Caim
Augusto dos Anjos
Qual monstro hirsuto que
se desenterra,
Aborto horrendo de
sinistro abdômen,
Torna Caim, sem látegos
que o domem,
Para a nova balística da
guerra!
As medonhas mandíbulas
descerra,
Indiferente às chagas
que o carcomem,
E, bramindo, desperta na
alma do homem
As maldições anônimas da
Terra...
Fera oculta no brilho do
proscênio,
Crava as unhas na bomba
de hidrogênio,
Fitando o mundo que se
desgoverna...
Mas o Cristo contempla o
quadro obscuro,
E, embora em pranto,
envolve de amor puro
O lobo famulento da
caverna.
Augusto Carvalho
Rodrigues dos Anjos,
mais conhecido como
Augusto dos Anjos,
nasceu em Engenhos Pau
d´Arco, perto da Vila do
Espírito Santo, Paraíba,
em 20/4/1884, e faleceu
em Leopoldina, Minas
Gerais, em 12/11/1914.
Bacharel em Direito, o
poeta lecionou por dois
anos na Escola Normal e
no Colégio Pedro II, no
Rio de Janeiro,
mudando-se depois para
Leopoldina (MG), onde
foi diretor do
Grupo Escolar “Ribeiro
Junqueira”, até à
desencarnação. O soneto
acima integra o livro
Antologia dos Imortais,
obra psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.