MARCUS
VINICIUS DE AZEVEDO
BRAGA
acervobraga@gmail.com
Guará II, Distrito
Federal (Brasil)
Louva-ação
A palavra louvor tem na
sua acepção associados
os verbos elogiar,
exaltar, glorificar e
vangloriar. São atos que
conduzem à
divulgação de virtudes
ou atos valorizados por
um determinado indivíduo
ou grupo. A palavra
louvor tomou no sentido
religioso da expressão
“Louvar a Deus” um
sentido próprio, onde,
através de cantos,
orações e cerimônias,
diversas denominações
religiosas no decorrer
da história renderam
graças às suas
divindades, com
motivações que passam do
escambo ao medo e do
orgulho à fé.
O Livro dos Espíritos
trata da Lei de
Adoração, onde
poderíamos classificar o
louvor como um dos
aspectos exteriores
dessa adoração, ou seja,
dessa relação do
indivíduo com a
divindade. Jesus já nos
falava dessa questão, ao
nos apresentar a
parábola do publicano e
do fariseu, que
exemplifica a relação do
homem com as forças
maiores.
A adoração entendida
como elevação do
pensamento a Deus, onde
a criatura reconhece a
grandeza do Criador e
com ele cria um elo de
ligação e de afinidade –
conforme nos mostram as
declarações dos
Espíritos –, apresenta
um conceito de louvor um
pouco diferente do
habitualmente aceito.
Mas, às vezes, não
percebemos essa mudança
de paradigma...
Nosso entendimento do
Criador deve abandonar
de vez resquícios
antropomórficos e, se
falamos em exaltar e
glorificar, não será no
sentido da lisonja, pois
essas querelas do
Espírito encarnado não
se aplicam a Deus. O
“exaltar” não é para
exaltar a divindade e,
sim, no sentido de
individual ou
coletivamente demonstrar
a valorização dos
sentimentos que emanam
de Deus. O louvor vivo
deve ser sempre
associado à ação no bem,
como corrobora a
pergunta n° 654 de “O
Livro dos Espíritos”: “Deus
prefere os que o adoram
do fundo do coração, com
sinceridade, fazendo o
bem e evitando o mal”.
Francisco de Assis na
Idade Média teve
seu insight fundamentado
nesta questão.
Sem fórmulas ou ritos
especiais, a pedra de
toque é o sentimento
puro, a emanação que
permita à criatura
sintonizar com o
Criador, independente de
fatores sociais,
geográficos ou étnicos.
A oração como forma mais
consagrada de louvor é
onde a criatura se liga
à fonte criadora, como o
raio de luz que atinge
as plantas que vivem no
fundo do oceano.
Essa mudança no
paradigma é importante
para a condução do nosso
cotidiano, onde,
preocupados com aspectos
exteriores, vivemos
presos ainda à ideia de
agradar a Deus. Essa
carga atávica é muito
forte, pois foram
séculos da figura divina
sectarista do “Senhor
dos Exércitos”. Agradar
a Deus é lembrar as
palavras de Jesus,
quando disse: “Quando
fizerdes a um destes
pequeninos, é a mim que
o fazeis”. Qualquer
outra parafernália pode
se transformar em
instrumento de prepostos
que se arvoram a ser
Deus, com seus caminhos
exclusivistas, na longa
sina da dominação do
homem pelo homem,
utilizando entre outros
sistemas a religião.
Cantar, orar, louvar,
agradecer... Verbos que,
se “recheados” de
sentimento puro,
exprimem a nossa
comunhão com o mais
alto. No momento do
testemunho, o pedido. No
momento da alegria, o
agradecimento. O
Espiritismo vem
acrescentar a esse
binômio com a pergunta
n° 654 de “O Livro dos
Espíritos”, um terceiro
vértice: O louvor.
Louvar a Deus, sim, de
forma sincera e
coerente, no amor às
criaturas e ao nosso
próximo. Somente com esse
louvor sincero e
construtivo, integrado e
interdependente,
construiremos a fé nos
testemunhos e a
sabedoria nos
peditórios. Exaltar o
bem é repeti-lo,
exemplificá-lo,
valorizá-lo. O bem não
pode ser tímido... Se
algum aspecto formal
assumir valor maior no
nosso louvor, a expensas
de agradar ao nosso Pai,
lembremos que o maior
exemplo que esse Pai nos
enviou nasceu em um
humilde estábulo, e que
na hora de ensinar o
“Pai Nosso”, cercado do
povo, lembrou-nos de
“santificar o Seu nome,
assim na Terra como no
céu”.