EUGÊNIA PICKINA
eugeniamva@yahoo.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
Pondo-se em
movimento
Sei de homens e
mulheres que
nunca se curaram
do passado. No
geral, temos em
relação a isso
duas atitudes:
gratidão ou
lamento. Mas o
lamento caberia
no caso de uma
vida guiada por
medos e pelo mal
sombrio – e, por
isso, sempre à
espera do pior:
a letargia, o
desgosto, que
retiram da
existência o seu
mistério
poético,
deixando-a sem
viço.
Nada disso!
Em outras
palavras, é
sadio trabalhar
a si mesmo e
nossas feridas,
mas contando
para nós
próprios a
verdade de nossa
alma. Insistir
em viver essa
verdade, ainda
que sejam
necessários
vários anos.
Sabemos que a
vida não nos é
dada como uma
peça de arte e
dificilmente ela
se apresenta,
desde o
nascimento, como
espetacular.
Ora, a vida não
tem outro fim
senão ela mesma,
porquanto está
sujeito ao fluxo
da evolução...
Logo, o trabalho
em prol da
própria Alma
funcionaria como
uma espécie de
autossalvação.
Afinal, haveria
felicidade sem
criação?
Sim, o passado
pode ser uma
catástrofe – o
sentido, então,
é sair dele. Ao
lado disso, todo
o restante da
vida pode então
sugerir algo
novo – milagre
do amanhã,
embora a
escuridão da
noite
anterior...
E esqueçamos a
apatia, a gasta
preguiça –
frutos impuros
que impregnam de
solidão a
alma-corpo, pois
sulcam a
desesperança tal
qual o barco que
fica preso à
ilha, fixado nos
cais, pois sem
rumo ou destino.
Inóspitas
regiões há em
nós... Por isso
o valor do
trabalho
relacionado ao
autoconhecimento,
que dura a
existência
inteira. E a
vida não tem
culpa deste
nosso gasto
pranto, muito
menos de nossos
repetidos
lamentos que
teimam em
acordar
fantasmas e nos
impedir de
desfrutar as
bênçãos diárias.
Então apenas se
pôr em marcha,
pois é isso que
nos é pedido.
É certo que as
feridas da vida
em sua
honestidade
talvez comprimam
a alma ou
motivem o
despertar da
consciência.
Contudo, somente
o despertar da
consciência
poderá trazer
luminosidade à
jornada, sempre
sujeita a
mudanças e
retomadas.
Com efeito,
Miguel de
Unamuno lança a
cada um de nós
o desafio que
nos cabe:
“Sacuda essa
tristeza, e
recupere seu
espírito...
Atire-se como
semente enquanto
caminha, e...
não vire o
rosto, pois isto
significaria
voltá-lo à
morte, e não
deixe o passado
reprimir seu
movimento”.