MILTON R.
MEDRAN MOREIRA
medran@via-rs.net
Porto Alegre,
Rio Grande do
Sul (Brasil)
Inteligência e
moral
“Há quem chegue
às maiores
alturas só para
fazer as maiores
baixezas.” -
Ministro Carlos
Ayres Brito, do
Supremo Tribunal
Federal
Talvez nunca,
como nesta
quadra da
história
republicana
nacional,
tenhamos tão
agudamente
percebido o
distanciamento
entre a
inteligência e a
ética, em
determinadas
figuras de nosso
cenário
político.
Enfrentando, em
5 de março
último, o
julgamento de um
habeas corpus
impetrado por
governador de
uma unidade da
federação que,
flagrado em
suposto e grave
ato de
corrupção, saiu
do palácio do
governo
diretamente para
a prisão, um dos
julgadores da
mais alta corte
da Justiça,
negando-lhe
concessão,
deplorou o
episódio,
pronunciando a
frase
emblemática que
serve de
epígrafe a este
artigo.
Os Espíritos
interlocutores
de Allan Kardec,
quando da
elaboração de
O Livro dos
Espíritos
(1857),
enfatizaram esse
componente do
progresso
humano: o
descompasso
entre o
progresso
intelectual e o
moral. Aquele
sempre anda mais
depressa,
disseram, porque
“o fruto não
pode vir antes
da flor”
(questão 791).
Chegaram a
asseverar que “à
primeira vista,
parece mesmo que
o progresso
intelectual
redobra a
atividade
daqueles vícios”
(falavam do
orgulho e do
egoísmo),
“desenvolvendo a
ambição e o
gosto das
riquezas” (q.
785).
Complementaram,
contudo, dizendo
que “do mal pode
nascer o bem” e
que o
conhecimento das
leis maiores da
vida conduz,
necessariamente,
o homem e a
sociedade a
estágios de
melhoria moral.
Deploravelmente,
homens que
deveriam ser
exemplos de
honradez, em
face dos
elevados cargos
que ocupam, têm
protagonizado
cenas de
extremada
vilania,
locupletando-se
despudoradamente
dos bens
públicos pelos
quais deveriam
zelar. Se,
entretanto, a
impunidade foi
até aqui regra,
aos poucos,
deixa de sê-lo.
Há, felizmente,
uma consciência
em favor da
ética pública
que cresce no
seio do povo e
força a adoção
de medidas
profiláticas,
punitivas e
moralizadoras.
O conhecimento
da verdadeira
natureza
espiritual do
homem e de sua
responsabilidade,
além dos
mecanismos
legais e
fiscalizadores
aqui
disponíveis, é
instrumento
poderoso de
progresso moral.
Talvez o mais
eficiente para
reduzir o
descompasso
claramente
perceptível
entre aquele e o
progresso
intelectual. Um
e outro hão de
se aproximar, no
dia em que,
definitivamente,
se compreender
que inteligência
sem ética é como
uma árvore sem
flores e sem
frutos.