MARCOS PAULO DE OLIVEIRA SANTOS
mpoliv@bol.com.br
Taguatinga, Distrito Federal (Brasil)
Jogaram
água na fervura
Ainda recordo-me do
alvoroço em escala
global causado pela
candidatura de Barack
Obama, cujo lema “Yes, we can” (Sim, nós
podemos), deixou a todos
embevecidos e com
esperanças de um mundo
melhor. Dentre os
discursos proferidos por Obama no acalorado
período de eleições
daquele país, estava o
fim da guerra no Iraque,
já que uma parcela
considerável do seu
partido era contrária à
guerra e aos vultosos
investimentos nas ações
bélicas. Mas,
paradoxalmente, ele
mesmo era favorável ao
incremento da força no
Afeganistão.
Ele – um homem jovem,
negro, inteligente e
portador de um carisma
mundial –, defendeu as
instituições família e
religião; apregoava o
amor à pátria,
instigando o ufanismo
quase irracional dos
norte-americanos... Obama era o arquétipo
ideal da “mudança”. E
por isso merecia a
vitória sobre o
conservador McCain.
O tempo passou...
E a Obamamania
foi tão intensa que os
comitês e instituições
que realizam a escolha
do prêmio Nobel da Paz
decidiram homenageá-lo.
Certamente, esses
organizadores estavam
delirando e sofriam
(como a população
mundial) de altos picos
de febre. Em verdade,
Obama não fez nada pela
concretização da paz
mundial, ao contrário,
sua política
sub-reptícia
fomenta cisões e o mundo
estertora.
Na entrega do galardão,
Obama asseverou ser
adepto da filosofia da
não-violência de ícones
mundiais como Martin
Luther King e Mohandas
Gandhi, todavia,
justificou que em
determinados contextos
para a preservação da
paz faz-se necessária a
guerra. Asseverou que
“onde a força for
necessária, temos um
interesse estratégico e
moral em respeitarmos
determinadas regras de
conduta. E mesmo quando
enfrentamos um
adversário imoral, que
não respeita regra
nenhuma, acredito que os
Estados Unidos devem
permanecer exemplares no
respeito pelas leis da
guerra”.
Em dezembro de 2009, ele
enviou 30 mil soldados
norte-americanos ao
Afeganistão;
constantemente fez
solicitações ao
congresso americano de
maiores investimentos em
armamentos de guerra,
para a manutenção da
irracionalidade humana.
Teve um intrincado
problema com a prisão em
Guantánamo. E,
recentemente, vendeu
armas a Taiwan
aumentando a tensão nas
relações com a China.
Sem mencionarmos a
guerra (que ele não fez
questão de lutar e a
única que se justifica)
contra os graves
problemas climáticos que
solapam o planeta Terra
e que foi alvo de muita
discussão e pouca ação
em Copenhagen.
Uma flagrante
contradição: querer a
paz, fomentando guerras.
(Viva a hipócrita beleza
americana!).
Não existem
justificativas para as
guerras. Quando se vai
para um confronto armado
é porque a
racionalidade, que nos
difere dos animais ditos
inferiores, foi colocada
de lado e somente a ação
por meio da força se faz
sentir. Tola ação da
“civilização” hodierna.
Não se esperam essas
atitudes de um Nobel da
Paz. Definitivamente,
jogaram água na fervura.
O caldo desandou, perdeu
o sabor.
Ele é mais um que
perpetua as políticas
anteriores de Bush.
(Ainda há tempo para
mudança, se ele de fato
acreditar no “Yes, we
can” e adotar políticas
mais humanitárias.)
Mas Obama deve
compreender que não foi
com guerras que Albert
Schweitzer, Martin
Luther King Jr., Madre
Teresa de
Calcutá concretizaram
mudanças significativas
no mundo, se fizeram
ouvir, serem respeitados
e seguidos por multidões
(diga-se de passagem,
que todos esses foram
laureados com o Nobel da
Paz). E tampouco foram
outorgados presidentes
de nações. Mas foram
considerados líderes
globais, porque suas
filosofias e suas
crenças de amor e
respeito ao próximo
pautaram suas ações que
contagiaram toda a
família humana. Aliás,
essa deve ser a postura
de todos aqueles que
militam nas lides
espiritistas.