MARCOS PAULO DE OLIVEIRA SANTOS
mpoliv@bol.com.br
Taguatinga, Distrito Federal (Brasil)
O alerta
de Acelino
“A
mediunidade é coisa
santa, que deve ser
praticada santamente,
religiosamente.”
O eminente Espírito
André Luiz, por
intermédio da sublime
mediunidade de Chico
Xavier, narra o curioso
caso de Acelino, na obra
“Os mensageiros”. Após
os ensinamentos e
estímulos do mentor Telésforo, antigo
lidador da Comunicação,
os circundantes
encetavam conversações
edificantes. Para
aqueles que lemos as
obras de André Luiz,
observamos que ele se
utiliza desses momentos
para transmitir-nos
profundos conhecimentos.
E é, justamente, nessa
ocasião de conversa
fraterna que ele nos
aponta o caso de Acelino.
Diz-nos Acelino:
─
Também parti de
“Nosso Lar”, no século
findo, após receber
valioso patrimônio
instrutivo dos nossos
assessores. Segui
enriquecido de bênçãos.
Uma de nossas
beneméritas Ministras da
Comunicação presidiu, em
pessoa, as medidas
atinentes à minha nova
tarefa. Não faltaram
providências para que me
felicitassem a saúde do
corpo e o equilíbrio da
mente. Após formular
grandes promessas aos
nossos maiores, parti
para uma das grandes
cidades brasileiras, em
serviço de nossa
colônia. O casamento
estava em meu roteiro de
realizações. Ruth, minha
devotada companheira,
incumbir-se-ia de
colaborar comigo para
melhor desempenho das
tarefas. Cumprida a
primeira parte do
programa, aos vinte anos
de idade fui chamado à
tarefa mediúnica,
recebendo enorme amparo
dos benfeitores
invisíveis. Recordo
ainda a sincera
satisfação dos
companheiros de grupo
doutrinário. A vidência,
a audição e a
psicografia, que o
Senhor me concedera, por
misericórdia,
constituíam decisivos
fatores de êxito em
nossas atividades. A
alegria de todos era
inexcedível. Entretanto,
apesar das lições
maravilhosas de amor
evangélico, inclinei-me
a transformar minhas
faculdades em fonte de
renda material. Não me
dispus a esperar pelos
abundantes recursos que
o Senhor me enviaria
mais tarde, após meus
testemunhos no trabalho,
e provoquei, eu mesmo, a
solução dos problemas
lucrativos. (LUIZ,
2000: 48-49.)
E, depois de enxugar o
pranto, Acelino
obtemperou:
─
Não fui homicida nem
ladrão vulgar, não
mantive o propósito
íntimo de ferir ninguém,
nem desrespeitei alheios
lares, mas, indo aos
círculos carnais para
servir às criaturas de
Deus, nossos irmãos,
auxiliando-os no
crescimento espiritual
com Jesus, apenas fiz
viciados da crença
religiosa e delinquentes
ocultos, mutilados da fé
e aleijados do
pensamento. Não tenho
desculpas, porque estava
esclarecido; não tenho
perdão, porque não me
faltou assistência
divina.
E, depois de longa
pausa, concluiu
gravemente:
─
Podem avaliar a
extensão da minha culpa?
(LUIZ, 2000: 51.)
Esse breve capítulo da
magnífica obra suscita
uma série de reflexões.
E, certamente, é difícil
compreendermos
profundamente a extensão
da culpa de Acelino.
Assim, não podemos
responder a pergunta que
ele mesmo faz ao final
do capítulo de modo
completo. Mas é possível
fazer algumas
ponderações, a começar
pela preparação dele.
Em sua narrativa
observamos que ele teve
o privilégio de ter
lições com uma das
beneméritas ministras da
Comunicação. Ademais,
recebeu o concurso dos
Espíritos benfeitores
para que tivesse um
corpo físico saudável e
a mente equilibrada. A
companheira Ruth seria o
sustentáculo para a
caminhada segura,
especialmente nas
situações difíceis da
vida terrena. E, a
serviço de “Nosso Lar”,
ele nasceria em uma
grande cidade para
divulgar a doutrina e
trabalhar para o bem. Em
síntese: foi um Espírito
bastante privilegiado
desde o mundo
espiritual. Cabe
salientar que não são
todos que recebem o
imprescindível auxílio
para a volta ao corpo
material. Muitos
renascem de forma
bastante diversa da
vivenciada por Acelino.
Passadas as vinte
primaveras, Acelino
seguiu com o auxílio
inesgotável do mundo
superior e com a eclosão
das faculdades
mediúnicas teve ensejo
de melhor contribuir e
concretizar as promessas
feitas no mundo
espiritual. Porém, como
ele mesmo asseverou, não
soube esperar os
tesouros inefáveis do
Criador quando
retornasse a “Nosso Lar”
e, seduzido pelos
prazeres materiais,
deixou-se arrastar pela
mercantilização
da mediunidade. O pobre
personagem passou por
sofrimentos acerbos e
perambulou por onze anos
nas regiões de
sofrimentos. Tudo por
causa do seu ato
infeliz!
Não é difícil
encontrarmos nas grandes
cidades situações como a
de Acelino. Pessoas
existem que
mercantilizam a
mediunidade, divulgam-na
em outdoors,
panfletos, Internet etc.
E o mais grave é que se
revestem do nome de
espíritas. De
tal modo que são capazes
de ludibriar os incautos
e amealharem grandes
fortunas.
Não compete a nós
julgarmos essas pessoas.
As consequências de tais
atos já as conhecemos
por meio de narrativas
como a de Acelino e
tantos outros Espíritos
que falharam e vieram
nos alertar. Compete a
cada um trilhar seu
próprio destino. Mas
acreditamos que o estudo
sério das obras básicas
do preclaro codificador
e dos ensinamentos de
André Luiz, Emmanuel e
tantos outros notáveis
Espíritos, se
vivenciados, fariam com
que essas pessoas não
prosseguissem no erro
grave.
O alerta de Acelino não
pode passar despercebido
para nós espíritas.
Devemos ter muitíssimo
cuidado para não
macularmos algo tão
sublime que é a
mediunidade. E,
sobretudo, não
permitirmos que nos
centros espíritas
ocorram tais práticas,
que muitas vezes de
maneira sub-reptícia ou
com o enaltecimento de
médiuns, os
personalismos, as
invejas, intrigas etc.,
conseguem adentrar as
casas espíritas e causar
profundas perturbações.
Nunca é demais lembrar
que “a primeira condição
para se granjear a
benevolência dos bons
Espíritos é a humildade,
o devotamento, a
abnegação, o mais
absoluto desinteresse
moral e material”.
(KARDEC, 2002: 366.)
Corroborando a máxima do
Excelso Mestre: “Dai
gratuitamente o que
gratuitamente haveis
recebido”.
Referências:
Kardec,
Allan. O Evangelho
segundo o Espiritismo.
120. ed. Rio de Janeiro:
Federação Espírita
Brasileira, 2002.
Luiz,
André; Xavier, Francisco
Cândido. Os
Mensageiros. 34. ed.
Rio de Janeiro:
Federação Espírita
Brasileira, 2000.