ALTAMIRANDO
CARNEIRO
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São Paulo, SP
(Brasil)
Atualidade de Castro
Alves
No dia 6 de julho de
1871, às três e meia da
tarde, junto a uma
janela banhada de sol,
para onde fora levado
conforme o seu último
desejo como encarnado,
desencarnava, na
Bahia, o poeta Antônio
Frederico de Castro
Alves.
Hoje, a Fazenda
Cabaceiras, onde o poeta
nasceu em
14 de março de 1847, num
domingo, às 10 horas, é,
desde 1971, o Parque
Histórico Castro Alves,
situado no município de
Cabaceiras do Paraguaçu,
no Estado da Bahia.
Digno de registro o
artigo publicado pelo
jornal O
Popular, de
Santo Amaro (BA), em 20
de julho de 1871, de
autoria de Antônio Alves
Carvalhal, do qual
destacamos os trechos:
“A imortalidade,
senhores!... (...) Eu te
abençoo, filosofia
santa, da religião do
Calvário! Só tu nos vens
ensinar essa crença
sublime de que o
espírito do homem não
morre, de que o
aniquilamento é uma
mentira! Sim, senhores,
como é doce e consolador
crer, neste instante,
que aquele espírito
transcendente, aquela
alma inspirada de gênio
não foi fundir-se com o
nada, mas que o Espírito
de Castro Alves, como um
pássaro de luz, subiu...
subiu... pelas regiões
imensas dos espaços
azulados e foi postar-se
mais radiante diante do
infinito!
Incrédulos! Insensatos
materialistas! Ide
ajoelhar-vos diante
daquele túmulo, fitai os
olhos naquele cadáver
e despedaçai os
princípios da vossa
doutrina! Dizei se essa
matéria desfalecida e
inerte, que vedes, podia
por si só constituir o
gênio; se naquele
invólucro não deveria
ter existido uma
substância mais sublime,
uma essência mais pura,
uma centelha do Céu, que
só ao Céu devia tornar?
Sublime mistério,
senhores! Enquanto a
matéria bruta tomba a
confundir-se com o nada,
um Espírito se eleva a
abraçar-se com Deus.
Ah! Não, ele não morreu,
senhores! Ele dorme...
Não perturbemos mais o
sono do poeta... Ele
sonha talvez um poema
para soletrá-lo aos
anjos...”
Sim, ele não morreu. E
nestes 139 anos sem a
sua presença física,
sempre esteve conosco,
principalmente através
de lições de Espiritismo
através de poemas
recebidos por Francisco
Cândido Xavier, Jorge
Rizzini, Waldo Vieira,
Dolores Bacelar. Poesia
mediúnica sobre a qual
explica José Herculano
Pires, na obra Antologia
do Mais Além, de
Jorge Rizzini, (Edições
FEESP – 2a.
edição, 1979):
“A poesia mediúnica foi
até hoje considerada
como marginal. A poesia
e toda a literatura
mediúnica. Os críticos
têm receio de pronunciar
sobre ela e quando o
fazem é de maneira
irônica. Servem-se de
ironia para se salvarem
dos preconceitos
vigentes, preservarem o
prestígio profissional e
manterem a sua posição
no Aquário. Assim podem
servir a Deus e ao Diabo
ao mesmo tempo. O
aquário é o meio
cultural em que se
desenvolveram, com sua
rotina, sua água parada
e morna, nem fria nem
quente, aquecida por
meios artificiais. É uma
delícia nadar nessa água
sem maiores
preocupações, no espaço
limitado pelo grosso
vidro da vasilha. Por
que pensar nas coisas
que poderiam existir
além do vidro?”
Na obra Castro
Alves Fala à Terra, com
poemas recebidos
mediunicamente por Chico
Xavier, Waldo Vieira e
Jorge Rizzini (Edições
Correio Fraterno, 3a.
edição, setembro de
2000), Herculano fala
sobre o mistério que a
poesia mediúnica
constitui para os homens
de letras e o desafio
que ele constitui para
os homens de ciência.
“Como admitir –
dizia-nos há pouco um poeta
– que Castro Alves
continue, cem anos após
a sua morte, apegado às
velhas fórmulas poéticas
e ao ímpeto ultrapassado
do condoreirismo?”,
pergunta que revela
total ignorância dos
assuntos espirituais e
um notório preconceito.
Herculano elucida que
se Castro
Alves ainda estivesse
encarnado, acompanharia,
por certo, os
movimentos literários
modernos. Mas estando no
mundo espiritual, seu
objetivo, nas poesias
que envia à Terra, “não
é atingir a virtuosidade
poética terrena, mas
atingir o coração
humano, identificar-se
perante os homens que
respeitam o seu nome e a
sua figura histórica”.
Diz ainda Herculano que
o gênio poético de
Castro Alves deve ter
atingido “uma grandeza e
um poder de expressão
que não podemos sequer
imaginar. Mas para se
dirigir aos homens, a
esses bichos da Terra
tão pequenos, como
escreveu Camões, o poeta
deve descer do Olimpo,
como faziam os deuses
gregos, e misturar-se
com os bichos”. Mas,
argumentam, não seria
melhor que o poeta
contribuísse para a
evolução da poesia, na
Terra? “Sim, talvez
fosse, mas a Pedagogia
nos adverte de que a
tarefa do aprendizado
pertence a cada um. De
que valeria um professor
universitário dar as
suas aulas num curso
primário?”