ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
2)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela
EDICEL.
Questões preliminares
A. Como explicar as
visões da jovem Luísa
B... quando em sono
cataléptico?
Nesse estado, a jovem
adquiria o dom da
segunda vista e o da
segunda audição, ouvindo
palavras proferidas
perto ou longe dela.
Cada objeto apresentava
para ela uma imagem
dupla. Ela podia ver,
assim, não apenas o
exterior, mas a
representação de seu
interior. Transportada a
um cemitério, Luísa via
e descrevia as pessoas
cujos despojos tinham
sido ali sepultados.
Comentando o fato,
Kardec disse que nada
nele existia de
excepcional. Tratava-se
de um fenômeno bastante
comum e explicável pelos
atributos da alma, em
que se encontra a sede
de todas as percepções e
de todas as sensações.
Durante a sua união com
o corpo, a alma percebe
por meio dos sentidos e
transmite o pensamento
com a ajuda do cérebro.
Separada do corpo, ela
percebe diretamente e
pensa livremente.
(Revue Spirite de 1866,
pp. 17 a 21.)
B. A emancipação da alma
não se dá apenas durante
o sono corpóreo?
Não. A emancipação da
alma ocorre normal e
periodicamente durante o
sono, quando o corpo
repousa, para recuperar
as perdas materiais, mas
pode ocorrer também
todas as vezes que uma
causa patológica ou
simplesmente fisiológica
produz a inatividade
total ou parcial dos
órgãos da sensação ou da
locomoção, como se dá na
catalepsia, na letargia
e no sonambulismo. O
desprendimento da alma é
tanto maior quanto mais
absoluta a inércia do
corpo. Nesse estado, a
alma não mais percebe
pelos sentidos
materiais, mas, se assim
podemos dizer, pelo
sentido psíquico;
eis por que suas
percepções ultrapassam
nesses casos os limites
ordinários. Essa é a
causa da segunda vista,
da visão a distância e
da lucidez sonambúlica.
(Obra citada, pp. 22 e
23.)
C. Como o Espiritismo
era visto na Bélgica, no
final de 1865?
Segundo o semanário
La Discussion,
impresso em Bruxelas,
edição de 31/12/1865, os
vocábulos Espírita e
Espiritismo se tornaram
muito conhecidos e
estavam sendo
frequentemente
empregados, embora
muitas pessoas não
soubessem o que eles
exatamente significavam.
O articulista
transcreve, então,
diversas referências
colhidas junto a um
amigo seu, partidário
das ideias espíritas,
iniciando por definir o
Espiritismo como sendo
uma ciência ou, melhor
dito, uma filosofia
espiritualista, que
ensina a moral. O
ensinamento moral que
prega – diz o artigo –
não é senão a moral
cristã, a moral que está
escrita no coração de
todo ser humano.
(Obra citada, pp. 33 a
36.)
Texto para leitura
14. A Revue
transcreve carta do Sr.
T. Jaubert,
vice-presidente do
Tribunal de Carcassone,
em que o missivista
destaca as inúmeras
realizações que o ano de
1865 havia trazido ao
Espiritismo. Quatro
livros foram então
mencionados pelo Sr.
Jaubert: Pluralidade
dos mundos habitados,
de Camille Flammarion;
Pluralidade das
existências da alma,
de André Pezzani; O
Céu e o Inferno, de
Kardec, e a novela
Espírita, de
Théophile Gautier.
(Págs. 14 a 16.)
15. Jaubert refere-se
também em sua carta ao
caso Davenport, que ele
considerava menos causa
do que pretexto para a
cruzada instaurada
naquele ano contra a
doutrina espírita e os
espiritistas. E apoia,
por fim, a definição
posta por Kardec no
último número da
Revue: “Quem quer
que creia na existência
e na sobrevivência das
almas, e na
possibilidade de relação
entre os homens e o
mundo espiritual, é
espírita”. (Pág. 16.)
16. Com dezesseis anos e
meio, Luísa B... morava
com seus pais no lugar
chamado le Bondru
(Seine-et-Marne). Em
consequência de violento
pesar causado pela morte
de uma irmã, Luísa caíra
num sono letárgico, que
durara 56 horas, após o
que despertou para uma
existência estranha.
Durante o dia inteiro,
ela ficava imóvel numa
cadeira. Chegada a
noite, entrava num
estado cataléptico,
caracterizado pela
rigidez dos membros e
pela fixidez do olhar. A
jovem adquiria então o
dom da segunda vista e o
da segunda audição,
ouvindo palavras
proferidas perto ou
longe dela. (Pág.
17.)
17. Nas mãos da
cataléptica cada objeto
apresentava para ela uma
imagem dupla. Ela podia
ver, assim, não apenas o
exterior, mas a
representação de seu
interior. Transportada a
um cemitério, Luísa via
e descrevia as pessoas
cujos despojos tinham
sido ali sepultados.
(Págs. 17 a 20.)
18. Comentando o fato,
Kardec diz que nada nele
existe de excepcional.
Trata-se de um fenômeno
bastante comum e
explicável pelos
atributos da alma, em
que se encontra a sede
de todas as percepções e
de todas as sensações.
Durante a sua união com
o corpo, a alma percebe
por meio dos sentidos e
transmite o pensamento
com a ajuda do cérebro.
Separada do corpo, ela
percebe diretamente e
pensa livremente.
(Págs. 20 e 21.)
19. Esse estado, que
chamamos emancipação
da alma, ocorre normal e
periodicamente durante o
sono, quando o corpo
repousa, para recuperar
as perdas materiais. Mas
pode ocorrer também
todas as vezes que uma
causa patológica ou
simplesmente fisiológica
produz a inatividade
total ou parcial dos
órgãos da sensação ou da
locomoção, como se dá na
catalepsia, na letargia
e no sonambulismo.
(Pág. 22.)
20. O desprendimento da
alma é tanto maior
quanto mais absoluta a
inércia do corpo. Nesse
estado, a alma não mais
percebe pelos sentidos
materiais, mas, se assim
podemos dizer, pelo
sentido psíquico;
eis por que suas
percepções ultrapassam
nesses casos os limites
ordinários. Essa é a
causa da segunda vista,
da visão a distância, da
lucidez sonambúlica etc.
A forma corpórea que
Luísa via nas pessoas
mortas é o que na
doutrina espírita se
chama perispírito,
envoltório fluídico que
reveste a alma de todos
os seres humanos.
(Págs. 22 e 23.)
21. Concluindo suas
explicações, Kardec
adverte que casos como o
da jovem Luísa B...
exigem muito tato e
prudência, pois, nesse
estado de excessiva
suscetibilidade, a menor
comoção pode ser
funesta. É que a alma,
feliz por estar
desprendida do corpo, a
este se liga por um fio,
que um nada pode romper
irremediavelmente. “Em
casos semelhantes –
assevera Kardec –,
experiências feitas sem
cuidado podem matar.”
(Pág. 23.)
22. De Alfred de Musset
(Espírito) a Revue
transcreve dois
poemas, que a crítica
considerou dignos de um
poeta de primeira ordem,
como o indigitado autor
espiritual. “É a maneira
de Musset, sua linguagem
encantadora, sua
desenvoltura de
cavalheiro, seu encanto
e sua graciosa atitude”,
escreveu um dos
redatores do jornal
Monde Illustré, Sr.
Júnior, que não era
espírita. (Págs. 24 a
28.)
23. A Revue
comenta o surgimento em
Paris do Novo
Dicionário Universal,
uma nova enciclopédia
ilustrada por Maurice
Lachâtre, que contava
com o concurso de
cientistas, artistas e
escritores, encabeçados
por Allan Kardec.
Segundo o prospecto de
divulgação da
enciclopédia, esta era
fruto da análise de mais
de 400.000 obras e podia
ser considerada como o
mais vasto repertório de
conhecimentos humanos
até então publicado.
Todos os termos
especiais do vocabulário
espírita, refere Kardec,
ali se achavam, não com
uma simples definição,
mas com todos os
desenvolvimentos que
comportam. A transcrição
do texto pertinente ao
verbete ALMA – feita
pela Revue – dá
uma boa mostra da
profundeza da publicação
e do respeito que seus
editores revelavam pela
doutrina espírita, que
conquistava desse modo
relevante posição entre
as doutrinas filosóficas
da época. (Págs. 28 a
32.)
24. Sob o título “O
Espiritismo segundo os
espíritas”, o
semanário La
Discussion, impresso
em Bruxelas, edição de
31/12/1865, publicou um
artigo em que o autor
diz que os vocábulos
Espíritas e Espiritismo
se tornaram muito
conhecidos e estavam
sendo frequentemente
empregados, embora
muitas pessoas não
soubessem o que eles
exatamente significavam.
O articulista
transcreve, então,
diversas referências
colhidas junto a um
amigo seu, partidário
das ideias espíritas,
adiante resumidas: I – O
Espiritismo é uma
ciência ou, melhor dito,
uma filosofia
espiritualista, que
ensina a moral. II – Os
médiuns são dotados de
uma faculdade natural
que os torna aptos a
servir de intermediários
aos Espíritos e a
produzir com eles os
fenômenos que passam por
milagres ou por
prestidigitação aos
olhos de quem ignore a
sua explicação. III – Os
Espíritos não se
comunicam com o único
objetivo de provar aos
vivos a sua existência:
eles ditaram e
desenvolvem diariamente
a filosofia
espiritualista. IV – É
assim que o Espiritismo
demonstra, entre outras
coisas, a natureza da
alma, seu destino, a
causa de nossa
existência aqui, e
desvenda o mistério da
morte e o porquê dos
vícios e das virtudes do
homem. V – Esse sistema
repousa em provas
lógicas e irrefutáveis,
que têm como base fatos
palpáveis e a mais pura
razão. VI – Em todas as
teorias que expõe, ele
age como a ciência e não
adianta um ponto senão
quando o precedente
esteja completamente
certificado. VII – O
ensinamento moral que
prega não é senão a
moral cristã, a moral
que está escrita no
coração de todo ser
humano. VIII – A moral
espírita ensina-nos a
suportar a desgraça sem
a desprezar, a gozar a
felicidade sem a ela nos
apegarmos, e nos explica
que todas as vantagens
com que somos
favorecidos são outras
tantas forças que nos
são confiadas e de que
deveremos prestar
contas. (Págs. 33 a
36.)
25. A 28 de janeiro de
1866, o semanário – que
não é especializado em
assuntos filosóficos ou
religiosos, mas
políticos e financeiros
– voltou ao assunto para
dizer que o artigo
precedente havia
provocado numerosas
perguntas e ilações
descabidas, como a que
sugeriu tivesse o
periódico se
transformado em um órgão
espírita. Em face disso,
seu editor tornou bem
claro que o jornal
estava aberto a todas as
ideias progressivas, o
que é coisa diferente de
assumir a paternidade
dessa ou daquela
doutrina. “Pomos a ideia
em evidência em toda a
sua verdade. Se for boa,
fará o seu caminho e nós
lhe teremos aberto a
porta; se for má,
teremos fornecido o meio
de ser julgada com
conhecimento de causa”,
explicou o editor.
(Pág. 37.)
26. Na sequência, ele
foi taxativo: “É assim
que procederemos em
relação ao Espiritismo.
Seja qual for a maneira
de ver a seu respeito,
ninguém pode dissimular
a extensão que tomou em
poucos anos. Pelo número
e pela qualidade de seus
partidários, conquistou
uma posição entre as
opiniões aceitas”.
Concluindo, após
explicar que as questões
sobre Espiritismo seriam
ali tratadas por
espíritas, o editor
afirmou: “Em suma, La
Discussion não se
apresenta como órgão nem
apóstolo do Espiritismo;
abre-lhe as suas
colunas, como a todas as
ideias novas, sem
pretender impor essa
opinião aos seus
leitores, sempre livres
de a controlar, de a
aceitar ou de a
rejeitar”. (Págs. 37
e 38.)
(Continua no próximo
número.)