ORSON PETER
CARRARA
orsonpeter@yahoo.com.br
Matão, São Paulo
(Brasil)
Inveja nos e
entre
os médiuns
Desgosto pelo
bem alheio ou
desejo de
possuir o que
outro tem estão
entre as
situações
geradoras da
inveja.
Sentimento
originário das
paixões
negativas e
fomentador de
angústias,
situa-se
distante de
comportamento ou
postura que
classifique seu
possuidor como
da classe dos
Bons Espíritos,
conforme
indicação da
Escala Espírita
(questão 100 de
O Livro dos
Espíritos).
De acordo com a
citada Escala,
informa a citada
obra básica1:
“(...) Quando
encarnados, são
bondosos e
benevolentes com
os seus
semelhantes. Não
os movem o
orgulho, nem o
egoísmo, ou a
ambição. Não
experimentam
ódio, rancor,
inveja ou ciúme
e fazem o bem
pelo bem (...)”,
na questão 107.
Breve pesquisa
no subtítulo
Egoísmo –
capítulo XII,
livro III, nas
questões 913 a
917 da mesma
obra em
referência –
permite entender
com facilidade
que a inveja é
derivada daquele
que é
considerado como
o vício mais
radical e
considerado
verdadeira chaga
da sociedade:
exatamente o
egoísmo.
Referidas
questões
oferecem vasto
material de
reflexões. Em
toda a obra,
inclusive, o
sentimento de
inveja ou a
própria palavra
é citada
inúmeras vezes
pelo Codificador
e pelas
respostas dos
Espíritos.
Sendo um
sentimento
humano, próprio
da condição
atual em que
estagia a
humanidade,
superável com a
inevitável
evolução a que
nos destinamos,
também está
presente
naqueles que nos
aproximamos da
Doutrina
Espírita, por
razões de
diferentes
origens. E, como
não poderia
deixar de ser –
até pela nossa
própria condição
humana de seres
imperfeitos –,
está presente
também no uso e
exercício da
mediunidade.
Também em O
Evangelho
segundo o
Espiritismo,
no capítulo V –
item 13, no
subtítulo
Motivos de
Resignação
–, Kardec
pondera2:
“(...)
com a inveja, o
ciúme e a
ambição,
voluntariamente
se condena à
tortura e
aumenta as
misérias e as
angústias da sua
curta
existência”,
entre outras
citações
constantes da
mesma obra.
No próprio O
Livro dos
Médiuns
igualmente há o
destaque de que
dentre os
defeitos morais
que afastam os
médiuns da
assistência dos
bons Espíritos
está a inveja,
conforme se pode
encontrar no
capítulo XX da
segunda parte –
Da Influência
Moral do Médium.
Muito claro
entender as
razões.
A própria
Revista Espírita,
na moderníssima
edição3
da Federação
Espírita
Brasileira, cujo
volume exclusivo
do Índice
Geral (1858
– 1869) permite
pesquisar com
grande
facilidade os
temas desejados,
informa o
quesito
Inveja com
cinco indicações
de pesquisa
naquela
publicação
fundada por
Kardec.
Dentre as
inúmeras
possibilidades
de abordagem,
face ao extenso
material
disponível nas
publicações
citadas, optamos
pela comunicação
assinada pelo
Espírito Luos,
que foi enviada
pelo Sr. Ky...,
correspondente
da Sociedade
Parisiense de
Estudos
Espíritas em
Carlaruhe.
Referida
mensagem foi
incluída por
Kardec na
Revista Espírita
de abril de 1861
com o título
Sobre a Inveja
nos médiuns,
acrescida de
comentário
pessoal do
Codificador, em
texto inspirador
da presente
abordagem.
Comenta o
Espírito autor
do texto:
“(...) Sede
humildes de
coração, vós a
quem Deus
permitiu
participásseis
de seus dons
espirituais. Não
atribuais nenhum
mérito a vós
mesmos (...).
Lembrai-vos bem
de que não
passais de
instrumentos de
que Deus se
serve para
manifestar ao
mundo o seu
Espírito
onipotente, e
que não tendes
nenhum motivo
para vos
glorificardes de
vós mesmos. Há
tantos médiuns,
ah! que se
tornam vãos, em
vez de humildes,
à medida que
seus dons se
desenvolvem!
Isso é um atraso
no progresso,
pois no lugar de
ser humilde e
passivo, muitas
vezes o médium
repele, por
vaidade e
orgulho,
comunicações
importantes
dadas a lume por
outros mais
merecedores.
(...)”.
Depois dessas
importantes
considerações
estimuladoras da
humildade, o
autor espiritual
adentra na
questão da
inveja e
afirma:
“(...) No médium
a inveja é tão
temível quanto o
orgulho; prova a
mesma
necessidade da
humildade. (...)
Não é mostrando
inveja dos dons
do vosso vizinho
que recebereis
dons
semelhantes,
porquanto, se
Deus dá muito a
uns e pouco a
outros, ficai
certo de que,
assim agindo,
tem um motivo
bem fundado. A
inveja exaspera
o coração; abafa
mesmo os
melhores
sentimentos. É,
pois, um inimigo
que só se
poderia evitar
com muito
cuidado, pois
não dá nenhuma
trégua, uma vez
que se apoderou
de nós. Isto se
aplica a todos
os casos da vida
terrena. Mas eu
queria falar
principalmente
da inveja entre
os médiuns, tão
ridícula quanto
desprezível e
infundada, e que
prova quão fraco
é o homem quando
se deixa
escravizar pelas
paixões”.
Notem a
conclusão do
Espírito
referindo-se às
paixões. Nesse
capítulo, para
ampliar o
entendimento, é
de muita
utilidade uma
pesquisa em O
Livro dos
Espíritos,
na abordagem
específica
constante das
questões 907 a
912.
Na abordagem
específica
constante da
Revista Espírita,
aqui em
destaque, Kardec
comenta a
mensagem,
acrescentando a
reação do grupo
com a leitura da
mensagem,
inclusive em
virtude da
comparação sobre
a inveja dos
médiuns com a
dos sonâmbulos.
O texto merece
ser lindo na
íntegra, no
original da
obra, mas o
objetivo aqui é
abordar
exatamente a
inveja. O
comentário
lúcido de Allan
Kardec se faz
presente com
precisão:
“(...) Um médium
tem inveja de
outro médium
porque está em
sua natureza ser
invejoso. Esta
falha,
consequência do
orgulho e do
egoísmo, é
essencialmente
prejudicial à
boa qualidade
das comunicações
(...). Os
Espíritos
simpatizam com
ele em razão de
suas qualidades
ou de seus
defeitos. Ora,
os defeitos mais
antipáticos aos
bons Espíritos
são o orgulho, o
egoísmo e a
inveja. (...)”.
Ora, eis a
precisão para o
caminho do
equilíbrio no
intercâmbio com
os bons
Espíritos: o
libertar-se
desses
sentimentos
contrários à
própria proposta
do Espiritismo.
Quantos
prejuízos não
são advindos da
inveja nos
médiuns e entre
os médiuns?
Quantas
decepções e
contrariedades
não podem ser
evitadas, desde
que nos
disponhamos a
exercer com
humildade o
mandato
mediúnico?
Não é ao acaso
que o
Codificador, em
seu Discurso de
1º de abril de
1862, na
Sociedade
Parisiense de
Estudos
Espíritas, em
precioso texto
disponível na
mesma Revista
Espírita, de
junho de 1862,
declara com
muita
propriedade:
“(...) como
discutir
comunicações com
médiuns que não
admitem a menor
controvérsia,
que se ofendem
com uma
observação
crítica, com um
simples
comentário, e
ficam
contrariados
quando não são
aplaudidos pelas
coisas que
recebem, mesmo
aquelas eivadas
das mais
grosseiras
heresias
científicas?
(...) Essa
imperfeição, em
médiuns assim
atingidos, é um
enorme obstáculo
ao estudo (...),
não podemos nos
eximir de
discutir, mesmo
com o risco de
desagradar aos
médiuns. (...)”
Observações
lúcidas e
extremamente
atuais, não é
mesmo?
E notem o
detalhe da
inveja: “(...)
Alguns levam a
sua
susceptibilidade
a ponto de se
escandalizarem
com a prioridade
dada à leitura
das comunicações
recebidas por
outros médiuns.
Quando é que uma
comunicação é
preferida à sua?
(...)”.
A clara e
fraterna
advertência de
Kardec, cabível
nas dificuldades
humanas atuais,
é um convite
claro para
vencermos esses
obstáculos à boa
sintonia com os
Benfeitores
Espirituais que
nos cercam de
carinhos e
estímulos no
bem.
Vencendo-os,
teremos reuniões
mais produtivas,
com resultados
seguros,
promovendo o bem
e o progresso da
equipe
envolvida, nas
bênçãos próprias
da atividade
mediúnica
orientada pelo
Espiritismo.
Referências:
1
– Edição FEB,
tradução Guillon
Ribeiro.
2
– Edição FEB,
tradução Guillon
Ribeiro.
3
– Tradução de
Evandro Noleto
Bezerra.