LEONARDO MARMO MOREIRA
leonardomarmo@gmail.com
São José dos Campos, São
Paulo (Brasil)
Relações
ecológicas
e evolução anímica
As relações ecológicas,
incluindo o predatismo,
constituem um dos
aspectos mais decisivos
para o equilíbrio
material do planeta.
Entretanto, tais
relações apresentam uma
relevância ainda mais
dilatada, se levarmos em
consideração os aspectos
espirituais desta
questão. De fato, as
relações ecológicas
possuem um profundo
significado em termos de
evolução espiritual para
o princípio inteligente
na fase Pré-hominal. É
muito interessante
notar, que, no reino
animal, nem sempre os
indivíduos realmente
mais fortes e aptos
fisicamente desenvolvem
o papel de predador.
Além disso, na disputa
entre predadores por
território e pelas
presas, não
necessariamente os
animais mais fortes
apresentam um
predomínio, que seria de
se esperar analisando
simplesmente a força
física e as habilidades
de luta de cada espécie.
Essa mesma linha de
raciocínio também pode
ser aplicada às chamadas
“presas”, isto é, os
animais predados, pois
há um número
significativo de casos
em que as espécies
fisicamente mais frágeis
não constituem, na
prática, nos animais
mais facilmente
“caçáveis”.
Isto ocorre em função da
capacidade de trabalho
em equipe de cada uma
das espécies. Realmente,
a capacidade de
trabalhar sinergicamente
em relação ao grupo é
algo decisivo para
defender filhotes,
confrontar inimigos
muitas vezes maiores
e/ou mais bem dotados
fisicamente e
desenvolver estratégias
não poucas vezes
complexas de comunicação
e de organização frente
a diversos tipos de
perigo. De fato, nem
todos os animais
conseguem utilizar
eficientemente vantagens
táticas como é o caso da
superioridade numérica.
Como seria possível a um
cão selvagem ou a uma
hiena confrontar
individualmente um leão
ou um leopardo? A
desproporcional
diferença de força
física entre esses
animais praticamente
inviabiliza este tipo de
confronto quando os
exemplares de cada
espécie se encontram em
confronto individual.
Entretanto, quando se
trata de famílias, clãs
ou grupos, intensos
combates ocorrem,
naquilo que poderíamos
considerar as origens
das batalhas que
diversas vezes
testemunhamos nas
guerras humanas entre
diferentes povos e
países. E, de fato, este
tipo de embate muitas
vezes apresenta relativo
equilíbrio de forças
entre os respectivos
grupos rivais. Este
fato, que não deixa de
apresentar aspectos
surpreendentes,
demonstra que a
organização sinérgica
como um time é
fundamental para o
ataque e para a defesa
do grupo de animais. Os
canídeos selvagens, por
exemplo, formam grupos
muito unidos e bem
organizados e,
geralmente, atuam de
maneira extremamente
colaborativa e
inteligente para
aproveitarem vantagens,
como é o caso da
frequente superioridade
numérica.
Suricates trabalham em
conjunto para confundir
e se defender de
predadores como cobras e
águias. No caso das
cobras, os suricates
tentam desviar a atenção
de predador para que o
inimigo não identifique
a real localização da
toca dos suricates. Já
com relação às aves de
rapina, um complexo
sistema de comunicação é
acionado para que
rapidamente todos se
escondam na própria toca
evitando a captura pelo
predador através dos
voos rasantes das
referidas aves.
Por outro lado, existem
igualmente confrontos
entre grupos de
predadores, ou seja, de
animais de porte menos
discrepante. Este é o
caso, por exemplo, da
luta entre leões e
búfalos; leões e
elefantes, entre
outros.
Neste contexto, vale
registrar que animais
como as zebras não
apresentam táticas de
defesa mais elaboradas,
ou seja, não se
organizam de maneira
efetiva, do ponto de
vista da colaboração
mútua, sobretudo quando
submetidos a um ataque
de predadores. Em suma,
tais animais não lutam
em conjunto, não
partindo de forma
organizada para tentar
rechaçar o ataque. Estes
animais não demonstram
agir como uma “equipe de
batalha” para
confrontarem felinos ou
cães selvagens ou
hienas, como acontece
com outros animais que
se defendem de forma
mais eficaz.
Ora, a zebra é um animal
de grande força física e
de elevada inteligência.
Portanto, não saberíamos
dizer por que esse tipo
de comportamento mais
passivo frente aos
predadores é a praxe
para esses tipos de
animais. Poderíamos
especular que se trata
de grupos muito
numerosos, tal como
ocorre com os gnus, e,
obviamente, a
organização e o
gerenciamento de grupos
tão expressivos
numericamente podem se
tornar impraticáveis.
Mas, ainda assim, vale
questionar o motivo da
evolução ter ratificado
tais grupos numerosos se
essa organização é mais
suscetível do ataque de
predadores. Certamente,
há outras vantagens
estratégicas mais
globais para a
totalidade do grupo que
prevalecem em relação a
vantagens mais pontuais
para um ou poucos
indivíduos. De fato, em
animais menos evoluídos
do que os mamíferos, há
precedentes para
respaldar essa hipótese.
Este é o caso das
abelhas, as quais
possuem um temido ferrão
detentor de substâncias
irritantes para ser
inoculado nos inimigos.
Acontece que quando tais
ferrões são utilizados
como armas de defesa
e/ou ataque, o espécime
que ferroou o adversário
morre automaticamente.
Tal situação é muito
sugestiva, pois a
seleção natural deveria
ratificar ferramentas
que viabilizassem a vida
do animal e não o
contrário, ou seja, no
momento da defesa, o
indivíduo
necessariamente morrer.
Segundo estudiosos da
questão, tal fato
indicaria que o mais
importante neste caso
não seria a vida do
espécime
individualmente, mas de
seu grupo, que no caso
seria toda a colmeia.
Desta forma, a abelha
operária, por exemplo,
se sacrificaria pela
coletividade.
Obviamente, aquilo que
se aplica aos insetos
não necessariamente se
aplicaria a mamíferos
dos mais inteligentes,
como as zebras, mas,
pelo menos, serve de
parâmetro para reflexões
e estudos futuros mais
profundos.
De qualquer maneira, do
ponto de vista da
evolução anímica do
princípio espiritual,
essas relações
ecológicas são muito
instrutivas, pois
demonstram que a
organização de famílias
e clãs bem como o
desenvolvimento de
estratégias em conjunto
para a defesa do grupo
trata-se de aspecto
fundamental para a
sobrevivência de toda
uma espécie. Certamente,
a providência divina
utiliza desses
mecanismos muitas vezes
penosos, como é o caso
do predatismo, para
forjar nos seres
espirituais em início de
processo evolutivo
rudimentos de
inteligência e de amor,
assim como de
companheirismo e de
senso de solidariedade
(ajuda mútua).
Para nós, seres humanos
(seres espirituais que
atingiriam a condição
hominal),
indiscutivelmente, as
dificuldades na
conquista do “pão
material” e a luta
cotidiana da vida
requerem muita
intelectualidade,
inteligência emocional,
senso de trabalho de
equipe, paciência,
estratégia, resignação,
perseverança e
resistência moral frente
a frustrações. Por outro
lado, essas mesmas lutas
aprimoram esses valores,
desenvolvendo-os e
desmembrando-os em novas
habilidades e
aquisições, ou, em
termos evangélicos, em
“novos talentos”,
conforme a belíssima
Parábola que Jesus nos
ensinou.
Todavia, é interessante
notar que, guardadas as
devidas proporções e
nuances inerentes a cada
estágio evolutivo do
princípio espiritual,
esse processo já começa
de uma forma bem
significativa na
passagem do princípio
anímico pelo reino
animal, principalmente
em se tratando de
mamíferos. “O átomo será
anjo, assim como o anjo
já foi átomo”, nos
ensina a Falange do
Espírito de Verdade em
O Livro dos
Espíritos, o que
denota que não há
descontinuidade em nosso
processo evolutivo.