Hierarquia na Casa
Espírita
“Sabeis que os príncipes
das nações as dominam e
que os grandes os tratam
com império. – Assim não
deve ser entre vós; ao
contrário, aquele que
quiser tornar-se o
maior, seja vosso servo.
–
E aquele que quiser ser
o primeiro entre vós
seja vosso escravo”
(S. MATEUS, capítulo
XX, vv. 20 a 28.), ESE,
Cap. 12, item 5, FEB,
115ª Edição.
Uma reflexão, para nós
espíritas, se faz
necessária sobre um tema
relevante e atual. Como
deve ser a organização
de uma casa espírita? Se
a legislação humana
prescreve a necessidade
de estatuto social,
cargos, funções,
formação de um conselho
e assembleias para as
deliberações da
sociedade, o que
prescreve a legislação
divina?
Alguns acham que a casa
espírita se assemelha a
uma empresa. Entendem
que, para o seu bom
funcionamento, apesar de
não possuir acionistas,
não visar ao lucro, deve
ter presidente,
diretores, gerentes,
coordenadores,
supervisores, e uma
linha hierárquica bem
definida, com ordens
sendo proferidas pelos
cargos superiores e
sendo obedecidas
plenamente pelos cargos
inferiores ou
subalternos. Pensam que
assim fica preservada a
harmonia da mesma pela
imposição de uma
disciplina rígida e
inquestionável a ser
respeitada à risca.
Argumentam que sem isso
não se tem trabalho de
equipe.
Alguns acham que a casa
espírita é como qualquer
clube, agremiação, ONG,
enfim, como qualquer
associação de pessoas
reunidas num mesmo ideal
e defendendo os mesmos
interesses, como os
clubes esportivos, as
associações de
profissionais, os
sindicatos etc.
Argumentam que os
cargos, a hierarquia e a
política são
fundamentais. Não se
vive sem isso. Fica bem
na fita aquele que fizer
um melhor marketing
pessoal, aquele que
vender melhor a sua
imagem. Pode até ser
eleito presidente! Não
importa se essa imagem é
verdadeira ou não. O que
importa é que as pessoas
se convençam que ele é
“O Cara”.
Alguns acham que a casa
espírita, por ser uma
associação de pessoas
com ideal religioso,
deve funcionar como a
maioria das instituições
religiosas do planeta
Terra. Argumentam que
assim deve ser. Castas
bem definidas de
sacerdotes, noviços,
líderes religiosos
máximos, crentes,
adeptos, seguidores
fiéis ou simplesmente
simpatizantes, e
naturalmente com uma
estrutura hierárquica
mais rígida ainda. Com a
disciplina e obediência
cegas beirando as raias
da irracionalidade. Tudo
para preservar, acima de
tudo e de todos, a
instituição religiosa,
sua hierarquia e sua
tradição.
Mas como organizar uma
casa espírita atendendo
à legislação divina? O
que ela prescreve? O que
os Espíritos superiores
nos aconselham e ensinam
sobre a sua organização?
Nosso querido Mestre
Jesus alerta os
apóstolos: “Sabeis
que os príncipes das
nações as dominam e que
os grandes os tratam com
império. – Assim não
deve ser entre vós; ao
contrário, aquele que
quiser tornar-se o
maior, seja vosso servo;
- e, aquele que quiser
ser o primeiro entre vós
seja vosso escravo”
(1).
Kardec esclarece outro
sábio ensinamento de
Jesus: "Será o maior
no reino dos céus aquele
que se humilhar e se
fizer pequeno como uma
criança, isto é, que
nenhuma pretensão
alimentar à
superioridade ou à
infalibilidade”. (2)
E complementa mais
adiante: “Não
procureis, pois, na
Terra, os primeiros
lugares, nem vos colocar
acima dos outros, se não
quiserdes ser obrigados
a descer. Buscai, ao
contrário, o lugar mais
humilde e mais modesto,
porquanto Deus saberá
dar-vos um mais elevado
no céu, se o merecerdes”
(3).
Emmanuel, no livro
“Seara dos Médiuns”,
sabiamente apresenta
ponderações sobre a
organização do
Espiritismo, nos
ensinando:
”Todos estamos
concordes em que a
Doutrina Espírita revive
agora o Cristianismo
puro; no entanto, há
muita gente que lhe
estranha a organização,
sem os chamados valores
nobiliárquicos que
assinalam a maioria das
instituições
terrestres.
A força de se iludirem
com a idolatria, que
sempre nos custa caro,
muitos companheiros,
menos vigilantes,
desejariam condecorar
trabalhadores da Nova
Revelação, criando
galerias para o relevo
pessoal. E, se pudessem
determinar o rumo das
coisas, no consenso
opinativo, decerto que
há muito estaríamos
mobilizando
doutrinadores-chefes e
médiuns-titulares, com
as nossas casas de
serviço perdendo tempo
em mesuras e rapapés”.
“... Não existem, desse
modo, médiuns maiores ou
médiuns menores,
favorecendo, entre nós,
a constituição de
prerrogativas e
castas...”
“... Sustentar a ideia
espírita, indene de
qualquer imaginária
fidalguia para aqueles
que a servem, é dever
para todos nós...”
(4)
No livro “Nosso Lar”,
capítulo 9, André Luiz
relata como foi a
atuação do governador
frente às exigências
descabidas de mesas
lautas, bebidas
excitantes, dilatando
velhos vícios terrenos
de alguns moradores da
cidade espiritual.
Amorosamente e com muita
paciência e preseverança
convidou instrutores de
uma esfera muito elevada
para instrução de todos.
Organizaram-se
assembleias numerosas. O
Governador, porém,
jamais castigou alguém.
Convocava os adversários
da medida ao palácio e
expunha-lhes,
paternalmente, os
projetos e finalidades
do regime alimentar da
cidade que estava
governando. Prosseguiram
as reuniões,
providências e
atividades, durante
trinta anos
consecutivos, sem
desaminar. Após 21 anos
de estudos e
conversações fraternas,
aderiu o Ministério da
Elevação. Somente depois
de muitos estudos e
muito diálogo fraterno,
o governador tomou
medidas mais enérgicas,
devido à recalcitrância
e impertinência desses
Espíritos, tendo
suportado tudo isso
amorosamente por 30 anos
consecutivos. (5) Se nós
tivéssemos 10% da
elevação espiritual do
governador de Nosso Lar,
debateríamos
amorosamente as
divergências de
entendimento que surgem
em nossas casas
espíritas por pelo menos
três anos consecutivos.
Quem sabe um dia, quando
evoluirmos, chegaremos
lá.
Na primeira comunidade
cristã, a Casa do
Caminho, Pedro, Paulo,
Tiago e os demais
seguidores do Cristo
também tiveram
divergências de
entendimento sobre as
leis de Deus. Na obra
“Paulo e Estevão” de
Emmanuel é relatado, em
seu capítulo cinco –
“Lutas pelo Evangelho”
(6) –, o debate sobre a
necessidade ou não da
circuncisão dos gentios
para se converterem ao
Evangelho de Jesus. Após
vários dias de reunião
em assembleia, com
conversações fraternas,
discursos e ponderações,
chegou-se a uma
conclusão sobre o tema.
Todos atuaram de forma
fraterna, solidária,
respeitando o direito de
expressar, de cada um, e
ouviram e ponderaram as
ideias expostas. Por que
Pedro, que era
considerado o líder dos
apóstolos, não baixou um
decreto, uma ordem, uma
determinação sobre o
tema, a ser seguida por
todos? Por que não
decidiu sozinho? Porque
sabia que o verdadeiro
amor cristão está
alicerçado na humildade
e não na hierarquia.
Porque respeitava
profundamente e
intensamente cada um dos
irmãos e irmãs da
comunidade cristã,
independente de
possuírem entendimentos
divergentes sobre o
Evangelho. Porque
conhecia, respeitava e
praticava com fervor o
ensinamento do Divino
Mestre Jesus: “Nisto
todos conhecerão que
sois meus discípulos: se
vos amardes uns aos
outros”(7).
Em contrapartida, vamos
relembrar um pouco
algumas citações das
obras espíritas sobre a
organização social dos
grupos de Espíritos
inferiores, umbralinos,
trevosos, obsessores
etc...., que se vinculam
pela comunhão no
egoísmo, orgulho,
vaidade, soberba,
altivez, pretensão,
revolta e toda ampla
variedade de pensamentos
e atos contrários às
Leis de Deus.
No livro “Libertação” de
André Luiz, em seu
primeiro capítulo, o
Ministro Flácus,
ensinando sobre essas
organizações de
desencarnados,
esclarece:
“Frustrados em suas
aspirações de vaidoso
domínio no domicílio
celestial, homens e
mulheres de todos os
climas e de todas as
civilizações, depois da
morte, esbarram nessa
região em que se
prolongam as atividades
terrenas e elegem o
instinto de soberania
sobre a Terra por
única felicidade digna
do impulso de
conquistar. Rebelados
filhos da Providência,
tentam desacreditar a
grandeza divina,
estimulando o poder
autocrático da
inteligência insubmissa
e orgulhosa e buscam
preservar os círculos
terrestres para a
dilatação indefinida do
ódio e da revolta, da
vaidade e da
criminalidade, como se o
Planeta, em sua
expressão inferior, lhes
fosse paraíso único,
ainda não integralmente
submetido a seus
caprichos, em vista
da permanente discórdia
reinante entre eles
mesmos.
É que, confinados ao
berço escabroso da
ignorância em que o medo
e a maldade, com
inquietudes e
perseguições recíprocas,
lhes consomem as forças
e lhes inutilizam o
tempo, não se apercebem
da situação dolorosa em
que se acham.
Fora do amor verdadeiro,
toda união é temporária
e a guerra será sempre o
estado natural daqueles
que perseveram na
posição de indisciplina.
Um reino espiritual,
dividido e atormentado,
cerca a experiência
humana, em todas as
direções, intentando
dilatar o domínio
permanente da tirania e
da força...”
(8)
Na sequência, em seu
segundo capítulo, do
mesmo livro, o Instrutor
Gúbio tece mais
comentários sobre essas
organizações:
“... O objetivo
essencial de tais
exércitos sombrios é a
conservação do
primitivismo mental da
criatura humana, a fim
de que o Planeta
permaneça, tanto quanto
possível, sob seu
jugo tirânico...”
“...O
Instrutor Gúbio, fitando
em nós o olhar
percuciente e calmo,
ponderou:
— Entenderam, agora,
como é compreensível a
opção de certos
Espíritos pela casa
escura do crime, depois
do túmulo, qual ocorre a
milhões de entidades
encarnadas que, em plena
harmonia com a natureza
terrestre, estimam viver
no domicílio da
enfermidade? Atitudes
mentais enraizadas não
se modificam facilmente.
O rei que governa
milhares, o condutor que
se acostumou a traçar
férreas diretrizes, o
homem que se habituou a
dobrar caracteres
alheios, quando não
dispõem de princípios
santificantes, no
terreno idealístico,
para se alimentarem
intimamente na tarefa a
que se consagram, não
se transformam em
servidores humildes de
um momento para outro,
só porque se desfizeram
da carga de células
materiais...”
(8)
No livro “Os
Mensageiros”, em seu
capítulo 20, quando
André Luiz está
visitando as defesas das
muralhas de Nosso Lar, o
administrador Alfredo
esclarece:
“ ... As organizações de
nossos irmãos
consagrados ao mal são
vastíssimas. Não admitam
a hipótese de serem
todos eles, ignorantes
ou inconscientes. A
maioria se constitui de
perversos e criminosos.
São entidades
verdadeiramente
diabólicas. Não tenham
disso qualquer
dúvida...”
“... Querem dominar
antes de se dominarem,
exigem antes de dar e
entram em perene
conflito com o espírito
divino da lei.
Estabelecido o duelo
entre a fantasia deles e
a verdade do Pai,
resistem às corrigendas
do Senhor e
transformam-se, esses
desventurados, em
verdadeiros gênios da
sombra, até que, um dia,
se decidam a novos
rumos.
Intrigado com as
profundas observações,
perguntei:
— Mas, como explicar as
bases de semelhante
atitude? Na Terra,
compreendemos certos
enganos, mas aqui...
O generoso interlocutor
não me deixou terminar e
prosseguiu:
— Na Crosta, nossos
irmãos menos felizes
lutam pela dominação
econômica, pelas
paixões desordenadas,
pela hegemonia de falsos
princípios. Nestas
zonas imediatas à mente
terrestre, temos tudo
isso em identidade de
condições. Entre as
entidades perversas e
ignorantes, há
cooperativas para o mal,
sistemas econômicos de
natureza feudalista,
baixa exploração de
certas forças da
Natureza, vaidades
tirânicas,
difusão de mentiras,
escravização dos que se
enfraquecem pela
invigilância,
doloroso cativeiro dos
Espíritos falidos e
imprevidentes, paixões
talvez mais desordenadas
que as da Terra,
inquietações
sentimentais, terríveis
desequilíbrios da mente,
angustiosos desvios do
sentimento. Em todo o
lugar, meu amigo, as
quedas espirituais,
perante o Senhor, são
sempre as mesmas, embora
variem de intensidade e
coloração.”
(9)
No livro “Aconteceu na
Casa Espírita”, Nora, a
autora espiritual, nos
relata na psicografia de
Emanuel Cristiano, em
seu quinto capítulo, a
técnica de Júlio César,
o líder dos obsessores.
Ele oferece favores e
cargos aos obsessores, e
estimula a vaidade da
médium para que esta
acreditasse em sua
superioridade perante os
demais médiuns da casa
espírita.
“... Júlio César
acompanhou o trabalho de
Maria Souza (médium)
durante várias semanas,
fazendo com que casos
semelhantes a estes
fossem repetidos (casos
de cura); para isso
oferecia cargos,
favores e
retribuições aos
obsessores, provocando
nela a certeza de que
finalmente havia
desenvolvido a faculdade
de cura...”
(10)
Mais adiante, no oitavo
capítulo, “Cedendo à
Tentação”, após a
infiltração dos
obsessores no pensamento
dos trabalhadores da
casa espírita, é
relatada pelo Espírito
Nora a característica da
perturbação que se
instalou:
“... Não faltavam,
porém, os invigilantes
perturbando o serviço.
Sequiosos por cargos,
disputavam a organização
das entrevistas,
quais representantes do
orgulho em uma empresa
do mundo. Esqueceram
que os candidatos a
comandar o trabalho do
bem devem,
primeiramente, se
esforçar por comandarem
a si mesmos...”
(11)
No livro “Os
Mensageiros”, no seu
vigésimo sexto capítulo,
quando André Luiz está
visitando um dos Postos
de Socorro de Campo de
Paz, comenta sobre a
organização:
“... Notei que o
trabalho no Posto se
desenvolvia em ambiente
da mais bela camaradagem
não obstante o respeito
natural às noções de
hierarquia...”
(12)
Ismália recebia senhoras
em atitude maternal.
Alfredo recebia a todos
com espírito de
solidariedade e imenso
afeto, sem o menor gesto
de impaciência ou
irritação. O clima era
de concórdia. Tudo
respirava ordem e
compreensão, bondade e
harmonia. A atitude
paterna do administrador
do Posto de Socorro,
expressa em energia e
amizade, organização e
entendimento, atraía
André Luiz com força.
(12)
Fica claro que a
hierarquia estabelecida
refere-se às
especialidades das
funções de cada
colaborador do posto de
serviços, hierarquia
apenas com foco
organizacional, para a
harmonia do desempenho
de um serviço coletivo.
O ambiente é
caracterizado pela mais
bela camaradagem. O
ideal predominante é o
de servir ao Mestre
Jesus. Não há espaço
para disputas de cargos
e atuação política. A
conquista do poder e o
domínio sobre os outros
não faz parte dos
valores desses
benfeitores.
O nosso querido
Francisco Cândido
Xavier, o maior exemplo
de atuação de um
verdadeiro espírita,
serviu durante diversos
anos em um centro em
Uberaba. Após quatorze
anos de atividade, a
casa espírita havia
crescido, ocupando quase
um quarteirão. Não havia
mais espaço para o
servidor humilde de
Jesus. Chico se afastou
e fundou uma nova casa
espírita. Com estrutura
menor, com menos
participantes, mas com o
amor e a humildade que
caracterizam os
verdadeiros seguidores
do Mestre Divino. De vez
em quando ele comentava:
“... Em casa que muito
cresce o amor
desaparece...”
(13)
O que será que Chico
constatou? Será que a
casa espírita havia
perdido a pureza e a
simplicidade do início
quando era um pequeno
núcleo de fraternidade e
solidariedade? Será que
o tamanho e a estrutura
da mesma induziam os
colaboradores a posturas
menos humildes, com
hierarquia, cargos,
disputas de poder e
vaidades pessoais?
O Professor Herculano
Pires, que nas palavras
de Emmanuel, é “o metro
que melhor mediu
Kardec”, em seu livro “O
Centro Espírita”, cap.
III, faz a seguinte
ponderação sobre a
organização de uma casa
espírita:
“... Mas, acima de tudo
e antes de tudo:
humildade. Porque
Espiritismo sem
humildade é água
poluída, cheia dos
germes da pretensão, da
vaidade, do orgulho que
atraem os Espíritos
inferiores. Um
presidente de Centro não
é o Presidente da
República e um
doutrinador não é um
sábio. Pelo contrário,
são criaturas
necessitadas que estão
aprendendo a arte
difícil de servir e não
a de baixar decretos,
dar ordens e humilhar os
outros em público. Sem
humildade que gera e
sustenta o amor ao
próximo, nem o estudo
pode dar frutos...”
(14)
Como sabemos, somos
todos médiuns, variando
apena o tipo de
mediunidade que cada um
possui e o grau de
sensibilidade de cada
médium, em especial
aqueles que desempenham
alguma tarefa dentro de
uma casa espírita.
Relembrando um relevante
ensinamento de Emmanuel,
no longínquo ano de
1.937, em sua obra
intitulada “Emmanuel”,
no capítulo XI,
“Mensagens aos Médiuns”,
na qual ele apresenta
diversas ponderações aos
médiuns, para relembrar
sobre o passado
espiritual destes:
“... O seu pretérito,
muitas vezes, se
encontra enodoado de
graves deslizes e de
erros clamorosos. Quase
sempre, são Espíritos
que tombaram dos cumes
sociais, pelos abusos
do poder, da autoridade,
da fortuna e da
inteligência, e que
regressam ao orbe
terráqueo para se
sacrificarem em favor do
grande número de almas
que desviaram das sendas
luminosas da fé, da
caridade e da virtude.
São almas arrependidas
que procuram arrebanhar
todas as felicidades que
perderam, reorganizando,
com sacrifícios, tudo
quanto esfacelaram nos
seus instantes de
criminosas
arbitrariedades e de
criminosa insânia...”
(15)
Reforçando este sábio
conceito ensinado por
Emmanuel, temos no livro
“Aconteceu na Casa
Espírita” a mesma
afirmação. Castro, o
presidente do Centro
Espírita sob ataque
obsessivo, recebendo
instruções do dirigente
espiritual, que lhe
relembra a necessidade
de humildade e
sacrifício em sua
atuação, é informado de
que também já
participou, no passado,
das “hostes infernais”.
“... se queres saber, tu
mesmo já fizeste parte
das ‘hostes infernais’!
Quem de nós,
peregrinando pelos
caminhos da ignorância,
não contribuímos para
entravar o progresso?”
(16)
Mais adiante, na mesma
obra literária, após o
arrependimento de seus
atos, Júlio César, o
obsessor chefe, é
conduzido a nova
reencarnação em família
espírita, para reparar o
mal praticado. Com
aproximadamente 50 anos
de idade física,
portador do dom da
mediunidade, assumirá a
presidência da Casa
Espírita que tanto ele
perseguiu, para tentar
reparar o mal praticado.
(17)
Vale para todos nós, com
raríssimas exceções, um
importante alerta.
Quando faltar a
humildade em nossa
atuação, lembremo-nos de
que não somos seres
angélicos repletos de
virtudes que assumimos,
nesta encarnação, cargos
importantes, devido à
nossa elevação
espiritual. Somos, sim,
seres milenares
envolvidos, em diversas
encarnações, em grandes
faltas perante as Leis
Divinas, aos quais, pela
bondade infinita de
Deus, foram concedidas
oportunidades de resgate
e expiação dessas
faltas, atuando em
funções transitórias de
caráter religioso nas
casas espíritas.
Por tudo que foi exposto
acima, por todas as
ponderações de Espíritos
bondosos nas citações da
literatura espírita,
neste artigo, creio que
é de grande utilidade
para todos nós
repensarmos o centro
espírita e as nossas
posturas e atuações
nessas instituições.
Antes de considerarmos a
casa espírita como uma
empresa, um clube, uma
agremiação, uma ONG, ou
uma associação de
pessoas com ideal
religioso, antes de
estabelecermos
hierarquias e estruturas
de poder, disciplinas e
obediências cegas,
idolatria de médiuns e
dirigentes, lembremo-nos
que um centro espírita
é, acima de tudo, um
núcleo de amor,
fraternidade e
solidariedade. É um
núcleo de consolo para
almas adoentadas como as
nossas, que buscam o
reequilíbrio através do
exemplo e da vivência do
amor cristão verdadeiro.
É um núcleo de estudos
da doutrina espírita, no
qual podem e devem
participar pessoas que
desejam realmente, do
fundo do coração,
conhecer as Leis de
Deus. Livres de
dogmatismos,
preconceitos, tradições,
secularização,
sincretismos e
misticismos. Pessoas que
desejam estudar com o
divino direito de
questionar
constantemente,
analisando à luz da
razão e do bom senso,
deduzindo livremente os
preceitos, debatendo
ideias, e, não,
aceitando e concordando
cegamente.
Enquanto o amor, a
fraternidade, a
solidariedade nas
relações não
constituírem a essência
primordial da atuação de
todos nós, acima de
qualquer hierarquia na
casa espírita, enquanto
não dominarmos nossas
inclinações inferiores,
que nos conduzem às
posturas de orgulho,
vaidade e prepotência,
não estaremos servindo
adequadamente ao Mestre
Jesus, e
consequentemente
falhando, mais uma vez,
nessas provações de
caráter religioso.
A quem muito foi dado
muito será pedido, nos
ensinou o Divino Mestre.
Naturalmente, recebemos
todo o ensino e
treinamento necessários,
antes de encarnar, para
atuarmos com amor e
fidelidade aos preceitos
do Cristo. Vale lembrar
outro sábio ensinamento
de Emmanuel a todos nós
que abraçamos a Doutrina
Espírita:
“... Dignifica, assim, a
Doutrina que te consola
e liberta, vigiando-lhe
a pureza e simplicidade,
para que não colabores,
sem perceber, nos vícios
da ignorância e nos
crimes do pensamento...
... Doutrina Espírita
quer dizer Doutrina do
Cristo.
E a Doutrina do Cristo é
a doutrina do
aperfeiçoamento moral
em todos os mundos.
Guarda-a, pois, na
existência, como sendo a
tua responsabilidade
mais alta, porque dia
virá em que serás
naturalmente convidado a
prestar-lhe contas”
(18).
Referências:
(1) S.
MATEUS, capítulo XX, vv.
20 a 28, ESSE, Cap. 07,
item 4. Edição FEB –
115ª Edição.
(2) e (3)
ESSE, Cap. 07, item 6.
Edição FEB – 115ª
Edição.
(4)
“Seara dos Médiuns”, p.
103, “Mediunidade e
Privilégios”, FEB, 6ª.
Edição.
(5)
“Nosso Lar”, pp. 54-58,
André Luiz, FEB, 45ª
Edição.
(6)
“Paulo e Estevão”, Cap.
5, Emmanuel, FEB, 45ª
Edição.
(7)
Evangelho de João,
13:35, citado em “Fonte
Viva”, Lição 15, p. 43,
Emmanuel, FEB, 20ª.
Edição.
(8)
“Libertação”, Cap. 01 e
02, André Luiz, pp.
19,31, 14ª Edição, FEB.
(9) “Os
Mensageiros”, Cap. 20,
pp. 109 e 110, André
Luiz, FEB, 21 ª Edição.
(10)
“Aconteceu na Casa
Espírita”, Cap. 05,
“Estimulando a Vaidade”,
p. 47, Editora do Centro
Espírita Allan Kardec,
2ª. Edição.
(11)
“Aconteceu na Casa
Espírita”, Cap. 08,
“Cedendo a Tentação”, p.
80, Editora do Centro
Espírita Allan Kardec,
2ª. Edição.
(12) “Os
Mensageiros”, Cap. 26,
pp. 109 e 110, André
Luiz, FEB, 21 ª Edição.
(13) “As
vidas de Chico Xavier”,
de Marcel Souto Maior,
Cap. “A vida
desapropriada”, p. 208,
Editora Planeta do
Brasil Ltda., 2ª.
Edição.
(14) “O
Centro Espírita”, Prof.
J. Herculano Pires, Cap.
III, “O Centro e a
Comunidade”, p. 26,
Editora Paideia Ltda.,
2ª. Edição.
(15)
“Emmanuel”, de Emmanuel,
Cap. XI, p. 66, “Quem
são os médiuns em sua
generalidade”, FEB, 14ª.
Edição.
(16)
“Aconteceu na Casa
Espírita”, Cap. 09,
“Entre Mensagens e
Críticas”, p. 89,
Editora do Centro
Espírita Allan Kardec,
2ª. Edição.
(17)
“Aconteceu na Casa
Espírita”, Cap. 16,
“Socorrendo o Vencido”,
p. 164, Editora do
Centro Espírita Allan
Kardec, 2ª. Edição.
(18)
“Religião dos
Espíritos”, pp. 227 e
229, Edição FEB.