ÂNGELA MORAES
anjeramoraes@hotmail.com
Bauru, São Paulo
(Brasil)
Amar ao próximo
como
a si mesmo
“Fazei aos
homens tudo o
que queirais que
eles vos façam,
pois é nisto
que consistem a
lei e os
profetas.”
(Mateus, cap.
VII, vv.12.)
“Os efeitos da
lei de Amor são
o melhoramento
moral da raça
humana e a
felicidade
durante a vida
terrestre. Os
mais rebeldes e
os mais viciosos
se reformarão
quando
observarem os
benefícios
resultantes da
prática deste
preceito: Não
façais aos
outros o que não
quiserdes vos
façam:
fazei-lhes, ao
contrário, todo
o bem que vos
esteja ao
alcance
fazer-lhes.”
(O Evangelho
segundo o
Espiritismo,
cap. XI,
pág.188.)
Jaime, o que não
falava “eu te
amo”
Seu Jaime era
uma figura
esquisita. Não
que alguém
tivesse algo
contra ele,
muito pelo
contrário: era
uma ‘mosca
morta’. Não era
dado a falação,
nem entrava em
discussões de
qualquer tipo.
Raras pessoas
ousavam
imaginar,
inclusive, o que
se passava na
cabeça grisalha
de Seu Jaime.
Dona Cidália, a
companheira de
mais 40 anos de
casamento,
talvez fosse a
única.
Mas o fato é que
esse mutismo
todo do Seu
Jaime acabava
mesmo por
incomodar. Até
Dona Cidália,
nos primeiros
anos de
casamento,
julgava-se não
ser amada pelo
marido como
deveria. Ele não
dizia “eu te
amo”, como os
outros
cavalheiros.
Muito menos lhe
aparecia com
flores ou
presentes nas
datas especiais.
Jantar à luz de
velas só se
acabasse a
energia.
Os filhos também
reclamavam a
participação do
pai em seus
dramas infantis
ou juvenis,
queixando-se de
sua ausência.
Também nunca
ouviram dele a
frase “eu te
amo”, nem se
lembravam de
vê-lo girando ao
vento no parque
com eles, ou
ainda jogando-os
para cima em
desforrada
bagunça e
alegria geral.
Não Jaime. Ele
era sereno e
quieto.
Os pais de
Jaime, agora já
falecidos,
também se
queixavam do
jeito pouco
afeito a
expressões
sentimentais. A
mãe, carinhosa,
não se
conformava com
os modos
fechados e
esquivos do
filho, sempre
que intentava
abraçá-lo ou
beijá-lo, o que
fazia quase à
força, de modo a
extravasar seu
afeto.
O pai, um
cavalheiro
falante e bem
relacionado na
sociedade da
época, não
compreendia
porque seu filho
evitava os
bailes e as
maluquices
juvenis,
acabando por
criticá-lo
quando Jaime
escolheu Cidália,
seu primeiro
amor, e com ela
ficou por toda a
sua vida.
Assim
passaram-se os
anos. Seu Jaime
continuou o
mesmo, mas a
opinião de seus
familiares
mudou. Não mais
o julgavam
insensível,
deixaram de
esperar que ele
pronunciasse as
palavras ‘eu te
amo’,
aceitaram-no
como era. Por
quê?
Dona Cidália não
havia recebido
flores e
bombons, mas
sabia que o
marido lhe fora
o porto seguro
onde pôde chorar
suas dores e se
aconselhar,
quando se sentiu
perdida. Também
não podia deixar
de sentir-se
amada quando o
marido, sabendo
da preferência
da esposa pelo
seu velho
travesseiro
fofo, fazia
questão de
levá-lo nas
viagens da
família, mesmo
com o carro
lotado. E
também nas
muitas vezes que
ele lhe trazia
um quitute
qualquer de
alguma padaria
distante, por
onde houvesse
passado a
trabalho.
A filha, por sua
vez, não podia
deixar de notar
a preocupação
austera do seu
genitor em
relação aos seus
pretendentes. No
início não
gostava das
caras e bocas
que o velho
fazia, depois,
sentiu-se
absolutamente
segura com sua
interferência.
Também não podia
deixar de notar
que o pai lhe
lavava o carro –
sem que ela
pedisse – toda
vez que ia
visitá-los. E
não raras vezes,
encontrava
pedacinhos de
quitutes
‘guardados’ na
geladeira para
quando ela
viesse.
Com o filho não
foi diferente.
Sabia que o pai
nunca
pronunciaria as
palavras ‘eu te
amo’, mas era
impossível não
se lembrar do
seu primeiro
álbum de
figurinhas,
presenteado pelo
pai. Ou da
lágrima discreta
e muda que
enxugara quando
passou na
universidade.
Pelo dinheirinho
a mais que
aparecia
misteriosamente
em sua carteira,
cada vez que os
genitores o
visitavam no
Campus.
Assim era Seu
Jaime. Um homem
de poucas
palavras, mas
que, agindo com
capricho,
cuidado,
atenção,
paciência e
bondade, deixou
claro a todos o
quanto os havia
amado em toda a
sua vida. Seu
Jaime entendeu a
ligação entre as
palavras “AMAR”
e “FAZER”,
ensinada pelo
mestre Jesus, e
que resumia toda
a lei e os
profetas.