A Revue Spirite
de 1865
Allan Kardec
(Parte
18)
Damos prosseguimento ao
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1865. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 20
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Que é que os
Espíritos dizem a
respeito do futuro do
Espiritismo?
Várias foram as
mensagens recebidas na
Sociedade Espírita de
Paris a respeito do
assunto. Eis alguns
tópicos extraídos dessas
mensagens: A) O
Espiritismo continuará
sua marcha através dos
embustes e dos escolhos,
inabalável como tudo o
que está na vontade de
Deus, porque se apoia
nas leis da natureza. B)
Pela luz que lança sobre
os pontos obscuros e
controvertidos das
Escrituras, ele
conduzirá os homens à
unidade de crença e
fundará o reino da
verdadeira caridade
cristã, que é o reino de
Deus sobre a Terra,
predito por Jesus. C)
Muitos ainda o repelem
porque não o conhecem ou
não o compreendem. Mas
quando reconhecerem que
ele realiza as mais
caras esperanças do
futuro da humanidade,
aclamá-lo-ão e, da mesma
maneira que o
Cristianismo encontrou
um suporte em Paulo de
Tarso, ele também
encontrará defensores
entre os adversários da
véspera.
(Revue Spirite de 1865,
pp. 299 e 300.)
B. Que fato inabitual
ocorreu durante as
exéquias do Sr. Nant?
Nas exéquias do referido
confrade, companheiro de
Kardec na Sociedade
Espírita de Paris, o
Codificador pronunciou
breves palavras,
transcritas, a pedido da
família, pela Revue.
No momento em que
fechou os olhos, um dos
seus netos, de dez anos,
tomado de violenta
emoção, foi subitamente
adormecido pelos
Espíritos e, no seu
êxtase, viu a alma de
seu avô, acompanhada por
uma porção de Espíritos,
elevar-se no espaço,
embora presa ainda ao
corpo pelo cordão
fluídico.
(Obra citada, pp. 310 a
312.)
C. Gabriel Delanne, aos
oito anos de idade, foi
protagonista de um
curioso fenômeno. Como
se deu o fato?
O fato ocorrido com o
filho de Alexandre
Delanne – o menino
Gabriel, que anos depois
se tornaria um dos mais
importantes autores
espíritas – é relatado
pela Revue. Foi
uma experiência de
tiptologia que Gabriel,
auxiliado por três
crianças de sete, cinco
e quatro anos, realizou
a pedido de uma senhora.
Após a evocação, Gabriel
pediu a ela que
perguntasse quem
respondia. A mulher
interrogou e a mesa
soletrou duas palavras:
Teu pai. Na
sequência, a pedido
dela, o Espírito deu
três provas de que era
seu pai quem ali se
manifestava. Kardec diz
que não era a primeira
vez que a mediunidade se
revelava em crianças e o
que ocorreu fora já
anunciado numa célebre
profecia: Vossos
filhos e vossas filhas
profetizarão. (Atos,
2:17.)
(Obra citada, pp. 312 a
314.)
Texto para leitura
208. O Codificador
retificou, no entanto,
seu pensamento de que
tais objetos – copos,
garrafas, vidros, placas
metálicas etc. – eram
absolutamente
desnecessários à
produção do fenômeno,
isto é, que todo
indivíduo, vendo com o
concurso deles, poderia
ver perfeitamente bem
sem eles. O ensinamento
recebido então de parte
dos Espíritos mostra que
essa ideia é errônea.
Eis a explicação:
Estando o olhar do
vidente concentrado no
fundo do copo, o reflexo
brilhante deste age
sobre os olhos, depois
sobre o sistema nervoso,
e provoca uma espécie de
meio sonambulismo, um
sonambulismo desperto,
no qual a alma,
desprendida da matéria,
adquire a clarividência
e a segunda vista. Além
disso, existe uma certa
relação entre a forma do
fundo do copo e a forma
exterior ou disposição
de seus olhos. (Págs.
279 a 284.)
209. Para o vidente de
Zimmerwald, o copo era,
assim, um meio de
desenvolver e fixar sua
lucidez, e absolutamente
necessário, porque nele,
não sendo o estado de
lucidez permanente,
necessitava ser
provocado. Um outro copo
não poderia
substituí-lo, porquanto
um objeto que produz
numa pessoa esse efeito
pode nada produzir em
outra. (Pág. 284.)
210. Complementando o
estudo dos chamados
espelhos psíquicos,
Kardec conclui, então: I
– Que o emprego de
agentes artificiais é
inútil ou desnecessário
aos indivíduos cuja
visão psíquica seja
espontânea ou
permanente. II – Que
esses agentes são
necessários quando a
faculdade necessita ser
superexcitada. III –
Que, devendo esses
agentes ser apropriados
ao organismo da pessoa,
o que provoca ação sobre
uma nada provoca sobre
outras. É por isso que a
carta posta debaixo do
copo, em vez de
facilitar o fenômeno, o
perturbava, visto que
modificava a natureza do
reflexo que lhe é
próprio. IV – Que os
corpos vulgarmente
chamados espelhos
mágicos não passam
de agentes hipnóticos,
indefinidamente variados
em suas formas e
efeitos, conforme a
natureza e o grau das
aptidões dos indivíduos.
(Págs. 284 a 286.)
211. A Revue
transcreve carta de um
correspondente em que
este narra o diálogo
mantido com o Espírito
de um sacerdote católico
– o padre D... –
recentemente
desencarnado, o qual
fora, em vida, um
adversário declarado do
Espiritismo. (Pág.
287.)
212. Evocado no grupo
espírita, o padre D...
se disse convencido da
realidade das
manifestações espíritas.
“Sim – reconheceu ele –,
os Espíritos se
comunicam, e não são
apenas os demônios,
como nós ensinamos.” O
padre mantinha, no
entanto, curiosamente,
sua opinião de que a
expansão do Espiritismo
não seria um bem, mas um
mal para a sociedade. As
divisões operadas no
seio dos espíritas
constituíam, a seu ver,
um perigo e indicavam
que o Espiritismo, como
as doutrinas filosóficas
que o precederam, não
teria vida longa.
(Págs. 287 a 291.)
213. Kardec analisa em
profundidade os
argumentos do sacerdote
desencarnado e tece a
respeito diversas
considerações, adiante
resumidas: I – Dizer que
o Espiritismo é bom por
sua essência e mau por
seus resultados, como
afirmou o padre D..., é
ir contra a lógica, é
esquecer a máxima do
Cristo, tornada
proverbial: “Uma árvore
boa não pode dar maus
frutos”. II – Não foi o
Espiritismo quem
inventou a manifestação
dos Espíritos, nem é a
causa de sua
comunicação. Ele apenas
constata um fato, que se
produziu em todos os
tempos, porque está na
natureza. III – Para que
o Espiritismo deixasse
de existir, fora preciso
que os Espíritos
cessassem de se
manifestar. IV – A
influência dos maus
Espíritos faz parte dos
flagelos a que o homem
está sujeito neste
mundo, como as doenças e
os acidentes de toda
sorte. Mas, como ao lado
do mal Deus sempre põe o
remédio, o Espiritismo
vem indicar o remédio
para esse flagelo,
ensinando que para
neutralizar a influência
dos maus Espíritos é
preciso tornar-se
melhor, dominar as más
inclinações, praticar as
virtudes ensinadas pelo
Cristo: a humildade e a
caridade. V – Aprovar a
oposição da Igreja ao
Espiritismo porque a
aceitação deste seria a
ruína do clero é atitude
inconcebível. O clero
seria movido assim por
sentimentos tão
mesquinhos? Ignorariam
os sacerdotes as
palavras do Cristo: “Meu
reino não é deste
mundo”? Prefeririam
manter as aparências na
Terra, para assegurar
seus interesses
terrenos, a aceitar a
realidade espírita e
suas consequências? VI –
Se as divisões operadas
entre os espíritas
tivessem como
consequência a ruína do
Espiritismo, por que
isso não se deu com o
Cristianismo? Ignora o
padre a multiplicidade
de seitas que têm
dividido e muitas vezes
ensanguentado a doutrina
cristã e cujo número não
se eleva a menos de
trezentos e sessenta?
VII – O Espiritismo não
é uma teoria
especulativa, baseada em
ideias preconcebidas. É
uma questão de fato e,
por consequência, de
convicção pessoal. E ele
é forte precisamente
porque se apoia sobre um
conjunto formidável de
vozes cuja concordância
universal vale bem a de
um concílio ecumênico.
VIII – O padre D...
predisse o seu fim
próximo, mas inúmeros
vultos encarnados e
desencarnados também
fizeram o seu horóscopo,
num outro sentido, e
suas previsões se
sucedem
ininterruptamente e se
repetem em todos os
pontos do globo.
(Págs. 291 a 299.)
214. Fechando sua
resposta ao padre D...,
Kardec reporta-se a uma
das muitas mensagens
pertinentes ao futuro do
Espiritismo, de que
destacamos os tópicos
seguintes: A) O
Espiritismo continuará
sua marcha através dos
embustes e dos escolhos,
inabalável como tudo o
que está na vontade de
Deus, porque se apoia
nas leis da natureza. B)
Pela luz que lança sobre
os pontos obscuros e
controvertidos das
Escrituras, ele
conduzirá os homens à
unidade de crença e
fundará o reino da
verdadeira caridade
cristã, que é o reino de
Deus sobre a Terra,
predito por Jesus. C)
Muitos ainda o repelem
porque não o conhecem ou
não o compreendem. Mas
quando reconhecerem que
ele realiza as mais
caras esperanças do
futuro da humanidade,
aclamá-lo-ão e, da mesma
maneira que o
Cristianismo encontrou
um suporte em Paulo de
Tarso, ele também
encontrará defensores
entre os adversários da
véspera. (Págs. 299 e
300.)
215. A passagem pela
Europa dos irmãos
Davenport, dois jovens
de 24 e 25 anos,
nascidos em Buffalo,
Estado de Nova York
(EUA), é noticiada pela
Revue. A
faculdade dos médiuns
americanos era limitada
a efeitos físicos, dos
quais o mais notável
consistia em se fazerem
amarrar com cordas de
maneira inextricável e
se desatarem
instantaneamente, por
uma força invisível, a
despeito de todas as
precauções tomadas para
verificar como o fato se
dá. O transporte de
objetos, o toque
espontâneo de
instrumentos musicais e
a aparição de mãos
luminosas constituíam
também parte do seu
repertório. Apesar
disso, a apresentação
deles a 12 de setembro
de 1865, na sala Hertz,
em Paris, foi deplorável
e quase terminou em
tragédia. (Págs. 300
a 303.)
216. A polêmica
suscitada a respeito do
fato levou o Codificador
a fazer, valendo-se da
Revue, diversas
considerações sobre a
mediunidade em geral,
adiante resumidas: I – A
necessidade da
obscuridade nas sessões
de efeitos físicos
presta-se,
indubitavelmente, à
suspeita e facilita as
fraudes. É preciso, no
entanto, compreender que
em química há também
combinações que não se
podem operar à luz. Ora,
sendo os fenômenos
espíritas o resultado de
combinações fluídicas, e
sendo os fluidos
matéria, não é de
admirar que, em certos
casos, o fluido luminoso
seja contrário a essas
combinações. II – A
mediunidade é uma
aptidão natural
inerente ao médium, mas
para que o médium
produza efeitos
mediúnicos são precisos
os Espíritos, que vêm
quando querem e quando
podem. III – O médium
sério é modesto, não se
envaidece do que não é
produto do seu talento,
nem promete o que de si
não depende. IV – As
condições inerentes à
mediunidade não podem,
pois, prestar-se à
regularidade e à
pontualidade, que são
fatores indispensáveis
às sessões pagas, onde é
preciso, a qualquer
preço, satisfazer o
público. V – De todos os
fenômenos espíritas, os
que melhor se prestam à
imitação são os efeitos
físicos. VI - Um exame
escrupuloso permite
distinguir a trapaça da
mediunidade real; mas a
melhor de todas as
garantias é o respeito e
a consideração de que
desfrute o médium, sua
moralidade, sua notória
honorabilidade e seu
desinteresse absoluto,
material e moral.
(Págs. 303 a 305.)
217. Concluindo seu
comentário sobre o caso
Davenport, Kardec faz no
final duas advertências
que continuam oportunas
e atuais: A) De duas
uma: ou os Davenport são
hábeis prestidigitadores
ou verdadeiros médiuns.
Se charlatães, devemos
ser gratos a todos os
que ajudarem a
desmascará-los. B) Se
são médiuns verdadeiros,
as condições em que se
apresentam não podem
servir utilmente à
causa. Num caso, como no
outro, o Espiritismo não
tem nenhum interesse em
tomar partido em seu
favor. (Págs. 305 a
309.)
218. Nas exéquias do Sr.
Nant, um dos
companheiros da
Sociedade Espírita de
Paris, Kardec pronunciou
breves palavras,
transcritas, a pedido da
família, pela Revue.
No momento em que
fechou os olhos, seu
neto de dez anos, tomado
de violenta emoção, foi
subitamente adormecido
pelos Espíritos e, no
seu êxtase, viu a alma
de seu avô, acompanhada
por uma porção de
Espíritos, elevar-se no
espaço, embora presa
ainda ao corpo pelo
cordão fluídico. A morte
– disse Kardec – é
apenas a entrada da alma
na verdadeira vida, e
não passa de uma
separação corporal de
alguns instantes, pois o
vazio que deixa no lar
da família é apenas
aparente. (Págs. 310
a 312.)
219. Um fato curioso
ocorrido com o filho de
oito anos do Sr. Delanne
– o menino Gabriel, que
anos depois se tornaria
um dos mais importantes
autores espíritas – é
relatado pela Revue.
Trata-se de uma
experiência de
tiptologia que o menino
Gabriel, auxiliado por
três crianças de sete,
cinco e quatro anos,
realizou a pedido de uma
senhora. Gabriel, após a
evocação, pediu a ela
que perguntasse quem
respondia. A mulher
interrogou e a mesa
soletrou duas palavras:
Teu pai. Na
sequência, a pedido
dela, o Espírito deu
três provas de que era
seu pai quem ali se
manifestava. (Págs.
312 a 314.)
220. Kardec diz que não
era a primeira vez que a
mediunidade se revelava
em crianças e o que
ocorreu fora já
anunciado numa célebre
profecia: Vossos
filhos e vossas filhas
profetizarão. (Atos,
2:17.) (Pág. 314.)
(Continua no próximo
número.)