pela
mais íntima união entre
o corpo e a alma: a
pessoa se lembra
claramente do que
ocorreu e conserva disso
uma impressão durável.
2a – os
sonhos chamados
mistos, isto é, que
participam ao mesmo
tempo da matéria e do
Espírito: o
desprendimento é aí mais
completo e a pessoa se
lembra dos fatos ao
despertar, para os
esquecer quase que
instantaneamente, a
menos que uma
particularidade venha
despertar a lembrança.
3a – os
sonhos etéreos ou
puramente espirituais,
isto é, produzidos
apenas pelo Espírito,
que está desprendido da
matéria tanto quanto o
pode estar no estado de
encarnação: a pessoa não
se recorda, ou tem
somente uma vaga
lembrança de que sonhou
e nenhuma circunstância
pode trazer à memória os
incidentes do sono.
(Págs. 202 a 204.)
(Continua no próximo
número.)