Oportunidade aproveitada
Numa conversa fraterna
com um bondoso casal
amigo, de pequena cidade
do estado de São Paulo,
foi-nos confidenciado
como se tornaram
espíritas, numa época em
que não tínhamos as
facilidades de hoje.
Permitiram-nos contar
sua história.
Em 1959, quando se
casaram, dez dias após o
casamento, a esposa,
saudável até então, uma
das moças mais belas da
cidade, começou a ter
terríveis quadros
convulsivos. Na época, o
marido, que
ficticiamente chamaremos
de José, era católico
convicto, da Congregação
Mariana – andava, até,
com a gravata que
identificava o fato. Ela
também, a quem
nominaremos Beatriz,
igualmente católica
ferrenha.
Ficaram compungidos com
a doença. Foram ao
médico, que lhes deu o
diagnóstico de
epilepsia, dizendo que
não havia cura para o
quadro e que ela deveria
tomar Gardenal para o
resto da vida.
A despeito do
tratamento, as
convulsões eram
frequentes e fortes, a
ponto de a família se
revezar para que ela não
ficasse sozinha. Uma
senhora, amiga da
família, os orientou a
procurar socorro num
Centro Espírita,
alegando, dada a sua
experiência, que se
tratava de um caso de
influência espiritual.
Por desespero, eles
venceram o preconceito e
foram. No Centro
Espírita, foram
orientados a manter a
medicação e tomar
passes, fazer o
Evangelho em casa e
estudar o Espiritismo.
Beatriz, cansada da
medicação, que a deixava
sonolenta e como que
obtusa no raciocínio,
resolveu parar a
medicação por conta
própria. Faziam o
Evangelho regularmente e
enfrentavam serenamente
a oposição severa da
família pela nova
crença.
Beatriz começou a sonhar
que se encontrava com um
Espírito que tinha muito
ódio – uma mulher – que
ela descobriu ter sido
esposa de seu marido em
encarnação anterior.
Foram muitos anos de
estudo e evangelho.
Foram se educando no
Espiritismo,
amansando-se,
tornando-se melhores. As
crises convulsivas foram
diminuindo até pararem
totalmente. Um dia,
Beatriz sonhou com esse
Espírito, que lhe disse
que tinha conseguido
perdoá-los e que ainda
daria muitas alegrias a
eles. Beatriz viu a
feição da jovem, que se
revelou de cabelos
claros e luminosos e de
expressivos olhos azuis.
Ela fixou bem o olhar.
Passaram-se os anos. O
único filho do casal se
casou. Quando nasceu a
primeira neta, eles
foram visitá-la – tinha
dois dias. Beatriz a
pegou no colo e ela
abriu os olhos e sorriu
– com apenas dois dias!
Eram os mesmos luminosos
olhos azuis que ela
fixara na memória. Ali
estava o Espírito que os
havia perdoado, em seus
braços.
O casal nos contou que
essa neta os adora, tem
uma ligação especial com
o avô, e hoje é uma
adolescente dócil e
meiga, sempre a
agradá-los. Um amor
imenso com eles e, para
completar, não há
ninguém da família, nem
paterna, nem materna,
que tem olhos azuis. Ela
recebeu a herança
genética de ambos os
pais e achou um jeito de
se identificar.
Esse casal, já de idade,
é exemplo de
trabalhadores
perseverantes na cidade
onde moram, na seara do
Espiritismo. São
felizes, recebem-nos com
alegria, agindo como os
cristãos dos primeiros
tempos, e nos sentimos à
vontade como eles, como
se da família. A grande
família espiritual, a
família espírita.
O amor redimirá as
criaturas e fará da
Terra um mundo melhor,
um mundo de regeneração.
Como somos felizes pelo
conhecimento espírita!
“O amor cobre uma
multidão de pecados”,
disse-nos o apóstolo
Pedro, e um dia ele
reunirá todas as
criaturas num mesmo
ideal.
Felizes os que
aproveitam as
oportunidades, como o
José e a Beatriz,
melhorando-se e
cultivando amigos com a
bondade que revelam.