MARCELO BORELA DE
OLIVEIRA
mbo_imortal@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Entre a Terra e o Céu
André Luiz
(Parte
28)
Continuamos a apresentar
o
estudo da obra
Entre a Terra e o Céu,
de André Luiz,
psicografada pelo médium
Francisco Cândido Xavier
e
publicada em 1954 pela
Federação Espírita
Brasileira.
Questões preliminares
A. Que sentimento
exteriorizou o
enfermeiro Mário Silva
ao ver Zulmira e seu
filho?
Quando ele penetrou o
quarto e viu a mulher
que amara
apaixonadamente,
trazendo o pequenino ao
colo, Mário registrou
súbita vertigem de
revolta. Estranha
aflição oprimia-lhe o
peito. A volúpia da
vingança enceguecia-o.
"Zulmira pagar-lhe-ia,
caro, a deserção" –
pensava, de olhos fixos
na mãe do menino
enfermo. Contemplando a
criança que a dispneia
agitava, deu curso a
incontida animosidade.
Parecia que a odiava de
longa data e se
surpreendeu com isso.
"Como podia detestar,
assim, um inocente com
tanta veemência?"
(Entre a Terra e o Céu,
cap. XXXII, pp. 200 e
201.)
B. As mãos de Mário
expeliam escura
substância. Que
substância era essa?
Clarêncio explicou: "São
fluidos deletérios do
ódio com que Silva,
inconscientemente,
procura envolver a
infeliz criança;
contudo, as nossas
defesas estão
funcionando". O Ministro
estabelecera extensa
faixa magnética em torno
do doentinho,
preservando-o contra a
influência do
visitante.
(Obra citada, cap.
XXXII, pp. 202 e 203.)
C. Júlio poderia
recuperar-se?
Não. O menino deixaria o
corpo em breves horas,
pois o futuro dele
exigia a frustração do
presente. A Vontade
Divina – explicou
Clarêncio – faz sempre o
melhor. De fato, em dado
momento, Júlio
estremeceu,
empalidecendo;
descontrolara-se-lhe o
coração. O médico
auscultou a criança e,
logo após, notificou seu
pai: "Surgiu o colapso
irremediável.
Infelizmente é o fim. Se
o senhor tem fé
religiosa, confiemos o
caso a Deus. Agora,
somente a concessão
divina..."
(Obra citada, cap.
XXXII, pp. 204 a 206.)
Texto para leitura
94. Mário revê
Júlio com aversão
- No hospital, a ficha
dizia que um menino
atacado de crupe exigia
socorro imediato. Mário
dirigiu-se então ao
endereço da criança e,
quando foi recebido por
Amaro, não pôde ocultar
a perplexidade que o
assaltara. Identificado
pelo ferroviário, que
lhe exprimia gentileza e
contentamento, ele
tartamudeou alguns
monossílabos,
desapontado,
espantadiço... Se
soubesse que era aquela
casa, ele teria
solicitado um
substituto, pois a
última coisa que queria
era reaproximar-se de
seus desafetos.
Abominava o homem que
lhe furtara a noiva e
não podia lembrar-se de
Zulmira sem se tocar de
insólita aversão. Por
que salvar-lhe o filho,
se tinha desejos de
incendiar-lhe a casa?
Algo, entretanto,
interferia em suas
reflexões. Antonina e os
filhos, no culto do
Evangelho, tomavam-lhe a
tela mental.
Parecia-lhe ouvir, de
novo, a palavra meiga e
sincera daquela
valorosa mulher: "As
mãos que curam não podem
ferir..." "Um enfermeiro
diligente será, sem
dúvida, o irmão de
todos..." "A vida não
termina neste mundo..."
"Precisamos desculpar os
outros para que os
outros nos desculpem..."
Percebendo sua
hesitação, Amaro
solicitou em voz
súplice: "Entre, Mário!
conforta-me reconhecer
que receberemos o
concurso de um
amigo..." O enfermeiro
obedeceu maquinalmente e
entrou no quarto,
perturbado, lívido.
Quando viu a mulher que
amara apaixonadamente,
trazendo o pequenino ao
colo, registrou súbita
vertigem de revolta.
Estranha aflição
oprimia-lhe o peito. A
volúpia da vingança
enceguecia-o. "Zulmira
pagar-lhe-ia, caro, a
deserção" – pensava, de
olhos fixos na mãe do
menino enfermo.
Contemplando a criança
que a dispneia agitava,
deu curso a incontida
animosidade. Parecia que
a odiava de longa data e
se surpreendeu com
isso... "Como podia
detestar, assim, um
inocente com tanta
veemência?" (Cap. XXXII,
págs. 200 e 201)
95. A
força do Evangelho
- Pensamentos
torturantes tomavam a
mente do enfermeiro. A
ideia de que Amaro e a
esposa sofreriam muito,
com a morte do menino,
acalentou-lhe o duro
propósito de desforço. A
felicidade daquele lar
dependia de sua atuação.
"E se cooperasse com a
morte, auxiliando aquele
rebento enfermiço a
desaparecer?" Essa
pergunta criminosa
traspassou-lhe o
pensamento como um
estilete de treva. A
lembrança do culto
evangélico, no lar de
Antonina, voltou-lhe,
porém, à cabeça. As
frases que a valorosa
mulher proferira em seus
comentários
regressavam-lhe aos
ouvidos: "Vale sempre
mais o acordo
pacífico..." "Não
devemos nutrir qualquer
espécie de aversão..."
"Quem ajuda é
ajudado..." Os retalhos
da palestra edificante
eram como que rédeas
intangíveis a lhe
sofrearem a expansão dos
desejos malignos.
Zulmira o reconheceu e o
cumprimentou. "Mário! –
implorou a pobre
senhora, agoniada –
compadeça-se de nós!
ajude-nos! Esperei meu
filhinho, suportando os
maiores sacrifícios...
Será crível deva agora
vê-lo morrer?" Lágrimas
copiosas seguiram-lhe os
soluços, mas o
enfermeiro apresentava
soberana indiferença
pela dor da mulher que o
abandonara. Seus
propósitos eram de
vingança, mas o
semblante de Antonina o
dominava, exaltando o
perdão. "Se viesse
àquela casa na véspera –
considerou consigo mesmo
–, teria exterminado o
petiz sem piedade...
Recorreria à eutanásia
para justificar-se
intimamente." Naquela
hora, porém, os
princípios evangélicos
da fraternidade e da
conciliação, como
pensamentos intrusos,
atenazavam-lhe a
consciência e, assim,
aplicou no enfermo o
soro antidiftérico,
embora desejasse vê-lo
transformar-se em
veneno destruidor. André
reparou então que as
mãos de Mário expeliam
escura substância, mas
Clarêncio, pousando a
destra sobre o
pequenino, mantinha-o
isolado de semelhantes
forças. (Cap. XXXII,
págs. 202 e 203)
96. Júlio piora e
entra em coma -
Ante a exteriorização
daquele visco
enegrecido, Clarêncio
explicou: "São fluidos
deletérios do ódio com
que Silva,
inconscientemente,
procura envolver a
infeliz criança;
contudo, as nossas
defesas estão
funcionando". O Ministro
estabelecera extensa
faixa magnética em torno
do doentinho,
preservando-o contra a
influência do
visitante. Odila estava
aflita e perguntou-lhe
se Júlio poderia
recuperar-se. Clarêncio
informou que o menino
deixaria o corpo em
breves horas, pois o
futuro dele exigia a
frustração do presente.
A Vontade Divina,
elucidou o instrutor,
faz sempre o melhor.
Como Odila fosse
perguntar algo,
Clarêncio pediu-lhe que
cessasse por enquanto
qualquer indagação.
Júlio estava a reclamar
assistência, vigilância,
carinho. Mais tarde, ela
saberia de tudo. A
interlocutora, mostrando
humildade e disciplina,
recompôs a expressão
fisionômica. Enquanto
isso, o enfermeiro
fitava o pequeno, como
se o hipnotizasse para a
morte. Amaro e Zulmira
estavam ansiosos. Em
dado momento, Júlio
estremeceu,
empalidecendo;
descontrolara-se-lhe o
coração. Examinando-lhe
o pulso, Mário, agora
aterrado, procurou os
olhos do pai, e
solicitou em voz menos
dura: "Convém a presença
imediata do nosso
facultativo. Receio um
choque anafilático de
consequências fatais".
(N.R.: Anafilático
diz respeito a
anafilaxia – aumento da
sensibilidade do
organismo a uma
determinada substância
com que esse organismo
já estivera em contato.)
Amaro saiu à busca
do médico. Uma hora
escoou, vagarosa e
terrível... Preocupado,
o médico auscultou a
criança e, logo após,
notificou seu pai:
"Surgiu o colapso
irremediável.
Infelizmente é o fim. Se
o senhor tem fé
religiosa, confiemos o
caso a Deus. Agora,
somente a concessão
divina..." Um sedativo
administrado em Zulmira
compeliu-a ao repouso.
O menino, em coma,
respirava com
dificuldade. Vendo que a
mulher e a filha
descansavam, Amaro foi
para uma janela próxima
e começou a chorar em
silêncio. Ao lado da
criança agonizante, o
enfermeiro, vendo o
sofrimento daquele
homem, sentiu-se tocado
no imo d'alma. Por que
lutara contra semelhante
inimigo? – pensava
agora, ensimesmado. Como
pudera ele, Mário Silva,
ter sido ali tão cruel?
(Cap. XXXII, págs. 204 e
206)
(Continua no próximo
número.)