GEBALDO JOSÉ DE
SOUSA
gebaldojose@uol.com.br
Goiânia, Goiás
(Brasil)
Atendamos aos
‘Filhos do
Calvário’
“Agora,
percebia
que
a
vida
exige
mais
compreensão
que conhecimento.”1
Emmanuel1,
Espírito, diz
que Pedro, o
Apóstolo,
“com efusivas demonstrações
de
carinho”,
recebe, em Jerusalém, Efraim – humilde homem de coração pleno
de amor e
compaixão –, que
trouxera à ‘Casa
do
Caminho’
dois enfermos
carentes de auxílio.
“–
Mas
é
quase
impossível
— atalhou Tiago.
— Estamos
com
quarenta e
nove
doentes
acamados.”
Preocupavam-lhe
as ‘dificuldades’
de a Casa suportar novos encargos.
Sem render-se a
elas
e
sem
impor-se
ou
agredir
o companheiro –
sequer
alegando sua condição de
‘chefe’
–, mas atento à
carência
dos
que
chegavam, à
míngua
de
tudo,
como
‘convidados’
de Jesus, o Cristo de Deus,
e a
revelar
sublimado
amor
aos
desvalidos,
além
de
profunda
confiança
no Mestre,
“Pedro
esboçou
um sorriso generoso
e obtemperou:
–
Ora,
Tiago (...,)
presentemente, nosso tempo se destina a isso;
vejamos, pois, o
que
é possível fazer”.
(Grifamos.)
E acolheu os
sofredores. A
íntegra
dessa extraordinária obra mostra-nos o
acerto
da
serena
decisão
do
Apóstolo.
Jeziel, um dos
acolhidos – mais
tarde chamado
Estêvão –,
revelar-se-ia valoroso defensor da Causa do Evangelho, na
pregação, no
trabalho,
na
exemplificação,
e, pela morte,
no
testemunho
supremo.
Do
plano espiritual,
por decisão de Jesus, torna-se mentor do Apóstolo
dos gentios –
após a
conversão
deste à sua
Doutrina –, nas
lutas do
Evangelho e da
própria
redenção; e,
ainda, na
redação de suas
extraordinárias
epístolas.
Aquele
que a Tiago pareceu
obstáculo
a
mais,
na
visão
de
curto
prazo,
tornara-se
importante
colaborador da
nova
Instituição, criada para aplicar a
Doutrina do
Mestre
e
ser
modelo para as casas cristãs do futuro.
Tal
como Tiago, enganam-se os trabalhadores
das
atuais ‘Casas
do
Caminho’,
dirigentes,
ou não, que priorizam o equilíbrio financeiro.
E os ‘Filhos
do
Calvário’?
São acolhidos
como
enviados de Jesus e nessa condição tratados?
São bem-vindos e
amados?
Ou apenas
medicados e
alimentados?
E os
colaboradores da
Instituição
– assalariados,
ou não – recebem
vibrações
amorosas?
São
tratados
“com
efusivas
demonstrações
de
carinho”?
Abrimos-lhes as
portas para
ouvi-los e
auxiliá-los em
suas
dificuldades?
Sentem a
presença
do
Cristo
em
nossas palavras;
coerência em nossos exemplos e atitudes; em
nossas
decisões
de variada natureza? Ou
resmungam
pelos
cantos,
suportando
condições
humilhantes pela necessidade
do ‘ganha-pão’?
Não nos basta o
discurso:
indispensável a
coerência e a
vivência do que
apregoamos.
Se os
maltratamos,
cumprimos
nossa missão como discípulos de Jesus? Qual
é a
essência
dos
resultados
que obtemos, além
do frágil
equilíbrio
financeiro?
Dialogamos
afetuosamente com
todos, estimulando-os ao crescimento, à participação, ou
nos impomos a
ferro
e fogo, afastando uns e outros?
Somos temidos
ou
amados?
Ou somos respeitados apenas por exercícios temporários de cargos?
Agindo assim,
não
suscitamos boas vibrações nos outros
– e bem sabemos
a
importância
delas! E mais, ignoramos a participação do
mundo
espiritual na
Casa,
que deixa
de
ser de
Deus,
mas ‘nossa’,
particular.
Líder real é o
que conduz todos
ao crescimento,
não o que se
impõe. É o que a
todos motiva
pela empatia;
que os leva ao
compromisso com
as decisões que
adota.
Não
basta às
Instituições Espíritas saúde financeira.
Certamente que
a ‘sobrevivência
física’
de todas
elas
exige esse
equilíbrio, mas
também o de
seus
dirigentes, em todos os aspectos, máxime na exemplificação do Evangelho, finalidade
maior dos
postulados espíritas! Cultivemos Amor e Simplicidade sempre, na
vida ou na
temporária
administração de
qualquer Casa
Espírita.
Valorizemos o
momento, à
maneira
do Bom Samaritano, com os que os céus nos enviam,
necessitados ou
feridos, à
margem
do caminho evolutivo; ou
com aqueles de diversas condições, carentes de
oportunidades,
para que também cresçam e deem sua
cota de amor
à
obra
do Cristo.
Senão, que trabalho realizamos?
Vejamos
em
O
Evangelho
segundo o
Espiritismo
o
item
9 do cap. XVII:
Os superiores e os inferiores.2
Ou o cap. X,
item 16:
“Sede indulgentes, meus
amigos, porquanto
a
indulgência
atrai, acalma,
ergue, ao passo que o rigor desanima, afasta e irrita. — José, Espírito protetor”.2
Aplicando as
lições
ali
contidas,
jamais
fracassaremos.
Energia,
zelo e retidão não
dispensam
indulgência e
sensibilidade
para com o
bem-estar e a
vida
daqueles
que
nos
cercam.
Emmanuel,
Espírito,
também nos
oferece
sugestões
para
conciliar:
“ENERGIA E BRANDURA
Na marcha do dia-a-dia,
urge
harmonizar
as
manifestações
de nossas
qualidades com o espírito
de
proporção
e
proveito,
a
fim
de
que
o
extremismo
não
nos imponha
acidentes,
no
trânsito
de nossas tarefas e relações.
(...)
Em tudo, equilíbrio, porque,
se tivermos
equilíbrio,
asseguraremos, em toda parte e em qualquer tempo,
a
presença
da
caridade
e da
paciência,
em
nós mesmos,
(...)”.
Ainda
em Paulo e Estêvão1 –
obra que merece ser lida
e meditada, eis
que plena de
lições
sublimes – lemos
que
Pedro, em momentos
difíceis, pensou
em
se
afastar
de Jerusalém,
vencido,
derrotado. Numa
noite,
enquanto orava, sentiu que alguém se
aproximava
suavemente:
“Era o
Mestre!
(...) Fitou-me
grave
e terno e falou:
— Pedro, atende
aos ‘filhos do Calvário’,
antes de pensar
nos teus
caprichos!”
Mais à
frente1,
Paulo de Tarso, após diálogos com
Tiago –
com
quem
sempre divergira –, reconhece a importância do companheiro
na
manutenção
da
Casa
do
Caminho
e para a sobrevivência do Cristianismo
nascente. Tiago,
não
por acaso escolhido
pelo
próprio Jesus como
um de seus
discípulos!
Medita na
sabedoria
do
Cristo,
que reuniu homens
simples para
aprenderem e
exercitarem a
Boa
Nova.
É de suas maduras reflexões
a
frase
que
encima
este
artigo.
Todos
podemos
doar,
embora
ignoremos,
ainda,
o
valor
deste
ou
daquele
trabalhador
ao
nosso
lado.
Urge,
pois,
valorizá-los, na
altura
em que
se encontram.
Divergir é
natural,
é
benéfico,
quando há diálogo,
quando há
entendimento,
quando se pensa
mais na Causa
do Evangelho do
que
em
impor nossas ‘verdades’. Se servimos a Jesus e, cada vez menos, ao nosso
ego – há que,
reiteradamente,
submetê-lo a
punções, para
desinflá-lo do
orgulho e da
vaidade –, ao
nosso
desejo
de mando.
Aprendamos com
João
Batista,
no ensino da
mais pura
humildade:
“É
necessário
que Ele
cresça e
que
eu
diminua”.
João
Batista
(Jo, 3:30).
Vejamos ainda em
O
Evangelho
segundo o
Espiritismo
– cap. XX, item 4:
“(...) Ide e
agradecei a Deus a gloriosa
tarefa que
Ele vos
confiou;
mas,
atenção!
Entre os chamados para
o
Espiritismo
muitos
se transviaram:
reparai,
pois,
vosso
caminho e segui a
verdade.
(...)
quais
os
sinais
pelos
quais reconheceremos os que se acham no bom
caminho?
(...)
Reconhecê-los-eis pelos princípios
da verdadeira
caridade que eles
ensinarão e
praticarão.
Reconhecê-los-eis
pelo número de aflitos
a
que
levem
consolo;
reconhecê-los-eis
pelo
seu
amor ao próximo,
pela sua
abnegação, pelo
seu desinteresse
pessoal; reconhecê-los-eis, finalmente, pelo triunfo de seus
princípios, (...)
mas
Ele destruirá
aqueles
que falseiam o
espírito
dessa
lei
e fazem dela degrau para
contentar
sua vaidade
e ambição”. –
Erasto,
Espírito.
Quanto ao
mais,
não
nos inquietemos,
eis
que o “tesoureiro
mora nos
Céus!” Com trabalho e harmonia, recursos
humanos e
materiais
fluirão,
porque
a
presença
do
Mestre
os atrairá ao ambiente fraternal, por acréscimo de misericórdia! Há
que
administrá-los
com rigor, eis
que daremos
conta de nossa
administração!
Bibliografia:
1. XAVIER,
Francisco C.
Paulo e Estêvão.
Pelo
Espírito
Emmanuel.
16ed. FEB,
Rio
de
Janeiro,
1980, p. 458; p.
60; 389/391; e
458,
respectivamente;
2. KARDEC,
Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.
124ed. FEB,
Rio de
Janeiro,
2004, cap. XVII,
item
9, p. 332 a 334;
cap. X, item 16, p. 204;
3. XAVIER, F.
Cândido.
Alma
e
Coração.
Pelo
Espírito Emmanuel.
PENSAMENTO,
São Paulo, cap. 19, p. 47.