CELSO MARTINS
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Rio de Janeiro,
RJ (Brasil)
Recordando
Juvanir Borges
de Souza
Muitos se
preocupavam com
o começo dos
jogos da Copa
Mundial de
Futebol,
assistindo pela
TV aos jogadores
no Sul da
África, naquele
friorento dia
dos namorados,
12 de junho de
2010.
Pessoalmente a
mim me
preocupava mais
a próxima
cirurgia de alto
risco a que em
breves semanas
se submeteria a
esposa querida,
Neli.
Eis que, pouco
depois das 13h,
à porta de um
mercado, onde
comprava
legumes, um
ex-aluno (Ubiracy),
hoje atuante
membro do
Santuário Frei
Luiz, em
Jacarepaguá
(RJ), médico
ortopedista
formado pela
Universidade
Federal do Rio
de Janeiro,
diz-me que havia
algumas semanas
desencarnara o Juvanir
Borges de Souza.
Fiz rápida
retrospectiva no
tempo.
Abril de 1984,
desencarnava
Deolindo Amorim.
Dei-me pressa,
com auxílio da
esposa (não
gosto da palavra
viúva), Dona
Delta dos Santos
Amorim, da Dona
Zilda Alvarenga
e do Enéas
Dourado, em
reunir em livros
algumas das
abundantes
colaborações do
velho baiano em
periódicos do
Brasil e de
Portugal, o que
foi, a meu ver,
uma forma de
homenageá-lo. E
assim, com o
apoio sempre da
Neli, entraram
em cena a EME
(Editora
Espírita
Mensagem de
Esperança), a
Federação
Espírita do
Paraná e a turma
de Vila Velha
(ES), ao tempo
do Júlio César
Grandi Ribeiro,
a quem conheci
na semana
espírita de
Macaé, em 1963,
ao tempo do
Dalmir (a quem
não conheci
ainda). Quer
dizer, Casa
Espírita-Cristã.
Dezembro de
1992, mando
carta para o
Juvanir.
Responde-me ele
em março do ano
seguinte. Esteve
retido ao leito
longo tempo após
extrair uma
pedra dos rins,
daí o atraso
postal,
altamente
compreensível.
Março de 1993,
eu me vejo numa
segunda-feira,
mais ou menos 10
da manhã, no
departamento
editorial da
FEB,
reencontrando
amigos como o
Lauro S. Thiago,
o José Salomão,
o Alberto
Nogueira da
Gama, o Agadyr
Teixeira Torres.
Conheci então o
Zêus Wantuil e o
Juvanir.
Ao então
presidente da
FEB, passo umas
150 laudas mal
datilografadas
sob o título de
Análises
Espíritas, com a
papelada passada
em cartório pela
Dona Delta,
permitindo a
edição da obra.
Advogado
prudente,
Juvanir diz que
a FEB tentaria
iguais papéis
dos demais
herdeiros. Para
agilizar o
processo, pego o
pião à unha.
Saio de São
Cristóvão e vou
a Ipanema, pois
ali estava de
passagem a filha
Rosa, pois
morava em
Havana, esposa
do nosso
diplomata à
época em Cuba. E
no mesmo dia
envio cartas
para o mais
velho, Paulo
Henrique Amorim,
e para a caçula,
Marília,
estagiando na
França, obtendo
seus endereços
com Dona Delta.
Marília manda-me
a permissão
dizendo que lá
não existe
burocracia de
firma
reconhecida,
dando-me o
endereço de uma
prima junto à
qual teria eu a
informação aqui
no Rio.
Julho de 1993,
veio a carta do
Paulo Henrique
Amorim
desculpando-se
da demora.
Servia à Rede
Globo de TV e só
então, depois de
viajar de um
canto a outro
daquele enorme
país, que lhe
chegara a minha
carta. Dava
total permissão
e dizia a mesma
coisa da irmã
mais jovem. E me
diz onde
encontraria o
cartório para a
assinatura dele.
Deu-se um lance
pitoresco: o
tabelião, ao ver
o nome do
telerrepórter,
diz sério:
– É o Paulo
Henrique Amorim?
Então o senhor
vai pagar em
dólares.
Amarro a cara e,
mais feio do que
já sou,
resmungo:
– Em dólares uma
ova! Quem vai
pagar em
cruzados (sim,
era o tempo do
cruzado, do José
Sarney) são os
meus bolsos de “sofressor”,
da rede oficial,
xará!
Avancemos.
Agosto de 1993,
volto ao Juvanir
que quer me
reembolsar.
Polidamente
respondo-lhe:
– Pague-me
lançando o livro
até ontem. Ele
sorri e
abraça-me
amável.
O livro entra na
máquina, como se
diz no jargão
dos gráficos,
não sei se o
mesmo se dê
agora com a tal
de Internet, com
a qual não me
ajeito de jeito
nenhum, embora
saiba de sua
utilidade para
mim, que sou
esperantista
desde 1956, nos
saudosos 14 anos
de idade.
Outubro, faço a
revisão final e,
exatamente em
novembro, Dona
Rúbia me dá dois
pacotes, cada
qual com 50
exemplares, um
para distribuir
entre amigos e o
outro para Dona
Delta dar o
mesmo destino.
No meu caso, o
1º exemplar para
Neli e os filhos
Celso e Silvana,
o 2º para Dona
Zilda e o 3º
para o Roldão
Tavares de
Castro, irmão do
Oli de Castro
(coautor com
Leopoldo Machado
do hino Alegria
Cristã). Roldão,
esse que sempre
me divulgou
livros na
Amazônia, ao
lado do
Alencar.
*
Bienal do Livro
no Riocentro de
1997. Volto a
encontrar o
Juvanir. E ele
me diz ter a FEB
feito um negócio
da China:
declara que a
DPL comprara 50
mil exemplares
de diferentes
títulos para
distribuição
FORA do meio
espírita, o que
sempre foi (e
continua sendo)
o meu maior
anseio e a minha
maior luta. Não
para catequizar,
mas consolar e
orientar. E aí
me fiz amigo do
dono da
Distribuidora
Paulista de
Livros, o José
Carlos de
Carvalho, que me
lançou mais de
10 títulos sobre
temas atuais. A
Distribuidora
Candeia que o
diga. Como gosto
de escrever...
Pelo Natal de
2002 mando-lhe
um soneto “de
pernas para o
ar”. Explico-me
melhor.
Inspirando-me
num soneto do
político Augusto
Frederico
Schmidt, que li
em 1959, no
livro “Língua e
Literatura”, do
Herbert Palhano,
no meu 2º ano do
Colégio
Leopoldo,
professora: a
galega Cecília
Ledo, pus de
início os dois
tercetos e, por
fim, os dois
quartetos,
invertendo o
poema fixo
criado, dizem,
por Petrarca, e
cultivado por
Camões, Bocage,
Bilac e até
Vinícius de
Moraes.
Juvanir estranha
em carta e em
carta lhe digo:
Desde a Roma dos
Césares, aos
artistas e aos
poetas tudo é
permitido.
Conhecedor de
Latim, ele
conhecia isso.
2009. Telefono
para
Laranjeiras, Rua
Coelho Neto.
Dona Yole diz
que o esposo
está doente.
Espanto-me ao
sabê-lo com 93
anos e com
infecção
generalizada.
Outro telefonema
umas semanas
depois. Mesma
notícia.
Agora... Até
breve, irmão.
(Cartas: Caixa
Postal 61003,
Vila Militar,
Rio de Janeiro,
RJ, CEP
21615-970.)