ALTAMIRANDO
CARNEIRO
alta_carneiro@uol.com.br
São Paulo, SP
(Brasil)
A eterna
problemática do ser
Já tínhamos nos
esquecido dessa
história, quando a Rede
Globo, em um dos seus
jornais, mostrou-a
rapidamente, numa das
matérias produzidas pela
sua afiliada de
Salvador: um tratorista,
ao posicionar a máquina
para a derrubada de uma
casa, a fim de que
fosse feita a integração
de posse de um terreno,
não conseguiu fazê-lo.
O ato, por certo, cortou
o seu coração. Como
derrubar a casa de uma
família, que a construiu com
tantos sacrifícios?
Afinal, isso poderia ter
acontecido com ele
próprio, com a sua casa,
com os seus familiares.
Não somos todos irmãos,
perante Deus? Como
iremos comparecer
perante o tribunal
divino carregando na
consciência o peso de
que nossas mãos que
afagaram foram as mesmas
que apedrejaram, como
diz o poema de Augusto
dos Anjos, no soneto Versos
Íntimos?
O ideal seria que
tivéssemos uma sociedade
igualitária, onde todos
vivessem igualmente
felizes e ricamente
completos. Mas isso não
é possível, num mundo de
expiações e provas. Mas
podemos, pelo nosso bom
proceder, pelas boas
sementes que plantarmos,
pelos caminhos que
trilharmos na senda do
bem, fazermos da Terra
um mundo cada vez
melhor.
Assim, nos
capacitaremos a passar
para um mundo de
regeneração, que será a
condição futura da
Terra. E de passo a
passo, quando menos
esperarmos, estaremos em
um mundo em que somente
reine a concórdia, a
paz, a união. Já
pensou, caro leitor,
estar em um mundo onde
nem se precise de
dinheiro, pois a palavra
é que vale?
"Utopia" - dirão alguns;
"Se isso acontecer, eu
não serei mais eu" -
dirão outros. É certo
que isso vai acontecer
em nossa trajetória de
Espíritos eternos. Não
teremos mais o corpo com
que apresentamos hoje,
mas estaremos presentes,
nos palcos dos
acontecimentos, com o
mesmo Espírito que nos
anima hoje. Não é
maravilhoso? Lembra-nos
a comunicação de um
Espírito, que em uma
sessão mediúnica saiu-se
com esta pérola: "Se eu
soubesse, quando estava
encarnado, que morrer é
tão bom, eu teria
morrido antes!"
Pois tudo é vida, tudo é
renovação. Ainda
encarnado, o príncipe
dos poetas brasileiros,
Olavo Bilac, compreendeu
esta verdade e a
apresentou no soneto
Microcosmo, que
vale a pena recordar:
Pensando e
amando, em turbilhões
fecundos
És tudo:
oceanos, rios e
florestas;
Vidas brotando
em solidões funestas;
Primaveras de
invernos moribundos;
A Terra; e
terras de ouro em céus
profundos,
Cheias de raças
e cidades, estas
Em luto, aquelas
em raiar de festas;
Outras almas
vibrando em outros
mundos;
E outras formas
de línguas e de povos;
E as nebulosas,
gêneses imensas,
Fervendo em
sementeiras de astros
novos;
E todo o cosmos
em perpétuas flamas...
- Homem! És o
universo, porque pensas,
E, pequenino e
fraco, és Deus, porque
amas!
Somos luzes. Nossos
Espíritos, viajores
eternos, nunca pararam,
em meio do caminho.
Começamos nossa marcha
nos mundos primitivos,
hoje estamos no período
importantíssimo dessa
jornada, pois estamos
encarnados em pleno
século da fé
raciocinada, visto que,
já no século 19, Allan
Kardec dizia que a fé
cega já não era mais
daquele século.
Como disse o Espírito
Augusto dos Anjos, em
versos registrados no
livro Parnaso
de Além Túmulo, psicografado
por Francisco Cândido
Xavier (FEB),
em Vozes
de uma sombra:
"E apesar da teoria
mais abstrusa / Dessa
ciência inicial,
confusa, / A que se
acolhem míseros ateus, /
Caminharás lutando além
da cova, / Para a Vida
que eterna se renova, /
Buscando as perfeições
do Amor em Deus".
Diz Cairbar Schutel, no
livro Parábolas
e ensinos de Jesus (O
Clarim) -
Reencarnação ou
pluralidade das
existências corporais: "O
Espírito é semelhante a
um operário que empreita
uma obra, e o corpo é o
instrumento que ele usa
para executar o serviço.
Quando perde ou quebra a
ferramenta, o operário
adquire outra ou outras,
até executar a obra; o
Espírito, quando o corpo
morre, toma outro corpo,
ou outros corpos, tantos
quantos sejam
necessários para
terminar a tarefa. O
Supremo Artífice do
Universo dá a seus
operários tantos
instrumentos, tantos
corpos quantos sejam
necessários para que
eles cumpram suas
missões".
Créditos, pois, à
Doutrina Espírita, que
explica com clareza a
reencarnação, que é uma
lei da Natureza. E como
diz, ainda, Cairbar
Schutel: "um corpo sem
alma é morto; uma
religião sem
imortalidade é cadáver
embalsamado, que hoje ou
amanhã será inumado".