MARCELO SENEDA
marcelo.seneda@gmail.com
Londrina, Paraná
(Brasil)
A
verdadeira
democracia
e o
aborto
Os ativistas
pró-aborto, em
geral,
apresentam-se
como indivíduos
de mente aberta,
progressistas e
defensores do
amplo direito
democrático. Sou
convicto de que
a maioria está,
realmente,
preocupada em
oferecer
condições para
uma sociedade
mais justa e
equilibrada.
No entanto,
independente de
quaisquer
argumentos
religiosos,
científicos, ou
de saúde
pública, sou
visceralmente
contra o aborto,
pois é o maior
desrespeito à
democracia, à
liberdade de
expressão, de
que tenho
conhecimento.
Todos nós,
indivíduos em
exercício da
vida, sejamos
crianças,
jovens, adultos
ou senis, já
estagiamos nas
fases
embrionária e
fetal, no útero
materno. Se
estamos aqui
hoje, é porque
nossas mães
permitiram o
nascimento de
cada um de nós.
Em uma fase
temporária de
total
incapacidade de
expressão,
tivemos
assegurado o
nosso direito à
vida. Após esse
passageiro
período de
limitação,
começamos, desde
a tenra
infância, a
expressar nossas
vontades,
desejos,
opiniões.
Iniciamos nossa
interação com os
semelhantes,
aprendemos,
erramos,
crescemos. Mas,
acima de tudo,
exercemos nossa
liberdade de
expressão. E
tudo isso graças
ao direito de
termos sido
respeitados na
fase
intrauterina,
quando ainda não
podíamos nos
manifestar.
Quando vejo
alguém se
posicionar a
favor do aborto,
sempre penso:
“Agora que essa
pessoa já pode
opinar, dá-se ao
direito de
impedir o outro
de se
expressar”.
Trata-se de
impedir aos
demais uma
condição já
conquistada para
si. Porque todos
os defensores do
aborto já
estiveram como
embrião, como
feto. E houve
quem lhes
resguardasse a
liberdade de
viver, mesmo
quando ainda não
podiam se
expressar. E
como é que essas
pessoas se
julgam no
direito de
impedir a
manifestação do
outro?!
Os defensores do
aborto já
pensaram que
poderiam não
estar aqui? Por
mais que eu seja
contrário ao
aborto,
considero
sagrado o
direito das
pessoas
pró-aborto se
manifestarem.
Sejam elas
adultas, jovens
ou estejam para
nascer. Mas quem
defende o aborto
quer,
simplesmente,
eliminar o
direito de
manifestação
daqueles
indivíduos por
nascer.
Justamente na
fase mais
crítica de
nossas vidas,
quando ainda não
podemos nos
defender.
Na sociedade
moderna, os
segmentos com
restrições à
livre
manifestação são
cada vez mais
protegidos.
Portadores de
necessidades
especiais,
minorias
étnicas, povos
subjugados,
todos esses
grupos são cada
vez mais
amparados, por
toda sociedade,
para tornar
possível a livre
manifestação de
seus interesses
e a liberdade de
expressão. Há
muitas vozes em
defesa dos
mudos, muitos
olhares sobre as
necessidades dos
cegos, muitas
mãos amparando
os amputados,
mentes
brilhantes
zelando pelos
deficientes
mentais. Essa
tendência
progressiva e
louvável de
igualdade social
é uma
manifestação
clara do
progresso moral
da humanidade.
Por isso minha
indignação,
quando vejo
ativistas
pró-aborto se
apresentarem
como
progressistas e
democráticos.
Porque, quem já
conquistou um
direito – a vida
– deve, no
mínimo, lutar
para que todos
usufruam desse
mesmo direito.
Isso sim é
democracia, é
igualdade de
direitos. Por
outro lado,
julgar um
direito alheio,
à revelia do
interessado, é,
no mínimo, uma
injustiça.
São cada vez
mais difundidas
as informações
para se prevenir
uma gestação
indesejada. Nos
dias atuais,
começa a soar de
maneira quase
inverossímil o
argumento de uma
gravidez não
pretendida.
Afinal, com a
gratuidade (ou
quase) da
camisinha, com
campanhas de
orientação cada
vez mais
frequentes (e
precoces), com o
baixo custo das
pílulas
anticoncepcionais,
está cada vez
mais viável se
obter
informações e
recursos para se
evitar a
gestação. Além
de uma educação
sexual séria,
acredito que a
valorização da
autoestima é a
chave para uma
vida plena,
capaz de
proporcionar o
exercício da
sexualidade de
maneira
equilibrada e
consciente.
Acima de tudo,
vamos
privilegiar a
verdadeira
consciência
democrática. Se
já adquirimos o
direito à vida,
é nosso dever
zelar para que
os próximos
indivíduos
também usufruam
desse direito.
Vamos garantir a
liberdade de
expressão de
todos, dos que
já nasceram e
dos que vão
nascer. Essa é a
sociedade
evoluída pela
qual todos
almejamos.
Marcelo Seneda é
professor de
Medicina
Veterinária da
Universidade
Estadual de
Londrina-PR.