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Crônicas e Artigos

Ano 4 - N° 177 - 26 de Setembro de 2010

WILSON CZERSKI
wilsonczerski@brturbo.com.br
Curitiba, Paraná (Brasil)
 

A transição intelecto-moral
dos animais ao homem


Que os animais, especialmente algumas espécies, apresentam rudimentos de inteligência, não é novidade. Disto temos muitos exemplos. O surpreendente é a constatação de que alguns deles possuem algo como um certo senso moral. A revelação está numa matéria da Revista Veja, edição 2001, de 28 de março de 2007, e tem por base, principalmente, o livro “Primatas e Filósofos: Como a Moralidade Evoluiu”, do biólogo holandês Frans de Waal.

Os chimpanzés não sabem nadar, mas se arriscam nos tanques dos zoológicos na tentativa de salvar seus companheiros em apuros. Os macacos rhesus – de onde provém a classificação sanguínea em Rh + e negativo –, experimentados na situação de ter que puxar uma corrente que dava choques elétricos nos vizinhos para obter comida, preferiram passar fome.

Destas e outras observações resulta que a moral e a ética parecem não ser exclusivas do ser humano. Segundo a filosofia, elas são produto da inteligência e da razão e, em geral, têm-se os animais como irracionais. Mas há quem pense que na evolução de certas espécies, as mais próximas do homem tenham-nas, na verdade, já gravadas no próprio DNA.

Na questão 593 de O Livro dos Espíritos, os benfeitores espirituais esclarecem que nos animais há mais do que simplesmente instintos. Há neles certa inteligência incipiente ou limitada. E para não deixar dúvidas, na 597, informam que esta inteligência capaz de, em pequeno grau, atenuar o determinismo biológico, dando-lhes um pouco de liberdade de ação e expressão de vontade íntima, sobrevive ao corpo físico. Não é, ainda, propriamente, um Espírito, alma humana encarnada, mas o princípio inteligente que faz parte da cadeia evolutiva referida na questão 540 (do átomo ao arcanjo).

Todos os seres animados são destinados à perfeição e todos partem do mesmo ponto, mas nem todos ao mesmo tempo, porque Deus está sempre criando. Hoje, milhões ou bilhões já atingiram esta perfeição relativa e vivem em mundos mais evoluídos. Outros estão nos primeiros estágios, talvez nos vírus, nas amebas ou outros elementos desconhecidos nossos. O homem está, por assim dizer, no meio do caminho. Já deixou para trás – a maioria deles - o primitivismo do puro instinto, já desenvolveu faculdades intelectuais e morais, além do sentimento. Muito ainda há que percorrer e melhorar para atingir os níveis superiores.

Por sua vez os animais estão um degrau abaixo. São governados pelo instinto, mas, nas espécies superiores, seu princípio inteligente está próximo do momento de receber a oportunidade de reencarnar como humanos primitivos, quer aqui na Terra ou em outros planetas apropriados.

Nesta fase final de ciclo, ao atingir o limiar da humanidade, já possuem, além dos rudimentos da inteligência, esboços de sentimentos peculiares ao estágio seguinte. Isto porque, embora quase nunca o aperfeiçoamento intelectual seja acompanhado pelo moral, nem por isso ambos deixem de representar as vias mais características de progresso do espírito humano. Numa reencarnação, o indivíduo pode se destacar mais no campo das ciências; na outra pode optar ou ser “conduzido” a trabalhar mais as artes, o humanismo, as emoções.

Então, nos animais, ao mesmo tempo em que percebemos, aqui ou acolá, claras manifestações de inteligência “quase humana”, é de se esperar que também despontem exteriorizações que denotem um certo senso ético, não só entre os de sua espécie, como em relação a outros animais e ao próprio homem.

Quando vemos o papagaio cinza do Congo (Psittacus erithacus), estudado na Universidade do Arizona pela Dra. Irene Maxine Pepperberg, demonstrar capacidade linguística de uma criança de dois anos e raciocínio para solução de problemas para o nível de uma criança de quatro anos e que reconhece cores, domina conceitos abstratos como quantidade, dimensões e posições de objetos, trata-se, indiscutivelmente, de talento intelectual.

Mas quando presenciamos cenas como as citadas em Veja ou de uma cadela amamentando um porquinho, uma cobra convivendo pacificamente com um rato e outras tantas variações e, principalmente, quadros comoventes envolvendo as relações de certos animais com os homens, difícil duvidar de que ali esteja presente apenas um instinto cego. Nem mesmo a domesticação de exemplares selvagens, o amestramento ou a busca interesseira por proteção e alimentos explicam todas as ocorrências.

Esta transição animal-homem talvez esteja representada fisiologicamente no número de conexões neuroniais com que os animais nascem. Nas últimas décadas, pesquisas levadas a efeito pela neurociência e a etologia (ciência do comportamento) evidenciam certa relação na formação do sistema nervoso dos animais, em particular, do cérebro.

Os animais inferiores nascem com número maior de conexões entre os neurônios. Ou seja, apresentam menor flexibilidade de aprendizado. Praticamente seu comportamento futuro já está ali selado, como fruto de uma programação prévia. Predominam totalmente os instintos da respectiva espécie. São quase incapazes de apresentar progressos significativos durante a vida.

Ao contrário, nos animais superiores, o número de conexões é baixo e aumentará gradativamente a partir dos estímulos que receber do ambiente (natureza) e da socialização com outros indivíduos e com o homem. No caso dos répteis, 98% das conexões do animal adulto são as mesmas que nos recém-nascidos, enquanto que nos cães este percentual cai para 75%. É o que poderíamos chamar de novos espaços cedidos ou conquistados ao implacável determinismo biológico pelo livre-arbítrio nascente e libertador que desabrochará por inteiro no futuro ser humano.

Uma última reflexão. Comparando várias virtudes dos nossos “irmãos menores”, no dizer do mentor Emmanuel, como fidelidade, paciência, dedicação, doçura, desprendimento etc. e os muitos vícios dos humanos, com infeliz destaque para a violência que assola nossos grandes centros urbanos, fica a dúvida: o que é preferível: os animais “quase-humanos” ou os homens “quase-animais”?


 


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O Consolador
 Revista Semanal de Divulgação Espírita