WILSON CZERSKI
wilsonczerski@brturbo.com.br
Curitiba, Paraná
(Brasil)
A transição
intelecto-moral
dos animais ao homem
Que os animais,
especialmente algumas
espécies, apresentam
rudimentos de
inteligência, não é
novidade. Disto temos
muitos exemplos. O
surpreendente é a
constatação de que
alguns deles possuem
algo como um certo senso
moral. A revelação está
numa matéria da
Revista Veja,
edição 2001, de 28 de
março de 2007, e tem
por base,
principalmente, o livro
“Primatas e Filósofos:
Como a Moralidade
Evoluiu”, do biólogo
holandês Frans de Waal.
Os chimpanzés não sabem
nadar, mas se arriscam
nos tanques dos
zoológicos na tentativa
de salvar seus
companheiros em apuros.
Os macacos rhesus
– de onde provém a
classificação sanguínea
em Rh + e negativo –,
experimentados na
situação de ter que
puxar uma corrente que
dava choques elétricos
nos vizinhos para obter
comida, preferiram
passar fome.
Destas e outras
observações resulta que
a moral e a ética
parecem não ser
exclusivas
do ser humano.
Segundo a filosofia,
elas são produto da
inteligência e da razão
e, em geral, têm-se os
animais como
irracionais. Mas há quem
pense que
na evolução de certas
espécies, as mais
próximas do homem
tenham-nas, na verdade,
já gravadas no próprio
DNA.
Na questão 593 de O
Livro dos Espíritos, os
benfeitores espirituais
esclarecem que nos
animais há mais do que
simplesmente instintos.
Há neles certa
inteligência incipiente
ou limitada. E para
não deixar dúvidas, na
597, informam que esta
inteligência capaz de,
em pequeno grau, atenuar
o determinismo
biológico, dando-lhes um
pouco de liberdade de
ação e expressão de
vontade íntima,
sobrevive ao corpo
físico. Não é, ainda,
propriamente, um
Espírito, alma humana
encarnada, mas o
princípio inteligente
que faz parte da cadeia
evolutiva referida na
questão 540 (do átomo ao
arcanjo).
Todos os seres animados
são destinados à
perfeição e todos partem
do mesmo ponto, mas nem
todos ao mesmo tempo,
porque Deus está sempre
criando. Hoje, milhões
ou bilhões já atingiram
esta perfeição relativa
e vivem em mundos mais
evoluídos. Outros
estão nos primeiros
estágios, talvez nos
vírus, nas amebas ou
outros elementos
desconhecidos nossos.
O homem está, por assim
dizer, no meio do
caminho. Já deixou para
trás – a maioria deles -
o primitivismo do puro
instinto, já desenvolveu
faculdades intelectuais
e morais, além do
sentimento. Muito ainda
há que percorrer e
melhorar para atingir os
níveis superiores.
Por sua vez os animais
estão um degrau abaixo.
São governados pelo
instinto, mas, nas
espécies superiores,
seu princípio
inteligente está próximo
do momento de receber a
oportunidade de
reencarnar como humanos
primitivos, quer
aqui na Terra ou em
outros planetas
apropriados.
Nesta fase final de
ciclo, ao atingir o
limiar da humanidade, já
possuem, além dos
rudimentos da
inteligência, esboços de
sentimentos peculiares
ao estágio seguinte.
Isto porque, embora
quase nunca o
aperfeiçoamento
intelectual seja
acompanhado pelo moral,
nem por isso ambos
deixem de representar as
vias mais
características de
progresso do espírito
humano. Numa
reencarnação, o
indivíduo pode se
destacar mais no campo
das ciências; na outra
pode optar ou ser
“conduzido” a trabalhar
mais as artes, o
humanismo, as emoções.
Então, nos animais, ao
mesmo tempo em que
percebemos, aqui ou
acolá, claras
manifestações de
inteligência “quase
humana”, é de se esperar
que também despontem
exteriorizações que
denotem um certo senso
ético, não só entre os
de sua espécie, como em
relação a outros animais
e ao próprio homem.
Quando vemos o papagaio
cinza do Congo
(Psittacus erithacus),
estudado na Universidade
do Arizona pela Dra.
Irene Maxine Pepperberg,
demonstrar capacidade
linguística de uma
criança de dois anos
e raciocínio para
solução de problemas
para o nível de uma
criança de quatro anos e
que reconhece cores,
domina conceitos
abstratos como
quantidade, dimensões e
posições de objetos,
trata-se,
indiscutivelmente, de
talento intelectual.
Mas quando presenciamos
cenas como as citadas em
Veja ou de uma
cadela amamentando um
porquinho, uma cobra
convivendo pacificamente
com um rato e outras
tantas variações e,
principalmente, quadros
comoventes envolvendo as
relações de certos
animais com os homens,
difícil duvidar de que
ali esteja presente
apenas um instinto cego.
Nem mesmo a domesticação
de exemplares selvagens,
o amestramento ou a
busca interesseira por
proteção e alimentos
explicam todas as
ocorrências.
Esta transição
animal-homem talvez
esteja representada
fisiologicamente no
número de conexões
neuroniais com que os
animais nascem. Nas
últimas décadas,
pesquisas levadas a
efeito pela neurociência
e a etologia (ciência do
comportamento)
evidenciam certa relação
na formação do sistema
nervoso dos animais, em
particular, do cérebro.
Os animais inferiores
nascem com número maior
de conexões entre os
neurônios.
Ou seja, apresentam
menor flexibilidade de
aprendizado.
Praticamente seu
comportamento futuro já
está ali selado, como
fruto de uma programação
prévia. Predominam
totalmente os instintos
da respectiva espécie.
São quase incapazes de
apresentar progressos
significativos durante a
vida.
Ao contrário, nos
animais superiores, o
número de conexões é
baixo e aumentará
gradativamente a partir
dos estímulos que
receber do ambiente
(natureza) e da
socialização com outros
indivíduos e com o
homem. No caso dos
répteis, 98% das
conexões do animal
adulto são as mesmas que
nos recém-nascidos,
enquanto que nos cães
este percentual cai para
75%. É o que poderíamos
chamar de novos espaços
cedidos ou conquistados
ao implacável
determinismo biológico
pelo livre-arbítrio
nascente e libertador
que desabrochará por
inteiro no futuro ser
humano.
Uma última reflexão.
Comparando várias
virtudes dos nossos
“irmãos menores”, no
dizer do mentor
Emmanuel, como
fidelidade, paciência,
dedicação, doçura,
desprendimento etc. e os
muitos vícios dos
humanos, com infeliz
destaque para a
violência que assola
nossos grandes centros
urbanos, fica a dúvida:
o que é preferível: os
animais “quase-humanos”
ou os homens
“quase-animais”?