ASTOLFO O. DE OLIVEIRA
FILHO
aoofilho@oconsolador.com.br
Londrina, Paraná
(Brasil)
A Revue Spirite
de 1866
Allan Kardec
(Parte
10)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1866. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. A qualificação
Espírito de Verdade diz
respeito a um Espírito
ou a uma coletividade,
uma plêiade de
Espíritos?
Segundo Allan Kardec,
essa qualificação
pertence a um único
Espírito e pode ser
considerada como um nome
próprio. Está
especificada no
Evangelho. Aliás,
acrescenta o
codificador, esse
Espírito se comunica
raramente e apenas em
circunstâncias
especiais.
{N.R.: Em seu
livro Instruções
Práticas sobre as
Manifestações Espíritas,
pág. 91 da 2a
edição publicada pela
Editora O Clarim, Kardec
nos deu a seguinte
informação sobre o
Espírito de Verdade:
“Tendo eu interrogado
esse Espírito, ele se
deu a conhecer sob um
nome alegórico (eu
soube, depois, por
outros Espíritos, que
fora o de um ilustre
filósofo da
Antiguidade)”.}
(Revue Spirite de 1866,
pp. 221.)
B. Os Espíritos podem
ver seu passado?
Sim. Mas um leitor
questionou o fato de ter
sido o Espírito do Dr.
Cailleux posto em estado
magnético para ver
desenrolar-se à sua
frente o quadro de suas
existências passadas. O
fato, segundo o leitor,
parecia contradizer o
item 243 d’ O Livro dos
Espíritos. Kardec
disse-lhe que não, pois,
ao contrário, vem
confirmar a
possibilidade, para o
Espírito, de conhecer
suas existências
passadas. “O Livro dos
Espíritos não é um
tratado completo do
Espiritismo; apenas
apresenta as bases e os
pontos fundamentais, que
se devem desenvolver
sucessivamente pelo
estudo e pela
observação”, asseverou
Kardec. Ele ensina que a
alma vê suas migrações
passadas, mas não diz
quando nem como isto se
dá.
(Obra citada, pp. 221 e
222.)
C. Quando Maomé teve a
primeira visão do anjo
Gabriel?
Foi aos 40 anos de idade
que teve ele a primeira
visão durante o sono: o
anjo Gabriel lhe
apareceu mostrando-lhe
um livro que o
aconselhou a ler. Três
vezes resistiu a essa
ordem e só para escapar
ao constrangimento sobre
ele exercido é que
consentiu em o ler. Ao
despertar, disse ter
sentido “que um livro
tinha sido escrito em
seu coração”, frase
posteriormente tomada ao
pé da letra por seus
seguidores.
(Obra citada, pp. 231 e
232.)
Texto para leitura
117. Poucos dias após
seu falecimento, o Sr.
Méry comunicou-se na
Sociedade Espírita de
Paris, quando revelou
que a morte foi para ele
de uma doçura inefável e
confirmou ter sido, sim,
espírita de coração e de
espírito, embora não
houvesse se engajado na
tarefa espírita.
(Págs. 214 a 216.)
118. Tratando do tema
identidade dos
Espíritos, Kardec
reitera que a identidade
não pode ser constatada
com certeza senão para
os Espíritos partidos
recentemente. Quanto aos
que deixaram a Terra há
mais tempo, ela não pode
ser atestada de maneira
absoluta. (Págs. 216
e 217.)
119. Além disso, há na
faculdade mediúnica uma
infinita variedade de
nuanças que tornam o
médium apto ou impróprio
à obtenção de
determinados efeitos
que, à primeira vista,
parecem idênticos e, no
entanto, dependem de
influências fluídicas
diferentes. “O médium é
como um instrumento de
cordas múltiplas: não
pode dar pelas cordas
que faltam”, explica
Kardec, que menciona a
respeito um fato muito
interessante. (Págs.
217 e 218.)
120. As provas de
identidade quase sempre
vêm espontaneamente,
quando menos se espera,
ao passo que são dadas
raramente quando
pedidas. Capricho da
parte do Espírito? Não.
Ocorre aí como na
fotografia, onde uma
simples variação na
intensidade ou na
direção da luz basta
para impedir a
reprodução da imagem.
(Págs. 218 e 219.)
121. As relações
fluídicas que devem
existir entre o Espírito
e o médium jamais se
estabelecem
completamente no
primeiro contato; a
assimilação só se faz
com o tempo e
gradualmente. Quando
seus fluidos estão
identificados, as
comunicações se dão
naturalmente. (Pág.
219.)
122. Um Espírito, mesmo
canonizado em vida, pode
dar-se a qualificação de
santo, sem faltar à
humildade? Kardec
explica: “A canonização
não implica a santidade,
no sentido absoluto, mas
simplesmente um certo
grau de perfeição. Para
alguns a qualificação de
santo tornou-se uma
espécie de título banal,
fazendo parte integrante
do nome, para distinguir
de seus homônimos, ou se
lhes dá por hábito”.
Dito isto, o codificador
não via nada de mais em
Santo Agostinho e São
Luís assinarem dessa
forma suas comunicações.
(Págs. 220 e 221.)
123. Referindo-se no
mesmo comentário ao
Espírito de Verdade,
Kardec diz que essa
qualificação pertence a
um único Espírito e pode
ser considerada como um
nome próprio. Está
especificada no
Evangelho. Aliás,
acrescenta o
codificador, esse
Espírito se comunica
raramente e apenas em
circunstâncias
especiais. (Pág.
221.)
124. Um leitor questiona
o fato de ter sido o
Espírito do Dr. Cailleux
posto em estado
magnético para ver
desenrolar-se à sua
frente o quadro de suas
existências passadas. O
fato não parece
contradizer o item 243
d’ O Livro dos
Espíritos? Kardec diz
que não, pois, ao
contrário, vem confirmar
a possibilidade, para o
Espírito, de conhecer
suas existências
passadas. “O Livro dos
Espíritos não é um
tratado completo do
Espiritismo; apenas
apresenta as bases e os
pontos fundamentais, que
se devem desenvolver
sucessivamente pelo
estudo e pela
observação”, asseverou
Kardec. Ele ensina que a
alma vê suas migrações
passadas, mas não diz
quando nem como isto se
dá. Nos Espíritos
atrasados, a visão é
limitada ao presente e
se desenvolve com a
inteligência e à medida
que adquirem consciência
de sua situação.
(Págs. 221 e 222.)
125. O número de julho
de 1866 se encerra com
uma poesia – “A prece
pelos Espíritos” – de
Casimir Delavigne.
(Pág. 223.)
126. Maomé e o Islamismo
constituem o tema do
artigo de abertura do
número de agosto, no
qual Kardec apresenta um
conjunto de informações
que nos permitem
conhecer em sua essência
a vida e a obra do autor
do Alcorão. Ei-las, de
forma sintética: I)
Desde muito tempo a
Arábia era povoada por
várias tribos, quase
todas nômades e
perpetuamente em guerra
umas contra as outras.
II) Os rebanhos eram sua
principal fonte, mas
algumas se davam ao
comércio, realizado por
caravanas que partiam
anualmente do Sul com
destino à Síria ou à
Mesopotâmia. III) As
caravanas pouco se
afastavam das bordas do
mar e as principais
seguiam o Hidjaz, região
que forma, às margens do
Mar Vermelho, uma faixa
estreita, numa extensão
de quinhentas léguas (o
vocábulo Hidjaz
significa barreira e se
dizia da cadeia de
montanhas que borda essa
região e a separa do
resto da Arábia). IV) Os
pontos de estação das
caravanas, que paravam
nos lugares onde havia
água e árvores,
tornaram-se centros
onde, pouco a pouco, se
formaram cidades, das
quais as principais, no
Hidjaz, são Meca e
Medina. V) A maior parte
dessas tribos pretendia
descender de Abraão, que
era tido, por isso, em
grande honra entre eles.
VI) Entre eles havia uma
crença de que a famosa
fonte de Zemzem, no vale
de Meca, era a que
Gabriel tinha feito
jorrar quando Agar,
perdida no deserto, ia
morrer de sede com seu
filho Ismael. VII) A
tradição dizia ainda que
Abraão, tendo vindo ver
seu filho exilado, havia
construído com as
próprias mãos, perto
dessa fonte, a Caaba,
uma casa de nove côvados
de altura por 32 de
comprimento e 22 de
largura, a qual,
religiosamente
conservada, tornou-se um
lugar de grande devoção,
sendo um dever
visitá-la. VIII) As
caravanas paravam ali
naturalmente e os
peregrinos aproveitavam
sua companhia para
viajar com mais
segurança. IX) A
peregrinação a Meca
existia desde tempos
imemoriais. Maomé apenas
conservou e tornou
obrigatório o costume. A
Caaba é hoje rodeada por
uma mesquita. X) No
princípio a religião dos
árabes consistia na
adoração de um Deus
único, a cuja vontade o
homem deve ser
completamente submisso.
XI) Essa religião, que
era a de Abraão,
chamava-se Islam e os
que a professavam
diziam-se Muçulmanos,
isto é, submetidos à
vontade de Deus; mas,
pouco a pouco, o puro
Islam degenerou em
grosseira idolatria.
Cada tribo tinha seus
deuses e seus ídolos e
isso foi a causa de
muitas e longas guerras
entre elas. XII) Havia,
porém, em certas tribos
homens piedosos que
adoravam a Deus único e
repeliam o culto dos
ídolos. Chamados Hanyfas,
eram eles os verdadeiros
muçulmanos, que
conservavam a fé pura do
Islam, embora fossem
pouco numerosos e com
escassa influência sobre
as massas. XIII) Maomé
nasceu em Meca a 27 de
agosto de 570 da Era
Cristã. Pertencia a uma
família poderosa e
considerada, da tribo
dos Coraychitas, uma das
mais importantes da
Arábia e supostamente
descendente em linha
reta de Ismael. XIV) Seu
pai morreu dois meses
antes de seu nascimento,
e sua mãe o deixou órfão
com a idade de seis
anos. Seu avô
Abd-el-Mutalib, que o
estimava muito, morreu
também dois anos depois,
de tal forma que, apesar
da posição que sua
família havia ocupado,
Maomé passou a infância
e a juventude num estado
próximo ao da miséria.
XV) Com a morte do avô,
ele foi recolhido pelos
tios, cujos rebanhos
pastoreou até a idade de
vinte anos. (Págs.
225 a 230.)
127. Maomé tinha o
espírito meditativo e
sonhador e um caráter de
uma solidez e maturidade
tão precoces, que seus
companheiros o
designavam pelo
sobrenome de El-Amin,
“o homem seguro, o homem
fiel”. Mesmo quando
jovem e pobre,
convocavam-no às
assembleias da tribo
para os negócios mais
importantes. Fazia
parte, então, de uma
associação formada entre
as principais famílias
coraychitas, cujo
objetivo era prevenir as
desordens da guerra,
proteger os fracos e
lhes fazer justiça.
(Págs. 230.)
128. Aos vinte e cinco
anos casou-se com sua
prima Khadidja, viúva e
rica, quinze anos mais
velha do que ele. Essa
união, que foi sempre
feliz, durou 24 anos e
só terminou com a morte
da esposa, aos 64 anos.
(Pág. 231.)
129. Depois da morte de
Khadidja seus costumes
mudaram e Maomé desposou
várias mulheres: teve
doze ou treze em
casamentos legítimos e
deixou, ao morrer, nove
viúvas. (Pág. 231.)
130. Até os quarenta e
nove anos, quando morreu
Khadidja, sua vida
pacífica nada
apresentara de saliente.
Apenas um fato o tirou
um instante da
obscuridade. Foi quando,
estando Maomé com 35
anos, os coraychitas
resolveram reconstruir a
Caaba, que ameaçava
ruína. Sua intervenção
numa polêmica suscitada
na época satisfez a
todos. Aos 40 anos, no
monte Hira, teve ele uma
visão durante o sono: o
anjo Gabriel lhe
apareceu mostrando-lhe
um livro que o
aconselhou a ler. Três
vezes resistiu a essa
ordem e só para escapar
ao constrangimento sobre
ele exercido é que
consentiu em o ler. Ao
despertar, disse ter
sentido “que um livro
tinha sido escrito em
seu coração”, frase
posteriormente tomada ao
pé da letra por seus
seguidores. (Págs.
231 e 232.)(Continua no próximo
número.)