– Por que razão
escasseiam nas casas
espíritas as reuniões
que chamávamos
antigamente de sessões
de desobsessão, que
tantos benefícios
trouxeram a inúmeros
cidadãos com problemas
obsessivos?
Raul Teixeira:
Há inúmeras razões para
esse esfriamento na
realização desse tipo de
reuniões, algumas cujas
raízes estão nas
instituições, enquanto
outras podem estar nas
pessoas que atuam nessas
instituições na condição
de médiuns.
Antigamente, ao que
sabemos, as reuniões de
desobsessão eram um
momento sagrado do
centro espírita, para o
qual não se levava
qualquer pessoa. Para
dela participar,
tinha-se que ser médium
mesmo, com as condições
morais de tal maneira
firmes que suportassem o
assédio concomitante ou
posterior das entidades
infelizes envolvidas,
mantendo conduta ilibada
na sociedade e na
família, adquirindo o
que se chama de
autoridade moral. Os
médiuns de então, quase
sempre pessoas muito
modestas, mantinham um
regime de dedicação aos
trabalhos do bem,
trabalhando a si mesmos
para merecer essa
convivência com os
Prepostos de Jesus nesse
labor de socorro
espiritual.
Temos que convir a
dificuldade de muita
gente, hoje em dia, para
assumir compromissos.
Seja pelas experiências
de indisciplina
cultivadas, seja pelas
condições das grandes
cidades, que dificultam
os translados das
pessoas de um para outro
lado. Assim, é costume
em muitos lugares os
médiuns faltarem muito
aos trabalhos, porque
chegam tarde da lida
profissional, porque
frequentam festas e não
perdem nenhuma, porque
qualquer motivo é motivo
para não comparecer e,
assim, não criam
vínculos psíquicos com a
atividade nem com os
Benfeitores da tarefa.
No campo dos centros
espíritas, muitos não
têm critérios
doutrinários para a
escolha dos seus
dirigentes das sessões e
optam, quase sempre, por
companheiros que, mesmo
quando têm boa vontade,
desconhecem a
profundidade e a
dinâmica daquilo que
foram chamados a fazer;
não têm voz ativa,
conquistada pela
autoridade moral e pela
convivência semanal com
os médiuns que, então,
fazem como querem na
sessão; não exigem dos
membros das sessões
mediúnicas a
participação nas
reuniões de estudos do
centro, o que permite
que muitos médiuns só
compareçam à instituição
nos dias e horários
dessas sessões, não
conseguindo higienizar
as mentes por meio dos
estudos, das análises,
das discussões felizes,
das trocas afetivas, mas
mantendo cacoetes
dispensáveis que
afivelam à mediunidade
propriamente dita,
predispondo-se muitas
vezes ao surto anímico
ou às investidas
mistificadoras, que
proliferam nos terrenos
onde vigora a
invigilância.
Poucos dirigentes
espíritas sabem que não
deve ser qualquer médium
convidado para atender
aos trabalhos
desobsessivos. Não é por
ser psicofônico, vidente
ou psicógrafo que um
médium terá condições
gerais para participar
de trabalhos tão graves,
tão sérios. Pessoas que
mantêm o tabagismo, o
alcoolismo ou o uso de
quaisquer outras drogas
de tropismo neurológico;
indivíduos que mantêm-se
nas faixas da
prostituição sexual, por
mais modernas que
estejam tais práticas
nas metrópoles e
quejandos, certamente
não serão os mais
recomendados para
atender nessas sessões.
Mas pessoas de língua
grande, que não sabem
guardar a discrição
exigida por esses
labores bem como as que
portam desarranjos
emocionais, que gritam,
que se acabam de chorar
se chove ou se faz sol,
não devem ser chamadas
para tão sérios
compromissos.
São encontrados ainda,
em muitas instituições,
médiuns que não se
falam, que estão
brigados, participando
dos serviços de
mediunidade com o
objetivo de atender à
desobsessão. Acintes
desses tipos contribuem
bastante para que as
sessões vão deixando aos
poucos de ser sessões de
desobsessão para
converter-se em sessões
de obsessão. São,
realmente, muitas as
possíveis causas do
esvaziamento das
condições espirituais de
uma atividade
desobsessiva, mas,
fundamentalmente,
encontramos como causa
primordial o próprio ser
humano, inadaptado às
disciplinas, desejoso de
fazer o que lhe dá na
cabeça, ou, pela
ausência de conhecimento
e maturidade,
tornando-se instrumento
de fascinadores, de
mistificadores que,
quando não os torna
grandes empeços no corpo
das sessões, afastam-nos
do grupo, a fim de
explorá-los mais
facilmente, impondo-lhes
a perda da oportunidade
reencarnatória. Somente
a seriedade do trabalho,
baseado no estudo sério
e continuado, da ação
fraternal em favor dos
necessitados a nossa
volta associada aos
esforços pela
autotransformação, farão
com que retornemos às
sessões de desobsessão
que reflitam o
Pentecostes, em cuja
estrutura os filhos do
Calvário, os caídos e os
sedentos de luz poderão
reencontrar o coração
vivo e amoroso do Mestre
Jesus.
Extraído de entrevista
publicada no jornal O
Imortal de março de
2009.