ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
4)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Por que os exorcismos
são impotentes?
Duas causas – lembra
Kardec – explicam a
impotência dos
exorcismos: 1a
– Eles são dirigidos aos
demônios; contudo os
obsessores e
perturbadores não são
demônios, mas seres
humanos. 2a –
O exorcismo não é uma
prece, mas um anátema,
uma ameaça, que irrita o
agente invisível e não
concorre para o conduzir
ao bem.
(Revue Spirite de 1866,
pág. 57.)
B. Há diferença entre
alma e Espírito?
Sim, uma diferença
sutil. A natureza íntima
da alma escapa
completamente às
investigações humanas,
mas sabemos que ela é
revestida de um
envoltório ou corpo
fluídico, constituindo,
assim, com esse
envoltório o ser que
chamamos Espírito. A
alma seria, portanto, um
ser simples e o
Espírito, um ser duplo.
O envoltório que reveste
a alma, que chamamos de
perispírito, embora de
uma natureza etérea e
sutil, não é menos
matéria, e a reveste não
só durante a encarnação,
mas também na
erraticidade. Laço que
une a alma ao corpo
material, o perispírito
não é uma criação
imaginária e sua
existência é um fato
comprovado pela
observação. Todas as
teogonias atribuem aos
seres invisíveis um
corpo fluídico e São
Paulo o define
claramente em sua 1a
Epístola aos Coríntios
(XV:35-50).
(Obra citada, pp. 67 a
74.)
C. Pode o exercício da
mediunidade constituir
um ofício?
Não. A mediunidade não
pode constituir um
ofício, nem ser um meio
de adivinhação ou de
descoberta de tesouros.
O médium, segundo os
desígnios da Providência
e sob as vistas do
Espiritismo, seja
artífice ou seja
príncipe, recebeu um
mandato que deve cumprir
religiosamente e com
dignidade.
(Obra citada, pp. 80 e
81.)
Texto para leitura
40. Kardec aproveita a
oportunidade para
mostrar a incoerência
dos exorcistas no caso.
Ora, se eles entendiam
que na alma do falecido
poderia estar a causa
dos fenômenos, por que o
exorcismo? É preciso ser
coerente. Duas causas –
lembra Kardec – explicam
a impotência dos
exorcismos: 1a
– Eles são dirigidos aos
demônios; contudo os
obsessores e
perturbadores não são
demônios, mas seres
humanos. 2a –
O exorcismo não é uma
prece, mas um anátema,
uma ameaça, que irrita o
agente invisível e não
concorre para o conduzir
ao bem. (Pág. 57.)
41. Os adversários do
Espiritismo não perderam
tempo e exploraram ao
máximo as peloticas dos
irmãos Davenport, os
dois jovens americanos
que foram pegos
fraudando em Paris. Os
críticos imaginavam,
talvez, que Kardec fosse
defender os irmãos, mas
se enganaram
inteiramente porque o
Codificador deixou claro
que as exibições
teatrais e a exploração
da mediunidade nada têm
a ver com o verdadeiro
espírito da doutrina.
“Que a crítica bata
quanto queira nestes
abusos; desmascare os
truques e os cordões dos
charlatães, e o
Espiritismo, que não usa
qualquer processo
secreto e cuja doutrina
é toda moral, não poderá
senão ganhar em ser
desembaraçado dos
parasitas que dele fazem
um degrau e dos que lhe
desnaturam o caráter.”
(Págs. 59 a 61.)
42. Notícia publicada na
França diz que os irmãos
Davenport, de volta a
Nova York, foram
publicamente desmentidos
por um antigo comparsa,
o Sr. Fay, na presença
de numerosa assistência.
O Sr. Fay teria
desvendado tudo, todas
as charlatanices, o
segredo das cordas e o
dos nós, que haviam
tornado famosos os
irmãos. Kardec, embora
reiterando sua
condenação às exibições
dos Davenport, contestou
a notícia, informando
que ambos ainda se
encontravam na
Inglaterra. William Fay,
o cunhado dos Davenport,
que os acompanhava, era
outra pessoa. O autor
dos fatos divulgados
pelos jornais era um tal
H. Melleville Fay, seu
concorrente e não amigo.
(Págs. 61 a 63.)
43. A crítica – observa
Kardec – desceu o braço
sobre os Davenport,
julgando que assim
estaria matando o
Espiritismo. Ora, o que
ela matou foi
precisamente o que o
Espiritismo condena e
desaprova: a exploração,
as exibições públicas, o
charlatanismo, as
manobras fraudulentas,
as imitações grosseiras
de fenômenos naturais, o
abuso de um nome que
representa uma doutrina
toda moral, de amor e de
caridade. (Pág. 64.)
44. Um longo estudo
sobre os fluidos
espirituais abre a
Revue de março de
1866. Eis, de forma
resumida, os
ensinamentos que nele se
contêm: I – Os fluidos
espirituais representam
um importante papel em
todos os fenômenos
espíritas, ou melhor,
são o princípio mesmo
desses fenômenos. II –
Não existe uma única
ciência que seja, em
todas as suas peças,
obra de um só homem.
Assim se dá com a
ciência espírita, que
requer para se
constituir o esforço dos
Espíritos e dos
encarnados. III – Os
corpos formam na obra da
criação uma cadeia
ininterrupta, de tal
sorte que os três reinos
não subsistem, na
realidade, senão por
seus caracteres gerais
mais marcantes, visto
que nos seus limites
eles se confundem. IV –
O homem pode operar
artificialmente as
composições e
decomposições que se
operam espontaneamente
na natureza, mas é
impotente para
reconstituir o menor
corpo organizado, ainda
que seja uma folha
morta. V – Ele não pode
reconstituí-la, nem lhe
dar vida, o que mostra
que seu poder para na
matéria inerte e que o
princípio da vida está
na mão de Deus. VI – A
ciência caminha para a
admissão de que os
corpos chamados simples
não passam de
modificações de um
elemento único,
princípio universal,
designado sob os nomes
de éter,
fluido cósmico
ou fluido
universal. VII – A
química faz-nos penetrar
na constituição íntima
dos corpos, mas,
experimentalmente, não
vai além dos corpos
considerados simples.
Ora, entre esse elemento
em sua pureza absoluta e
o ponto onde param as
investigações da
ciência, o intervalo é
imenso. VIII –
Raciocinando-se por
analogia, chega-se à
conclusão de que, entre
esses dois pontos
extremos, esse elemento
primordial deve sofrer
modificações que escapam
aos instrumentos e
sentidos materiais. IX –
A natureza íntima da
alma escapa
completamente às
investigações humanas,
mas sabemos que ela é
revestida de um
envoltório ou corpo
fluídico, constituindo,
assim, com esse
envoltório o ser que
chamamos Espírito. X –
Esse envoltório, que
chamamos de perispírito,
posto que de uma
natureza etérea e sutil,
não é menos matéria, e
reveste a alma, não só
durante a encarnação,
mas também na
erraticidade. XI – Sendo
o laço que une a alma ao
corpo material, o
perispírito não é uma
criação imaginária, e
sua existência é um fato
comprovado pela
observação. XII – Todas
as teogonias atribuem
aos seres invisíveis um
corpo fluídico e São
Paulo o define
claramente em sua 1a
Epístola aos Coríntios
(XV:35-50). (Págs. 67
a 74.)
45. Na sequência do
estudo, o Codificador,
depois de afirmar que o
perispírito é o traço de
união que liga o mundo
espiritual ao mundo
corporal, acrescenta: I
– É sabido que todos os
animais têm como
princípios constituintes
o oxigênio, o
hidrogênio, o nitrogênio
e o carbono, combinados
em diferentes
proporções. II – Esses
corpos simples derivam,
por sua vez, de um
princípio único, que é o
fluido cósmico
universal, que é também
a fonte da formação do
corpo fluídico ou
perispírito. III – O
perispírito é, segundo
os Espíritos, uma
condensação do fluido
cósmico em torno do foco
de inteligência, ou
alma. A transformação
molecular aqui opera-se
de modo diferente,
comparativamente com a
formação dos corpos
peculiares ao mundo
físico, porque o fluido
perispiritual conserva
sua imponderabilidade e
suas qualidades etéreas.
IV – O corpo
perispiritual e o corpo
humano têm, pois, sua
fonte no mesmo fluido, e
um e outro são matéria,
embora sob dois estados
diferentes. V – No
estado normal, o
perispírito é invisível
aos nossos olhos e
impalpável ao nosso
tato, como se dá com uma
infinidade de fluidos e
de gases, mas essa
invisibilidade e mesmo a
imponderabilidade não
são absolutas. VI –
Algumas pessoas
criticaram a
qualificação de
semimaterial dada ao
perispírito, dizendo que
uma coisa é matéria ou
não o é. Admitindo seja
essa expressão
imprópria, ainda assim
seria preciso adotá-la,
em falta de um termo
especial para exprimir
esse estado particular
da matéria. Ora, o
perispírito é matéria;
ninguém o contesta. Mas
não tem as propriedades
da matéria tangível e
não pode, por isso, ser
submetido à análise
química. É por isso que
se diz semimaterial,
palavra que não é mais
ridícula do que
semiduplo e tantas
outras. VII – O fluido
cósmico oferece dois
estados distintos: o da
eterização ou
imponderabilidade, que
pode ser considerado seu
estado normal primitivo,
e o de materialização ou
ponderabilidade, que lhe
é consecutivo. VIII –
Cada um desses dois
estados dá
necessariamente lugar a
fenômenos especiais. Ao
segundo pertencem os do
mundo visível, e ao
primeiro, os do mundo
invisível. IX – Uns,
chamados fenômenos
materiais, são do campo
da ciência propriamente
dita; os outros,
qualificados de
fenômenos espirituais,
são da atribuição do
Espiritismo. (Págs.
74 a 77.)
46. Falando sobre as
perseguições que se
multiplicavam contra o
Espiritismo em diversos
lugares, Kardec diz que
a maior parte dessas
ocorrências tinha por
objeto o exercício
ilegal da medicina, ou
acusações de
charlatanice, peloticas
ou trapaças. O
Espiritismo – adverte o
Codificador – não podia,
contudo, ser responsável
por indivíduos que
indevidamente tomavam a
qualidade de médium,
assim como a verdadeira
ciência não responde
pelos escamoteadores que
se dizem físicos, quando
ele próprio condena a
exploração da
mediunidade e a
considera contrária aos
princípios da doutrina.
(Págs. 78 a 80.)
47. Depois de reafirmar
que a mediunidade não
pode constituir um
ofício, nem ser um meio
de adivinhação ou de
descoberta de tesouros,
Kardec lembra que a
mediunidade curadora
existe, mas se subordina
a tantas condições
restritivas, que isso
exclui a possibilidade
de alguém manter um
consultório aberto, sem
a suspeita de
charlatanismo. A
mediunidade curadora é
uma “obra de devotamento
e de sacrifício e não de
especulação”. “Exercida
com desinteresse,
prudência e
discernimento, e contida
nos limites traçados
pela doutrina, não pode
cair sob os golpes da
lei.” (Pág. 80.)
48. O médium, segundo os
desígnios da Providência
e sob as vistas do
Espiritismo, seja
artífice ou seja
príncipe, recebeu um
mandato que deve cumprir
religiosamente e com
dignidade. Ele não vê na
sua faculdade senão um
meio de glorificar a
Deus e servir ao
próximo, e se faz
estimar e respeitar por
sua simplicidade,
modéstia e abnegação, o
que não se dá com os que
fazem da mediunidade um
trampolim, um
instrumento, para servir
aos seus interesses e
satisfazer a sua
vaidade. (Págs. 80 e
81.)
49. Na sequência, Kardec
transcreve uma carta
datada de 24/11/1865,
que lhe foi enviada pelo
Sr. Bonnamy, juiz de
instrução, que se tornou
espírita tão-somente com
a leitura d’ O Livro
dos Espíritos.
(Págs. 82 a 84.)
50. Posteriormente, o
pai do Sr. Bonnamy
manifestou-se na
Sociedade Espírita de
Paris, valendo-se da
mediunidade do Sr.
Desliens, ocasião em que
examinou a
progressividade da
legislação humana, que,
como todas as coisas
deste mundo, está
submetida ao progresso,
progresso lento,
insensível, mas
constante (Págs. 85 a
87.)
51. Em sua comunicação o
pai do Sr. Bonnamy faz
uma observação muito
interessante que, às
vezes, nos escapa. “Por
mais admiráveis que
sejam, para certas
pessoas, as legislações
antigas dos Gregos e dos
Romanos – disse ele –,
elas são muito
inferiores às que
governam as populações
adiantadas de vossa
época!” A lei terrena
será ainda por muito
tempo repressiva e
castigará os culpados,
mas a pena de morte
desaparecerá no futuro,
pela força das coisas.
(Págs. 85 a 87.)
52. Um dos
correspondentes da
Revue, escrevendo de
Milianah, Argélia,
refere-se à sua
faculdade de
desprendimento
espiritual durante a
vigília, ocasião em que
seu Espírito viaja
longe, visita as pessoas
e os lugares de que
gosta e depois retorna
sem esforço. Kardec, ao
registrar o fato, dá a
essa faculdade o nome de
mediunidade mental,
afirmando ser
considerável o número de
pessoas que, em vigília,
sofrem a influência dos
Espíritos e recebem a
inspiração de
pensamentos que não são
seus. (Págs. 87 e
88.)
(Continua no próximo
número.)