LEDA MARIA
FLABOREA
ledaflaborea@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
Falando
com você
– Alô, é Fulano?
– Sim, sou eu!
– Sou Beltrana, amiga de
sua mãe...
– Pois não!
– Desculpe-me por
interromper suas férias,
bem merecidas com
certeza..., mas eu
gostaria de lhe dizer
que sua mãe foi
internada.
– Está mal?
– Muito, não. Está muito
fraca, muito magra e
muito cansada. O médico
achou melhor interná-la.
– Que ela estava assim,
eu já sabia. Falei com
ela antes de viajar. Só
não fui vê-la porque não
deu tempo. Sabe como é
viagem de férias... São
tantas providências a
serem tomadas...
– Entendo como é difícil
conciliar tudo!
– Mas se ela não está
tão mal assim,
terça-feira estarei de
volta.
– Você deve saber o que
está fazendo, afinal é
sua mãe e deve
conhecê-la melhor que
Cicrano que está com ela
no hospital, cuidando
para que nada lhe falte.
Nem mesmo o carinho da
família. Se bem que
acabo de me lembrar, ele
não faz parte da
família, pois é só
afilhado dela, não é
verdade?
– É verdade. Ela o
batizou!
– Fulano, desculpe-me,
mais uma vez, ter
interrompido seu
descanso, suas merecidas
férias. Estou falando
muito, não é? Mas acabo
de me lembrar de uma vez
em que sua mãe estava
muito feliz por ter sido
aprovada em um concurso
público que daria a ela
a chance de iniciar uma
vida profissional e na
data em que deveria se
apresentar você
amanheceu com uma febre
muito alta e foi preciso
chamar o médico com
urgência. Sua mãe quase
enlouqueceu de tanto
sofrimento pelo medo de
perdê-lo. O médico riu
muito dizendo a ela que
você só tinha uma
inflamação na garganta e
que a febre era normal
nesses casos. Ele o
medicou e para a sua mãe
foi um longo dia de
espera até que você, na
manhã seguinte, não
tivesse mais nada. É
claro que ela perdeu a
oportunidade do trabalho
profissional, mas para
ela o que interessava
era que seu filho
estivesse bem.
– Ela comentou qualquer
coisa assim, uma vez...
– Sabe, lembro-me dela
jovem, bonita, corpo bem
feito, muito
inteligente, sempre
muito alegre, como somos
todos antes que a
maturidade ou os
problemas nos obriguem a
encarar a vida com maior
responsabilidade e mais
consciência. Quando
ficou grávida, parece
que ficou mais bonita
ainda. E com que
felicidade exibia o seu
“estado de graça”, como
ela dizia. Mas a
gravidez lhe trouxe
problemas posteriores.
Seu corpo deformou-se e
essas marcas ficaram
para sempre. Pensa que
ela se queixou? Qual
nada! Dizia que você era
mais importante do que
qualquer medida
estética.
Sua mãe teve muitos
sonhos interrompidos,
muitos projetos que
nunca se concretizaram
porque não havia tempo
para ela. E as noites
que passou em claro,
cuidando da sua
catapora, da caxumba,
das dores de ouvido que
não o deixavam dormir.
Você e toda a família!!
Descanso? Nem pensar! No
dia seguinte lá estava
ela cuidando de você, da
casa, do seu pai... Ela
sempre foi assim:
incansável. Digo porque
hoje, tão velhinha e tão
doente, não é nem uma
sombra daquela mulher
forte – ou se fazendo de
forte tantas vezes para
que você não desanimasse
diante dos dissabores da
vida – que faria
qualquer coisa para
vê-lo bem.
E quando você foi para a
escola pela primeira
vez! Quanta vez ficou
estudando – assuntos que
nem se lembrava mais –
para melhor ajudá-lo a
compreender o mundo que
se abria para você. Era
um misto de felicidade,
orgulho e muito medo,
porque você estava
crescendo. E, acredite,
não era medo de
perdê-lo, mas, sim, de
que você não fosse feliz
com seus filhos, quando
os tivesse, como ela era
com você. Porque Deus,
dizia ela, nunca tinha
sido tão generoso com
seus filhos como havia
sido com ela ao mandá-lo
para seus braços. Mas
você deve estar sabendo
de todas essas
histórias. Não conheço
mãe alguma que não goste
de contar casos sobre
seu filho. Penso que faz
parte da felicidade de
ser mãe.
– Mas, se está dizendo
que ela não está tão
mal, eu volto, então, só
na terça-feira.
– Veja você que estou
novamente a tagarelar.
Desculpe-me, mais uma vez,
e tenha um bom dia e bom
descanso com sua
família.
É através da luta
planetária que nos
proporciona penas e
aflições, com ocultas
lições de crescimento,
que a voz de Deus nos
fala. Sábia e amorosa a
nos conclamar em cada
momento à reflexão e à
renovação de valores.
Voz interior que nos
assombra – voz de Deus
em nós – e que nos chama
ao cumprimento do dever
moral frente ao Amor, à
Justiça e à Caridade,
com orientação segura a
nos guiar o caminho
evolutivo, rumo à
felicidade.
– Alô, é fulano? Quem
está falando é Beltrana,
novamente. Lamento
informar que sua mãe
descansou.