SIDNEY FRANCEZ
1948@uol.com.br
Bauru, São Paulo
(Brasil)
Quando é preciso
dizer não!
A Hora e Vez de
Madalena
“A Dureza e a
Ingratidão não
podem perseguir
o amor puro.
(...) Quando as
almas
reencarnadas se
revelam
impermeáveis ao
reconhecimento e
à compreensão,
distanciamo-nos
delas,
naturalmente,
ainda mesmo
quando encerrem
para nós
valiosas joias
do coração, até
que se integrem
no conhecimento
das leis de Deus
e se disponham a
segui-las, em
nossa companhia.
(...) Se não nos
sentimos com a
precisa coragem
para o
afastamento
necessário,
(...) somos
favorecidos com
o tratamento
magnético que
opera em nós o
esquecimento
passageiro.”
(André Luiz, Os
Missionários da
Luz, pg. 254,
FEB, 22ª.
Edição.)
Quase 40 anos de
tolerância e
sacrifício.
Madalena
“engolira todos
os sapos
possíveis”. Seu
marido, sempre
autoritário e
manipulador, não
deixava de usar
suas doenças –
reais ou
imaginárias –
como meios para
chantagear a
pobre mulher.
Madalena era
“incompetente”
para abandonar o
lar. E Jorge
sabia disso. Se
soubesse
fazê-lo, talvez
a respeitasse.
Chegava agora à
terceira idade.
E, para seu
desespero, seus
filhos haviam se
tornado cópias
do pai. Também
não a
respeitavam e
exigiam cada vez
mais seus
sacrifícios.
Eis que um dia,
sabe-se lá de
onde surgiu a
ideia, Madalena
resolveu
comparecer a uma
reunião
mediúnica da
Casa Espírita
que frequentava.
Não era dada a
consultas.
Achava que os
Espíritos tinham
mais o que fazer
do que ficar
atendendo os
encarnados.
Mas uma força
misteriosa a
compelia à
consulta. Algo
que era mais
poderoso que sua
própria vontade
e princípios.
Sentou-se
discretamente
bem ao fundo da
sala.
Inesperadamente,
foi chamada à
frente pelo
mentor
espiritual dos
trabalhos. Não
conhecia a
médium. Nem por
ela era
conhecida.
- Quem lhe
outorgou a
função de
mártir,
Madalena? –
perguntou
abruptamente o
Espírito.
- Mártir, eu?
- A dureza e
ingratidão não
podem perseguir
o amor puro.
- Mas, como? Eu
sempre me
dediquei
integralmente à
minha família.
- E esqueceu-se
totalmente de
você mesma.
- Sabemos do seu
comportamento
amorável. Mas é
tempo de você
passar a pensar
nas suas
próprias
necessidades.
- Estamos
autorizados a
ajudá-la a
promover o
equilíbrio da
sua família. Mas
você precisará
fazer a sua
parte.
Madalena estava
totalmente
confusa!
Pensava que
sempre agira de
maneira correta.
E, agora, essa
disposição da
espiritualidade!
Não seria talvez
algum processo
de mistificação?
- Não se
preocupe
Madalena.
Sabemos que você
fez todo o
possível para
seus familiares.
É hora de eles
acordarem para a
vida!
Aturdida,
Madalena voltou
ao lar.
Naquela noite,
os
incompreensíveis
familiares,
visivelmente
influenciados
por entidades
das sombras,
haviam se
desentendido. E,
como sempre, ela
era a
apaziguadora e,
ao mesmo tempo,
o para-raios das
lascas que
sobravam.
Depois da
tempestade,
depois de suas
orações ao
leito, prometeu
a si mesma
refletir
seriamente sobre
as sugestões que
havia recebido
dos Espíritos.
Embalada no sono
por aquelas
vibrações
acalentadoras,
foi transportada
para a
espiritualidade
maior, onde
obteve a
confirmação das
orientações
recebidas e,
ainda mais, o
estímulo que lhe
faltava para
rever a sua
posição de
encarnada.
No dia seguinte,
Madalena acordou
disposta a mudar
de vida e, ao
mesmo tempo,
contribuir de
maneira mais
efetiva para
reorganização da
sua família.
Promoveu uma
reunião com
Jorge, seu
marido, e os
dois filhos.
Considerando que
os filhos já
haviam crescido
e não mais
necessitavam de
seus cuidados
diretos,
comunicou suas
decisões.
Voltaria a
estudar. Havia
abandonado a
faculdade tão
logo engravidara
do primeiro
filho.
Iria procurar um
emprego. Ansiava
ser mais útil e
provar a sua
capacidade
profissional. Se
conseguira
administrar uma
casa e uma
família (por
sinal muito
complicada), com
certeza daria
conta de novas
tarefas
externas.
Aos finais de
semana iria
ligar-se à
atividade
voluntária da
creche-berçário
do bairro em que
moravam.
As decisões de
Madalena caíram
como um raio
sobre os
familiares.
Egoisticamente,
apresentaram
argumentos,
dificuldades e
objeções.
Madalena não
tinha mais idade
para esses
arroubos da
juventude!
Mas, escudada
pelos mentores
espirituais que
a acompanhavam,
Madalena
encheu-se de
coragem e
informou que
suas decisões
eram
irreversíveis.
Era hora de
pensar um pouco
nela mesma.
*
A princípio foi
muito difícil.
Os familiares
praticamente
“bombardeavam”
todas as suas
iniciativas.
No entanto,
Madalena era
forte e
persistente.
Assim como havia
sido com as
coisas dos
outros durante
toda a vida.
Os familiares
não tiveram
outra
alternativa
senão aceitar as
“ideias
revolucionárias”
da mulher da
casa.
“O verbo
edifica. Mas o
exemplo arrasta
sempre.” A frase
de André Luiz
encaixou-se
perfeitamente à
nova fase da
vida de
Madalena.
Vendo a mãe
feliz e
entusiasmada com
o estudo, o
trabalho e o
trabalho
voluntário, os
filhos passaram
a olhá-la com
mais respeito e
observá-la
melhor.
Dali a algum
tempo, tendo que
fazer cada um a
sua parte na
casa, pararam de
centralizar as
culpas e
obrigações em
Madalena e
passaram a
valorizar o
trabalho até
então realizado
só por ela.
O próprio
marido,
reconhecendo o
valor da esposa,
vencendo, não
obstante a
idade, as
dificuldades do
estudo e os
obstáculos
profissionais,
passou a vê-la
com outros
olhos.
Tomou-se da
mesma coragem e
ingressou num
programa de
“desaposentadoria”
que recentemente
surgira em sua
cidade. Se a
esposa pôde, ele
também poderia
voltar a
trabalhar.
*
Os Espíritos
sempre estão
dispostos a nos
ajudar.
Preocupam-se com
a nossa vida,
mas não podem
operar em nosso
lugar.
Se nos
distanciamos do
caminho certo,
mesmo imbuídos
de boas
intenções,
procuram nos
alertar e
corrigir nossos
enganos.
Daí é por nossa
conta. Rever os
erros e passar a
trilhar uma nova
vida dependerá
exclusivamente
de nós mesmos.