A Revue Spirite
de 1867
Allan Kardec
(Parte
2)
Continuamos a apresentar
o
estudo da Revue
Spirite
correspondente ao ano de
1867. O texto condensado
do volume citado será
aqui apresentado em 16
partes, com base na
tradução de Júlio Abreu
Filho publicada pela EDICEL.
Questões preliminares
A. Que sente o Espírito
de uma pessoa que morre
subitamente, de forma
inesperada?
Foi o que ocorreu com
Charles-Julien Leclerc,
espírita e membro da
Sociedade Espírita de
Paris, morto
subitamente, em seguida
a um ataque de apoplexia
(1)
fulminante. Em
comunicação dada na
Sociedade, Leclerc disse
ter ficado muito
surpreso com sua morte,
que acabou lhe causando
profundo choque porque,
em absoluto, não a
esperava. No momento em
que a morte o feriu, ele
a recebeu como que uma
cacetada na cabeça: um
peso esmagador o
derrubou, mas, de
repente, sentiu-se
aliviado. Seu Espírito
planou então acima do
seu cadáver e viu com
espanto as lágrimas dos
familiares, dando-se
conta do que havia
sucedido.
(Revue Spirite de 1867,
pp. 27 a 29.)
B. Satã é um ser real?
Não. A doutrina espírita
não admite poder rival
ao de Deus e menos,
ainda, que um ser
decaído tenha recuperado
bastante poder para
contrabalançar os
desígnios do Pai. Para o
Espiritismo, Satã é
apenas a
personificação alegórica
do mal, como entre os
pagãos Saturno era a
personificação do tempo,
Marte a personificação
da guerra e Vênus a
personificação da
beleza.
(Obra citada, pp. 45 e
46.)
C. Como explicar a
precocidade de certas
crianças?
Referindo-se ao caso
Eugénie Colombe, uma
menina de dois anos e
onze meses que sabia ler
e escrever perfeitamente
e tinha, ainda,
conhecimentos sobre
religião cristã,
gramática francesa,
geografia, história e as
quatro operações de
aritmética, Kardec
escreveu na Revue
o seguinte: 1) A
precocidade de certas
crianças para as
línguas, a música e as
ciências em geral não
passa de lembranças. 2)
A faculdade de recordar
é uma aptidão inerente
ao estado psicológico,
isto é, ao mais fácil
desprendimento da alma
em certos indivíduos do
que em outros. 3) O
passado é como um sonho
do qual a gente se
lembra mais ou menos
exatamente, ou do qual
se perdeu totalmente a
lembrança.
(Obra citada, pp. 47 a
49.)
Texto para leitura
14. Morto subitamente de
um ataque de apoplexia
fulminante,
Charles-Julien Leclerc,
que havia aprendido no
Brasil as primeiras
noções de Espiritismo,
manifestou-se na
Sociedade de Paris na
primeira sessão que se
seguiu ao seu
sepultamento. Da
comunicação de Leclerc,
que integrava a equipe
presidida por Kardec,
destacamos as
informações seguintes:
I) Leclerc ficou muito
surpreso com sua morte,
que acabou lhe causando
profundo choque porque,
em absoluto, não a
esperava. II) No momento
em que a morte o feriu,
ele a recebeu como que
uma cacetada na cabeça:
um peso esmagador o
derrubou, mas, de
repente, sentiu-se
aliviado. III) Seu
Espírito planou então
acima do seu cadáver e
viu com espanto as
lágrimas dos familiares,
dando-se conta do que
havia sucedido. No fim
da mensagem, Leclerc
disse estar muito feliz,
ao lado de amigos que o
precederam na vida
espiritual, como Sanson,
Jobard, Costeau, a sra.
Dozon e tantos outros.
(Págs. 27 a 29.)
15. A
Revue anuncia
para o mês de janeiro o
lançamento de uma
coletânea de poesias
mediúnicas recebidas
pelo Sr. Vavasseur, bem
como a impressão de um
desenho feito pelo Sr.
Bertrand, médium
escrevente integrante da
Sociedade Espírita de
Paris, que retratou
Allan Kardec. Esse
desenho foi posto à
venda no escritório da
Revue, fato que
levou o Codificador a
publicar uma nota
dizendo-se
“completamente estranho
a essa publicação, como
a de retratos editados
por vários fotógrafos”.
(Pág. 30.)
16. Três notícias fecham
o número de janeiro de
1867: I) O retorno à
circulação da Union
Spirite, de
Bordeaux, redigida pelo
Sr. A. Bez, a qual havia
sido interrompida por
causa de grave moléstia
que acometeu seu
diretor. II) A suspensão
da publicação do jornal
espírita italiano
Voce di Dio, em
razão das devastações
causadas pelo cólera na
cidade de Catânia. III)
A divulgação de um erro
cometido na publicação
da obra de J.B.
Roustaing, cuja
retificação este pede
que os leitores façam à
margem da página III do
3o. volume.
(Págs. 31 e 32.)
17. Na abertura do
número de fevereiro,
Kardec complementa
artigo publicado em
janeiro acerca do livre
pensamento e da livre
consciência. Segundo
ele, os livres
pensadores podiam ser
divididos em duas
classes distintas: os
incrédulos e os crentes.
Esmiuçando o assunto,
Kardec diz que, se for
feita a estatística de
todos os que perdem a
razão, se verá que o
maior número está
precisamente do lado dos
que não creem no futuro,
ou dele duvidam, e isto
pela razão bem simples
que a grande maioria dos
casos de loucura é
produzida pelo desespero
e pela falta de coragem
moral, coragem que faz
suportar as misérias da
vida, ao passo que a
certeza do futuro torna
menos amargas as
vicissitudes do
presente. (Págs. 33 e
34.)
18. Kardec relaciona, em
seguida, alguns erros
clamorosos cometidos por
homens ligados à
Ciência, o que prova que
esta não pode ser tida
como infalível em todas
as suas afirmativas,
visto que os homens
podem se enganar, como
se enganaram, por
exemplo, ao rejeitarem o
sistema de Fulton. Os
que negam a existência
de Deus porque não o
vemos, nem podemos
demonstrá-lo por uma
equação algébrica, se
esquecem de que a força
de gravitação também não
se pode ver e, no
entanto, todos a aceitam
por causa dos seus
efeitos.(Págs. 35 e
36.)
19. Desses efeitos
deduziu-se a causa, e
mais: calculando a força
dos efeitos, calculou-se
a força da causa, que
jamais foi vista. Dá-se
o mesmo com o Criador e
a vida espiritual, que
se julgam por seus
efeitos, segundo o
axioma: “Todo efeito tem
uma causa. Todo efeito
inteligente tem uma
causa inteligente. A
força da causa
inteligente está na
razão da grandeza do
efeito”. Crer em Deus e
na vida espiritual não
constitui, pois, uma
crença gratuita, mas um
resultado da observação,
tão positivo quanto o
que nos faz crer na
força da gravidade.
(Pág. 36.)
20. O Espiritismo não é,
como pensam alguns, uma
nova fé cega, que veio
substituir outra fé
cega, porque estabelece
como princípio que antes
de crer é preciso
compreender, e para
compreender é preciso
raciocinar. A Doutrina
Espírita não repousa em
nenhuma teoria
preconcebida ou
hipotética, mas na
experiência e na
observação dos fatos.
“Era urgente – observa
Kardec – estabelecer,
desde o princípio, o
Espiritismo no seu
verdadeiro terreno. A
teoria baseada na
experiência foi o freio
que impediu a
credulidade
supersticiosa tanto
quanto a malevolência de
o desviar de sua rota.”
(Págs. 39 e 40.)
21. Com o título de
As três filhas da Bíblia
o Sr. Hippolyte
Rodrigues publicou uma
obra em que prevê a
fusão das três grandes
religiões saídas da
Bíblia: a judia, a
católica e a maometana.
Comentando artigo sobre
referido livro inserido
no jornal Le Pays,
Kardec critica esta
frase escrita pelo autor
da matéria: “quando se
raciocina não se crê
mais”. O Espiritismo
prega exatamente o
contrário: quando se
raciocina crê-se mais
firmemente, porque se
compreende. Foi isso que
levou o codificador a
escrever que não há fé
inabalável senão aquela
que pode encarar a razão
face a face em todas as
épocas da Humanidade.
(Pág. 41.)
22. A
Revue transcreve
parte de uma carta
dirigida pelo padre
Lacordaire à sra.
Swetchine, datada de 29
de junho de 1853, na
qual o notável sacerdote
se refere às mesas
girantes e afirma que em
todos os tempos houve
modos mais ou menos
bizarros para se
comunicar com os
Espíritos; apenas se
fazia mistério desses
processos. “Hoje, graças
à liberdade dos cultos e
à publicidade universal,
o que era um segredo
tornou-se uma fórmula
popular”, escreveu
Lacordaire. (Págs. 43
e 44.)
23. O Monsenhor
Freyssinous, bispo de
Hermópolis, em suas
Conferences sur la
religion, publicadas
em 1825, também
entendia, como Kardec,
que “um demônio que
procura destruir o reino
do vício para
estabelecer o da
virtude, seria um
demônio estranho”. É por
isso – escreveu o bispo
– que Jesus, para
repelir a absurda
acusação que os judeus
lhe fizeram, lhes dizia:
“Se opero prodígios em
nome do demônio, então o
demônio está dividido
consigo mesmo; então
procura destruir-se”. Os
espíritas dizem a mesma
coisa aos que tacham as
práticas e as curas
espíritas de
envolvimento com o
demônio. (Pág. 45.)
24. A
doutrina espírita,
explica Kardec, não
admite poder rival ao de
Deus e menos, ainda,
pode admitir que um ser
decaído tenha recuperado
bastante poder para
contrabalançar os
desígnios do Pai. Para o
Espiritismo, Satã é
apenas a
personificação alegórica
do mal, como entre os
pagãos Saturno era a
personificação do tempo,
Marte a personificação
da guerra e Vênus a
personificação da
beleza. (Pág. 46.)
25. Vários jornais
franceses reproduziram
notícia publicada em a
Sentinelle
Toulonnaise, de
Toulon, sobre uma menina
de dois anos e onze
meses, chamada Eugénie
Colombe, que sabia ler e
escrever perfeitamente e
tinha, ainda,
conhecimentos sobre
religião cristã,
gramática francesa,
geografia, história e as
quatro operações de
aritmética. Um
correspondente da
Revue, oficial da
Marinha em Toulon,
confirmou a veracidade
do fato, que recebeu de
Kardec as explicações
que se seguem: I) A
precocidade de certas
crianças para as
línguas, a música e as
ciências em geral não
passa de lembranças. II)
A faculdade de recordar
é uma aptidão inerente
ao estado psicológico,
isto é, ao mais fácil
desprendimento da alma
em certos indivíduos do
que em outros. III) O
passado é como um sonho
do qual a gente se
lembra mais ou menos
exatamente, ou do qual
se perdeu totalmente a
lembrança. (Págs. 47
a 49.)
26. Concluindo o relato
pertinente à menina
Eugénie, a Revue
transcreve parte de uma
carta enviada por um
correspondente da
Argélia que de passagem
por Toulon também teve
contato com a criança e
sua mãe. “Esta criança –
diz a carta – certamente
é um Espírito muito
adiantado, porque se vê
que responde e cita sem
o menor esforço de
memória. Sua mãe me
disse que desde os 12 ou
15 meses ela sonha à
noite e parece
conversar, mas numa
língua que não permite
compreender. É caridosa
por instinto; atrai
sempre a atenção de sua
mãe, quando avista um
pobre; não suporta que
batam nos cães, nos
gatos, nem em qualquer
animal.” (Pág. 49.)
(Continua no próximo
número.)
(1)
Apoplexia
significa afecção
cerebral que se
manifesta
imprevistamente,
acompanhada de privação
dos sentidos e do
movimento, determinada
por lesão vascular
cerebral aguda
(hemorragia, embolia,
trombose), bem como
qualquer das afecções
resultantes da formação
rápida de um derrame
sanguíneo.