Adeus
Francisca Júlia da Silva
Na agonia da luz o
astro-rei purpurina...
Leves tarjas de noite a
manchar o horizonte...
Uma estrela a piscar
remove a névoa fina
E espelha-se, feliz, no
regato defronte...
Soluça um pombo além e
se alteia e se inclina
E voa sem que o Sol novo
rumo lhe aponte...
Humilde rola chora a
gemer na campina,
Alheia ao prado em flor
e à carícia da fonte...
Chega a sombra afinal...
Aparece a tristeza
No arrulho que ficou por
gemidos em bando,
Quais cordas a estalar
numa lira retesa...
Assim, num dia assim, a
morrer sem alarde,
Chorando eu disse adeus
e ele partiu chorando,
A renascer na Terra onde
estarei mais tarde...
Francisca Júlia da
Silva, que foi
considerada a maior
poetisa parnasiana do
Brasil, nasceu em
Xiririca, atual
Eldorado, Estado de S.
Paulo, em 31 de agosto
de 1871 ou 1874, e
desencarnou em São
Paulo-SP em 1º de
novembro de 1920. O
soneto acima integra o
livro Antologia dos
Imortais, obra
psicografada pelos
médiuns Francisco
Cândido Xavier e Waldo
Vieira.