Igualdade dos sexos
Enquanto o feminismo
ainda nem existia como
expressão social, mas
somente através de
poucas vozes isoladas no
mundo, Allan Kardec, ao
expor a Doutrina
Espírita, torna-se um
dos primeiros feministas
a consagrar a igualdade
de direitos entre homens
e mulheres.
Na Revista Espírita
de janeiro de 1866¹ ele
faz uma leitura
histórica das discussões
em torno do valor da
mulher, abordando desde
os debates que ocorreram
nos concílios religiosos
sobre a existência ou
não da alma nas
mulheres, até os debates
políticos e econômicos
atestando a incapacidade
intelectual e moral
atribuídas a elas. Cita
um antigo escritor que
definiu e qualificou a
mulher como
“instrumento de prazer
do homem”. Desse
preconceito nasceu sua
inferioridade legal,
ainda não apagada
definitivamente em
nossos códigos.
O progresso das luzes,
aos poucos, resgatou a
mulher dessa condição,
emancipando-a não só
moralmente, mas também
legalmente, fatos que
aconteceram ao longo do
século XX, apesar de
hoje ainda existirem
regiões e religiões que
continuam a colocá-la
como um ser inferior,
abaixo do homem.
Em plena França do fim
do século XIX, os
jornais de Paris se
agitavam em um debate em
torno do ato legal de
diplomar ou não uma
jovem bacharela de 20
anos que acabara de se
formar, somente por
causa da sua condição
feminina. Allan Kardec
comenta o fato:
“Depois de terem
reconhecido que ela
tinha alma, lhe
reconheceram o direito à
conquista dos graus de
ciência, o que já é
alguma coisa”.
O Codificador afirma
que os direitos das
mulheres não são
concessões dos homens,
como atestavam alguns
intelectuais, mas
resultado da própria
Natureza, que não
fez nenhum superior ao
outro.
As Almas ou Espíritos
não têm sexo. Quando
elas encarnam, ou seja,
revestem-se
temporariamente de
envoltório carnal, este
lhes é uma pesada
vestimenta que a morte
as desembaraça. Mas é
nesse invólucro
material, em contato com
o mundo material, que
ocorre o progresso
individual e material do
mundo que habitam. A
cada encarnação a alma
chega mais desenvolvida,
traz novas ideias e
conhecimento adquirido
nas existências
anteriores. Assim se
efetivou o progresso dos
povos; os homens
civilizados de hoje são
os mesmos que viveram na
Idade Média e nos tempos
de barbárie e que
progrediram.
Os Espíritos evoluem
pelos trabalhos que
realizam e pelas provas
que devam sofrer. Para
progredir em todas as
áreas do conhecimento
cada um é chamado aos
mais diversos trabalhos
e aos diferentes gêneros
de provas. Por isso que,
alternadamente, nascem
na condição de ricos ou
pobres, senhores ou
servos, poderosos ou
subalternos.
É com o mesmo objetivo
que os Espíritos se
encarnam nos sexos
diferentes: aquele que
foi homem poderá
renascer mulher e
vice-versa, a fim de
realizar os deveres de
cada uma dessas posições
e sofrer-lhe as provas
necessárias ao
progresso.
As diferenças orgânicas
e psicológicas são
características da
personalidade,
atribuídas aos deveres
especiais que cada um
deve exercer,
completando-se um ao
outro: ao homem, pela
força muscular e pela
racionalidade, cabem
os trabalhos mais rudes;
às mulheres, pela
delicadeza das formas,
sensibilidade apurada e
finura das sensações,
características
apropriadas aos
trabalhos mais leves e
particularmente
essenciais à
maternidade.
Em 1857 n’O Livro
dos Espíritos²,
questiona-se aos
Espíritos Superiores se
o homem e a mulher são
iguais perante Deus e se
têm os mesmos direitos,
ao que respondem os
sábios da
espiritualidade: Deus
outorgou a ambos a
inteligência do bem e do
mal e a faculdade de
progredir, sendo esse o
maior sinal da igualdade
entre ambos.
Não existe, portanto,
diferenças entre o homem
e a mulher senão no
organismo material (que
se extingue com a
morte), dando por lei
natural a igualdade de
direitos, mas com
funções diferentes,
apropriadas às
características
intrínsecas de cada
sexo.
As injustiças e
desigualdades são
temporárias, sendo todo
privilégio dado a um ou
a outro contrário à
justiça. A emancipação
feminina segue o
progresso da
civilização, sendo a sua
subjugação ainda
resquícios da barbárie.
Afirma Kardec¹: “Com
a Doutrina Espírita, a
igualdade da mulher não
é mais uma simples
teoria especulativa; já
não é uma concessão de
força à fraqueza, mas
direito fundado nas
próprias leis da
Natureza. Dando a
conhecer essas leis, o
Espiritismo abre a era
da emancipação legal da
mulher, como abre a da
igualdade e da
fraternidade”.
¹ KARDEC, Allan.
Revista Espírita- Jornal
de Estudos Psicológicos.
Ano XIX – 1866.
Rio de Janeiro:
Federação Espírita
Brasileira, 2004,
p.13/18.
² O Livro dos
Espíritos. 9a. ed.
de bolso. Rio de
Janeiro: Federação
Espírita Brasileira,
2005. Questão 817 e
seguintes.