A Revue Spirite
de 1865
Allan Kardec
(Parte
14)
Damos prosseguimento ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1865. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 20
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. O estado moral de um
indivíduo pode ser um
obstáculo à sua cura?
Pode, sim, ser um
obstáculo. Foi o que
ocorreu com um jovem
cego que um espírita
dedicado se propôs curar
por meio do magnetismo.
Ocorre que o jovem, em
vez de se mostrar
reconhecido pela bondade
do amigo, só teve
ingratidão e mau
procedimento, dando
provas do pior caráter.
Segundo São Luís, a
enfermidade do rapaz não
era incurável. Uma
magnetização espiritual
praticada com zelo,
devotamento e
perseverança certamente
teria êxito. Sua visão
teria sensível melhora,
se os maus fluidos de
que estava cercado não
opusessem um obstáculo à
penetração dos bons
fluidos. “No estado em
que se encontra –
explicou São Luís –, a
ação magnética será
impotente enquanto, por
sua vontade e sua
melhora, não se
desembaraçar desses
fluidos perniciosos. É,
pois, uma cura moral que
se deve obter, antes de
buscar a cura física.”
Um retorno sério sobre
si mesmo era a única
coisa que poderia tornar
eficazes os cuidados de
seu magnetizador; do
contrário, perder-se-ia
o pouco de luz que lhe
restava e novas
provações o acometeriam.
Os maus Espíritos que o
assediavam só agiam
assim porque eram
atraídos pela afinidade
com os seus maus
pendores. À medida que
se melhorasse, eles se
afastariam e a ação
magnética produziria o
efeito desejado.
(Rvue Spirite de 1865,
pp. 205 e 206.)
B. Por que a educação
moral dos desencarnados
é mais fácil que a dos
encarnados?
Esta questão foi
proposta por Kardec na
Sociedade Espírita de
Paris e os Espíritos de
Erasto e Lamennais a
elucidaram da seguinte
forma: 1) Como o
desencarnado vê
manifestamente o que se
passa e os exemplos
terríveis da vida,
compreende mais
rapidamente o que lhe
dizem e recomendam. 2) A
adversidade amadurece o
pensamento: é o que se
dá com os Espíritos, que
veem de perto as
consequências de seu
passado, o que não
ocorre com os
encarnados, envolvidos
que estão pelas ilusões
e quimeras da existência
corpórea. 3) Entre os
encarnados, uns e outros
são arrastados pela vida
mesma, ao passo que os
desencarnados veem,
escutam e se arrependem
com melhor vontade. 4)
Os desencarnados aos
quais a matéria não mais
impõe suas leis e não
mais fornece meios de
satisfazer seus maus
apetites, e, por isso,
não têm mais desejos
inconfessáveis, são mais
aptos a aceitar os
conselhos que lhes são
dados.
(Obra citada, pp. 206 a
208.)
C. Como o cardeal
Wiseman definiu o
Espiritismo?
O cardeal Wiseman,
segundo notícia
publicada pelo jornal
A Patrie de
18/3/1865 por ocasião do
seu falecimento,
acreditava firmemente no
Espiritismo. De acordo
com o jornal
Spiritualist Magazine,
o cardeal havia
permitido que dois
sacerdotes continuassem
seus estudos e servissem
como médiuns,
dizendo-lhes: “Eu mesmo
creio firmemente no
Espiritismo e não
poderia ser um bom
membro da Igreja se
tivesse a menor dúvida a
respeito”. Depois de
desencarnar, valendo-se
da Sra. Delanne como
médium, Wiseman
confirmou a informação.
Sim, ele fora espírita
convicto, porque –
segundo ele - o
Espiritismo é a
realização de todas as
profecias, o
desenvolvimento da
religião, o
esclarecimento dos
mistérios, o caminho
reto que conduz ao
verdadeiro objetivo e à
perfeição.
(Obra citada, pp. 213 e
214.)
Texto para leitura
156. São esses sonhos
inconscientes que
proporcionam essas
sensações indefiníveis
de contentamento e de
felicidade de que não
nos damos conta e que
são um antegozo daquilo
de que desfrutam os
Espíritos felizes.
(Pág. 204.)
157. O esquecimento do
sonho é um dos
caracteres do
sonambulismo. Ora, do
primeiro grau de
lucidez, por vezes o
Espírito passa a um grau
mais elevado, que é
diferente do êxtase,
e no qual adquire novas
ideias e percepções mais
sutis. Saindo desse
segundo grau, para
entrar no primeiro grau,
não se lembra do que
disse nem do que viu. Em
seguida, passando para o
estado de vigília, há
novo esquecimento.
Existe, pois, grande
analogia entre os dois
estados sonambúlicos e
as diversas categorias
de sonhos. Para cada
degrau que sobe, o
Espírito eleva-se acima
de uma camada de
garoa e suas
percepções tornam-se
mais claras. A vontade
do magnetizador pode por
vezes dissipar essa
garoa, esse véu
fluídico, e
propiciar a lembrança.
(Págs. 204 e 205.)
158. Por que a educação
moral dos desencarnados
é mais fácil que a dos
encarnados? Essa questão
foi suscitada na
Sociedade Espírita de
Paris pelo
seguinte fato: um jovem
cego há 12 anos tinha
sido recolhido por um
espírita dedicado, que
se propôs curá-lo pelo
magnetismo, pois os
Espíritos haviam dito
que isso era possível.
Ocorre que o jovem, em
vez de se mostrar
reconhecido pela bondade
do amigo, só teve
ingratidão e mau
procedimento, dando
provas do pior caráter.
(Pág. 205.)
159. A enfermidade do
rapaz não era incurável,
explicou São Luís. Uma
magnetização espiritual
praticada com zelo,
devotamento e
perseverança certamente
teria êxito, ajudada por
um tratamento médico
destinado a corrigir seu
sangue viciado. Sua
visão teria sensível
melhora, se os maus
fluidos de que estava
cercado não opusessem um
obstáculo à penetração
dos bons fluidos. “No
estado em que se
encontra – ajuntou São
Luís –, a ação magnética
será impotente enquanto,
por sua vontade e sua
melhora, não se
desembaraçar desses
fluidos perniciosos. É,
pois, uma cura moral que
se deve obter, antes de
buscar a cura física.”
(Págs. 205 e 206.)
160. Um retorno sério
sobre si mesmo era a
única coisa que poderia
tornar eficazes os
cuidados de seu
magnetizador; do
contrário, perder-se-ia
o pouco de luz que lhe
restava e novas
provações o acometeriam.
Os maus Espíritos que o
assediavam só agiam
assim porque eram
atraídos pela afinidade
com os seus maus
pendores. À medida que
se melhorasse, eles se
afastariam e a ação
magnética produziria o
efeito desejado.
(Pág. 206.)
161. A instrução
precedente revela um
fato importante: o
obstáculo oposto, em
certos casos, pelo
estado moral de um
indivíduo à cura dos
males físicos. E foi
esse fato que motivou a
pergunta inicial
proposta aos Espíritos
na Sociedade Espírita de
Paris (veja o item 23).
(Pág. 206.)
162. Seis respostas
foram obtidas, todas
concordantes entre si. A
Revue transcreve
duas delas, as que foram
assinadas por Erasto e
Lamennais, que assim se
exprimiram: I – Como o
desencarnado vê
manifestamente o que se
passa e os exemplos
terríveis da vida,
compreende mais
rapidamente o que lhe
dizem e recomendam. II –
A adversidade amadurece
o pensamento: é o que se
dá com os Espíritos, que
veem de perto as
consequências de seu
passado, o que não
ocorre com os
encarnados, envolvidos
que estão pelas ilusões
e quimeras da existência
corpórea. III – Entre os
encarnados, uns e outros
são arrastados pela vida
mesma, ao passo que os
desencarnados veem,
escutam e se arrependem
com melhor vontade. IV –
Os desencarnados aos
quais a matéria não mais
impõe suas leis e não
mais fornece meios de
satisfazer seus maus
apetites e, por isso,
não têm mais desejos
inconfessáveis, são mais
aptos a aceitar os
conselhos que lhes são
dados. (Págs. 206 a
208.)
163. Aludindo à morte de
vários companheiros da
Sociedade Espírita de
Paris, assunto suscitado
em reunião realizada em
maio, São Luís grafou
linda mensagem em que,
pedindo que não os
lamentassem, informa que
novos companheiros
viriam em substituição
dos que partiam. No
final, ele recomenda aos
espíritas que estudem de
maneira séria e digna a
doutrina e, sobretudo,
modifiquem o que ainda
tragam de imperfeição,
porquanto a morada que
os aguarda é muito bela,
mas é preciso tornar-se
digno para habitá-la.
(Págs. 208 e 209.)
164. Koenigsfeld, uma
comuna de apenas 400
habitantes, situada
perto de Villingen, na
Floresta Negra, jamais
registrou em cinquenta
anos de existência um
caso qualquer de ofensa
às leis, constituindo
exemplo de comunidade em
que a solidariedade e a
caridade imperam.
Lamennais diz, em
mensagem na Sociedade
Espírita de Paris, que a
pequena cidade é, em
miniatura, o que o mundo
poderá ser um dia,
quando a caridade for
praticada por todos os
homens. Kardec concorda
e observa que é o
egoísmo que causa a
maior parte dos males da
Terra, porque mata a
benevolência, a
condescendência, a
indulgência e todas as
qualidades que fazem o
encanto e a segurança
das relações sociais.
(Págs. 209 e 210.)
165. Tudo – diz o
Codificador – está
submetido à lei do
progresso. Os mundos
também progridem física
e moralmente e, de mundo
de expiação e provas, a
Terra tornar-se-á também
um mundo feliz, um lugar
de repouso para os bons
Espíritos, um mundo não
mais de punição, mas de
recompensa. (Págs.
210 e 211.)
166. Após transcrever
carta de um
correspondente da
Revue, o qual relata
alguns casos de
aparições espontâneas de
Espíritos, Kardec diz
que fatos dessa natureza
são numerosos e só o
Espiritismo dá a
respeito deles uma
explicação racional. É
preciso, porém, cuidado
para verificar a sua
autenticidade,
evitando-se atribuir
cegamente aos Espíritos
tudo o que ocorre ao
nosso redor. (Págs.
211 a 213.)
167. Segundo o periódico
“A Patrie” de
18/3/1865, o cardeal
Wiseman, que acabara de
falecer na Inglaterra,
acreditava no
Espiritismo. De acordo
com o jornal
Spiritualist Magazine,
o cardeal havia
permitido que dois
sacerdotes continuassem
seus estudos e servissem
como médiuns,
dizendo-lhes: “Eu mesmo
creio firmemente no
Espiritismo e não
poderia ser um bom
membro da Igreja se
tivesse a menor dúvida a
respeito”. Após
desencarnar, valendo-se
da sra. Delanne como
médium, Wiseman
confirmou a informação.
Sim, ele fora espírita
convicto porque o
Espiritismo é a
realização de todas as
profecias, o
desenvolvimento da
religião, o
esclarecimento dos
mistérios, o caminho
reto que conduz ao
verdadeiro objetivo e à
perfeição. (Págs. 213
e 214.)
168. Manifestando-se
sobre o assunto,
Lamennais adverte: “A
religião espiritualista
é a alma do
Cristianismo: é preciso
não esquecer. Em meio do
materialismo, do culto
protestante e do
católico, o cardeal
Wiseman ousou proclamar
a alma antes do corpo, o
espírito antes da
letra”. “Essas espécies
de coragem são raras nos
dois cleros, e é um
espetáculo incomum, com
efeito, o ato de fé
espírita do cardeal
Wiseman.” (Pág. 216.)
(Continua no próximo
número.)